Preço causa desacordo entre produtor de arroz e governo
O aumento de preço ocorre mesmo no período de fim da colheita da safra de arroz.
Na quinta-feira, 9, o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Neri Geller, assinalou que haveria possibilidade de uso do estoque público de pouco mais de 1 milhão de toneladas quando o preço ultrapassasse a marca dos R$ 32 ou R$ 34. No mesmo dia, a saca do grão foi cotada em R$ 33,19.
O analista de mercado da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) Sérgio Gomes, órgão do Ministério da Agricultura, afirmou ao DCI que o governo ainda não fechou o valor máximo para intervenção em R$ 32 , mas que, acima deste, valor o governo vai "começar a acompanhar de forma mais atenta". "Caso seja necessário, o governo vai intervir", assegurou Gomes.
Fim da colheita
O aumento de preço ocorre mesmo no período de fim da colheita da safra de arroz, que neste ano será de 11,9 milhões de toneladas, segundo a Conab, ou 3% a mais do volume colhido no ano passado. O Rio Grande do Sul (RS), maior estado produtor, colherá pouco mais de 8 milhões de toneladas, 500 mil a mais do que no ano passado. Até 3 de maio, o Instituto Riograndense de Arroz (Irga) estimava que 97,54% da área plantada no estado já havia sido colhida.
Para o técnico da Conab, a colheita do arroz teve pouco impacto sobre o preço porque o mercado tem segurado a oferta. "Com o período de colheita, houve uma pressão de baixa nos preços, mas não foi tão relevante quanto era esperado", assinalou. Para o analista, essa acumulação de estoque está sendo feita pelo mercado em busca de melhores preços no entressafra. Entre meados de março, um mês após o início da colheita, e a última semana de abril, o preço da saca chegou a ficar abaixo dos R$ 32, mas o preço voltou a subir desde então.
O presidente do Irga, Cláudio Pereira, disse que o instituto gaúcho tem recomendado aos produtores a iniciarem a venda de forma parcelada para evitar que o preço suba muito. Ele acredita que o preço estabelecido nos níveis atuais, em torno de R$ 33, remunera o produtor e não impacta na inflação.
Porém, o rizicultor José Carlos Gross, de Camaquã, no leste gaúcho, acha que preço ainda está insuficiente. "O produtor precisa ter renda para pagar suas contas e o preço abaixo de R$ 35 não remunera", reclamou. Ele ressalta que somente agora os preços estão entrando em um patamar razoável para garantir ao menos a cobertura dos custos dos produtores do setor, principalmente com bombeamento de água e irrigação. No caso de Gross, ele ainda tem que pagar o proprietário dos 230 hectares que arrenda. "Nós trabalhamos no ano passado e no ano retrasado no vermelho", ressaltou o produtor.
Gross, que integra a direção da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado do Rio Grande do Sul (Federarroz), negou que os produtores estejam segurando a safra nos estoques em excesso. "O estoque de arroz do País está ajustado para o que o País necessita. A indústria não está conseguindo nos explorar baixando o preço do arroz, porque os estoques estão ajustados", afirmou. Ele calcula que, somado os estoques privados ao do governo, o País tem entre 1,2 milhões e 1,3 milhões de toneladas. Os últimos dados que a Conab disponibiliza sobre os estoques públicos são de dezembro do ano passado, que precisam um volume de 1.065.147 toneladas.
Para Cláudio Pereira, do Irga, ainda é cedo para uma ação do governo para regular os preços. "Estamos terminando a colheita, os produtores ainda têm que vender o arroz para pagar dívidas com o setor bancário, o que vai pressionar o preço a não se elevar", sinalizou. Ele defende uma espera de 30 dias antes da liberação dos estoques públicos. "Parece prematuro e precipitado o governo fazer esse tipo de ação, que pode derrubar o mercado" com excesso de oferta, observou.