Tem soja na várzea
A rotação com a oleaginosa pode conduzir à melhor sustentabilidade para a cadeia produtiva do arroz
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Mais do que uma alternativa para o excedente, a rotação com a soja pode conduzir à melhor sustentabilidade para a cadeia do arroz. Pesquisas realizadas pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) mostram que a cultura da soja é uma boa alternativa de rotação na várzea, trazendo benefícios como o controle do arroz vermelho e melhora da condição de fertilidade e estrutura de solo, desde que sejam seguidas as orientações técnicas a fim de superar os gargalos da implantação e estabelecimento da referida cultura.
A pesquisadora em melhoramento genético do Irga, Cláudia Lange, informa que o instituto vem trabalhando desde 2004 com uma linha de pesquisa específica voltada ao cultivo de soja na várzea. “Na primeira fase do trabalho, buscamos identificar variedades que se adaptassem ao excesso hídrico. Na segunda fase, partimos para a identificação de genótipos menos sensíveis para iniciar a rotação. Há dois anos iniciamos uma linha de manejo que consiste basicamente em adaptar a várzea à soja”, relata.
Cláudia observa que a soja também pode ser uma alternativa econômica para os produtores pressionados pelos preços baixos, mas ressalta que estes precisam estar preparados para o desafio de plantar uma cultura de manejo mais complicado que o arroz: “A soja pertence à outra família, é diferente do arroz, que é uma planta mais rústica. Há uma série de fatores a serem levados em conta, como o tipo de solo, a umidade, a questão do manejo, dos insumos; tem a questão do solo, da umidade do solo. Outro desafio é a parte fitossanitária. Como a soja é uma planta mais resistente ao glifosato, é preciso ter cuidado para aplicar doses excessivas do produto”, recomenda.
LONGO PRAZO
A pesquisa do Irga mostra que a rotação com a soja traz benefícios para a cultura do arroz a médio e longo prazo, e que também pode contribuir para a sustentabilidade econômica da propriedade, com mais uma fonte de renda, cuja liquidez é melhor. Muitos produtores já aprovaram o sistema e projetam reduzir a área plantada com arroz na próxima safra para dar espaço à oleaginosa. O produtor de Tapes (RS) Joarez Petry de Souza informa que esta é uma tendência muito forte em sua região em razão da forte incidência de arroz vermelho. “Eu mesmo, que cultivo 1.100 hectares de lavoura com arroz, vou destinar 650 hectares para a soja”, afirma.
De acordo com Petry, a soja já chegou a ser cultivada na região de Tapes no final dos anos 70 e início da década de 80. “A diferença em relação àquela época é que agora os produtores estão buscando qualificação. O Sindicato Rural de Tapes solicitou ao Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) para que fossem ministrados cursos específicos para o cultivo de soja na várzea no município. Dois destes cursos já foram realizados no mês de outubro, com a qualificação de 25 produtores”, informa o produtor.