Menos do que parece
Cadeia produtiva projeta queda maior do que a Conab prevê para a
safra em Santa Catarina.
Segundo maior estado produtor de arroz do Brasil, Santa Catarina deve concluir na primeira semana de junho a sua colheita com a soca na Região Norte. O rebrote das plantas deve somar 23 mil toneladas, com média de 2 mil quilos por hectare. O volume será fundamental para amenizar as perdas que os produtores consideram ser bem superiores à previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A empresa indica a redução de 1,3%, 1% em produtividade e 0,3% em área. No total, prevê que o estado colha 1,043 milhão de toneladas, ante 1,057 milhão em 2014/15. A produtividade será 7.078 quilos por hectare em área total de 147,4 mil hectares. Na safra anterior foram semeados 500 hectares a mais e o rendimento médio foi de 7.150 quilos por hectare.
Segundo a Conab, o clima para o plantio foi favorável graças a um “veranico” que antecipou a semeadura do arroz em muitas lavouras no final de agosto e início de setembro. Mas em novembro e dezembro chuvas acima da média atrapalharam e orizicultores que formaram estandes tardios precisaram replantar, aumentando os custos de produção. O setor vê com cautela os números oficiais.
Orlando Giovanella, presidente da Associação dos Rizicultores do Litoral Norte Catarinense e da Cooperativa Juriti, de Massaranduba (SC), empresa que também tem unidades industriais em Jaraguá do Sul e Santo Antônio da Patrulha (RS), aponta perdas no Vale do Rio Itapocu entre 15% e 20%. Ele acredita que em sua cooperativa deixarão de ingressar de 200 a 300 mil sacas de arroz dos 760 associados distribuídos em 23 municípios. A perda pode chegar a R$ 12 milhões, considerando preço médio de R$ 40,00 no início de maio.
Na região, a implantação das lavouras foi afetada pelo excesso de calor e a floração por grandes quantidades de chuva. “A combinação indesejável do clima atrapalhou o enchimento dos grãos. Apesar de muitas lavouras atingidas parecerem bem uniformes antes da colheita, após a operação o resultado era frustrante, pois se identificava muitos grãos falhados”, assegura. Para Giovanella, a queda produtiva terá reflexos no mercado, mas sem riscos ao desabastecimento. “Os preços do arroz se mantêm entre R$ 9,00 e R$ 12,00 nos supermercados há cinco anos (para o pacote de cinco quilos). Uma alta de 10% a 20% não fará muita diferença no bolso do consumidor”, considera.
Já na vizinha Guaramirim, as chuvas intensas em outubro e novembro pegaram as lavouras do cedo em floração, causando perdas parciais em ao menos 30% dos 6,4 mil hectares cultivados. “Houve muitos grãos quebrados, o que afeta a qualidade do arroz e, por consequência, os preços”, revela Zelita Gomes, extensionista da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri). Ainda sem contar a ressoca, os produtores de Guaramirim colheram entre 100 e 120 sacas de arroz em média, contra 167 sacas na temporada anterior e 170 sacas por hectare no ciclo 2013/14.
Os prejuízos das lavouras catarinenses foram objeto de discussão em diversas instâncias – de associações de municípios e de vereadores e de entidades do comércio e indústria, setoriais e políticas -, resultando em documentos enviados ao Ministério da Agricultura, ao governo do estado e ao Fórum Parlamentar Catarinense em busca de amparo ao orizicultor da região. No dia 15 de junho a Epagri promoverá o Seminário Regional de Avaliação de Safra, em Massaranduba, para divulgar os números finais da colheita já levando em conta o rebrote.