Ainda é cedo para avaliar o impacto da brusone
A brusone é causada pelo fungo magnaporthe oryzae sin.: pyricularia oryzae e é a principal doença na cultura do arroz no mundo inteiro. Isso é devido ao seu alto potencial destrutivo (em anos epidêmicos, os danos são maiores de 80%) e também pelo fato de que esta doença pode ocorrer em todas as fases de desenvolvimento da cultura e em todas as partes da planta, como folhas, colmos, grãos e panículas.
Nas folhas, os sintomas típicos iniciam-se por pequenos pontos de coloração castanha, que evoluem para manchas alongadas, com extremidades agudas, na forma de um “olho”, as quais, quando isoladas e completamente desenvolvidas, variam de um a dois centímetros de comprimento por 0,3 a 0,5 centímetros de largura. Estas manchas crescem no sentido das nervuras, apresentando centro cinza e bordas marrom-avermelhadas, às vezes circundadas por um halo amarelo.
As formas e o tamanho das lesões dependem muito das condições climáticas, da idade das lesões e do grau de suscetibilidade das cultivares. Nas cultivares muito suscetíveis, as manchas podem aparecer em maior número, unidas entre si, causando a morte de todo o tecido da folha e, até mesmo, da planta quando jovem e sob condições ecológicas favoráveis (figura 2a e 2b). Nos colmos, as lesões de brusone são localizadas na região dos nós, geralmente na fase adulta da planta, aparecendo facilmente nas cultivares suscetíveis.
Nas panículas, a doença pode atingir os ráquis, as ramificações e o nó basal. As manchas encontradas nos ráquis e nas ramificações são marrons e, normalmente, não apresentam forma definida; os grãos originados destas ramificações são chochos. O sintoma expressa-se na forma de uma lesão que circunda a região nodal, causando seu estrangulamento. Quando as panículas são atacadas imediatamente após a emissão até a fase de grão leitoso, a doença pode provocar o chochamento total dos grãos. As panículas apresentam-se esbranquiçadas e eriçadas, sendo facilmente identificadas no campo. Quando as panículas são infectadas tardiamente, há redução no peso dos grãos (chochamento parcial) e, às vezes, quebra da panícula na região afetada, caracterizando o sintoma conhecido por “pescoço quebrado”.
Embora a doença possa ocorrer em todas as fases de desenvolvimento das plantas, essas possuem maior suscetibilidade quando se encontram com três a quatro folhas e na floração. Porém, para que ocorra incidência, é necessário ter condições climáticas favoráveis. Tem sido verificado que, sob condições de clima temperado, como acontece no RS, os danos são maiores na floração (janeiro a março), pois é nesse período que ocorrem condições climáticas favoráveis e pelo aumento do inóculo.
Alguns fatores do ambiente podem influenciar o desenvolvimento do fungo. A temperatura ótima para esporulação está em torno de 28º C, embora possa ocorrer esporulação desde 10ºC até 35ºC. A doença é favorecida pelas condições de umidade acima de 90%, principalmente durante a manhã, e quanto menor for o número de horas diárias de sol, maiores serão as probabilidades do ataque do fungo.
A principal forma de controle da doença é com o uso de variedades resistentes. Esse é o fundamento básico para o manejo de brusone no Brasil e em todas as regiões produtoras de arroz do mundo. Outra alternativa é o uso de fungicidas. Nesse caso, tanto a escolha do produto correto como o momento da aplicação são extremamente necessários para atingir um controle satisfatório. O fungicida triciclazol é o mais indicado para o controle específico de fungo em questão. Misturas de triazóis, estrobilurinas ou outros grupos químicos podem também ser eficientes em aplicações preventivas, antes da infecção.
O momento da aplicação é outro fator relevante. Para controle de brusone na folha, recomenda-se o uso de fungicida logo nos primeiros sintomas visíveis. Já para controle de brusone na panícula, o melhor momento da aplicação é durante o estágio de emborrachamento, momento anterior à emissão da mesma e da ocorrência dos danos.
O controle da brusone deve ser realizado integrando medidas que dificultem o aparecimento da doença e a sua progressão na lavoura, como métodos culturais, resistência varietal e controle químico (fungicidas). Entre as medidas recomendadas, destacam-se as seguintes:
a) A sistematização da lavoura e a irrigação contínua entre o período de 10 dias da emergência até 15 dias após a floração diminuem a sua incidência;
b) O uso de sementes de boa qualidade fisiológica e fitossanitária;
c) A semeadura de cultivares resistentes ou tolerantes, em épocas recomendadas, evitando-se sempre que possível a semeadura muito tardia;
d) O controle de plantas daninhas (hospedeiras do fungo);
e) A adubação equilibrada, para não provocar um crescimento vegetativo muito vigoroso das plantas;
f) A destruição de restos culturais, que podem disseminar o fungo de um ano para o outro;
g) O tratamento de sementes com fungicidas sistêmicos pode controlar a brusone das folhas, com efeito, variando de 25 a 50 dias após a semeadura. A idade da planta mais sensível à brusone das folhas é entre os estágios V1 a V8 (início e final do perfilhamento, respectivamente). Após este período, as folhas adquirem resistência e a doença não causa danos significativos;
h) O controle químico na parte aérea: os melhores resultados são alcançados com aplicações preventivas, principalmente em locais com histórico da doença ou sob condições favoráveis de clima. A aplicação de fungicidas no final do emborrachamento pode ser economicamente viável, já que a eficiência do fungicida é relacionada com o momento de aplicação.
Resultados de pesquisas realizadas pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) mostraram que algumas práticas de manejo integradas como o uso de cultivares resistentes (por exemplo, Irga 423 e Irga 424) e época de semeadura podem reduzir as perdas ocasionadas pela brusone. Quanto à produtividade, os resultados revelam que o rendimento de grãos é afetado negativamente, a medida que se atrasa a data de semeadura. O baixo rendimento observado nas épocas de semeaduras tardias não deve ser atribuído somente à maior severidade de brusone. Contribuem também para isso a redução da radiação solar e a ocorrência de temperaturas menos favoráveis para a obtenção de altos rendimentos.
A rotação de culturas com soja e milho poderá ter algum efeito contra a brusone na medida em que esta prática de rotação elimina gramíneas invasoras que também são hospedeiras de brusone. Entretanto, sabe-se que os esporos de m. oryzae são amplamente disseminados pelo vento, podendo vir de lavouras vizinhas.
Ainda é cedo para avaliar o impacto da brusone, pois a colheita ainda não terminou (70% da área colhida) e os resultados estão sendo levantados. Os produtores, no entanto, devem estar atentos para o emprego correto do conjunto das práticas recomendadas pela pesquisa para evitar a incidência de doenças importantes como a brusone. Os resultados de pesquisas realizadas pelo Irga durante vários anos mostram que a associação de variedades resistentes ou tolerantes, corretas práticas de manejo e fungicidas aspergidos no momento correto reduzem significativamente os danos ocasionados pela doença.
Felipe de Oliveira Matzenbacher e Gustavo R. Daltrozo Funck
Pesquisadores do Instituto
Rio Grandense do Arroz (Irga)