Prejuízos múltiplos

Além das perdas diretas,
doença aumenta os custos
e impacta o meio ambiente
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 De acordo com a estimativa do Irga, na safra 2014/15 foram cultivados em torno de 1,12 milhões de hectares de arroz irrigado no estado do Rio Grande do Sul (RS), e o que chamou mais atenção foi que em 96% destas áreas foi realizada pelo menos uma aplicação de fungicidas para o controle de doenças, principalmente a brusone, ressalta. “Em alguns casos chegou até cinco aplicações por ciclo da cultura, fato que onera muito os custos de produção e prejudica principalmente a saúde humana e o meio ambiente”, segundo Cláudio Ogoshi, fitopatologista da Estação Experimental do Arroz do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) em Cachoeirinha (RS).

Ele lembra que em 2010 apenas em 20% das áreas orizícolas eram aplicados fungicidas, principalmente por aqueles produtores que visavam altos rendimentos e para o controle de doenças do final de ciclo. “Na média, o custo de uma aplicação de fungicida visando o controle da brusone é em torno de R$ 130,00 por hectare”. Segundo Ogoshi, não há um levantamento percentual das áreas afetadas no estado, mas isso aumentou com a introdução de cultivares suscetíveis no Rio Grande do Sul, principalmente aquelas que apresentam a tecnologia Clearfield. “Pode-se considerar que perto de 70% da área cultivada com arroz no Rio Grande do Sul na safra 2014/15 teve problema com brusone, já que mais de 70% da área foi cultivada com variedades suscetíveis”, ressalta.

O principal motivo da utilização destes genótipos suscetíveis é principalmente devido ao uso de cultivares com tolerância a herbicidas tecnologia Clearfield®, que é muito importante no manejo do arroz vermelho e também por apresentar melhor qualidade de grão, explica o fitopatologista. Segundo ele, o programa de melhoramento genético do Irga aumenta seus esforços em desenvolver cultivares resistentes a herbicidas não seletivos à cultura com alta qualidade e grão e, principalmente, resistentes à brusone.

O diretor técnico do Irga, Maurício Miguel Fischer, destaca que há pouco mais de cinco anos o setor arrozeiro se orgulhava de ter um uso de fungicidas restrito a menos de 20% das áreas cultivadas. “Hoje a situação é outra. Praticamente todas as lavouras usam, e algumas realizam bem mais do que uma aplicação”, revela. Segundo ele, a preocupação é tripla: as perdas produtivas por ação da doença, o custo de produção que aumenta e o impacto ambiental. “Daí esse esforço em busca de uma ferramenta genética que pelo menos reduza a dimensão do problema”, acrescenta.

QUESTÃO BÁSICA
O economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antonio da Luz, destaca que o investimento com fungicidas por hectare, atualizado para abril de 2016, dentro da composição do custo de produção de arroz alcança R$ 149,63. Isso equivale a 2,58% do custo operacional de produção de uma lavoura. Em abril de 2011, isto é, há cinco anos, o valor era de R$ 33,39 e equivalia 1,11% do custo operacional. Portanto, com o boom das variedades suscetíveis na lavoura gaúcha de arroz, o custo com fungicidas cresceu nominalmente 348%. “O fungicida tornou-se um componente importante na formação dos custos da lavoura”, confirma Luz.

PARA SABER MAIS
– A brusone é a doença mais importante do arroz
– Os primeiros registros sobre sua ocorrência datam de 1600 e foram feitos na China
– O termo é adaptado do italiano “bruzone”
– Na Europa, a doença é conhecida de longa data. Foi relatada na Itália em 1828
– Em inglês é chamada de “blast” em razão da queima das folhas quando ocorre de modo severo
-A distribuição da doença é ampla, sendo encontrada em quase todas as regiões de cultivo em escala comercial
– As perdas são variáveis em função da variedade cultivada e dos fatores climáticos prevalecentes nas áreas de cultivo
– No Brasil, dados revelam perdas no peso de grãos da ordem de 8-14%, enquanto índices de 19-55% de espiguetas vazias foram observados em experimentos conduzidos em condições de campo

Fonte: Embrapa

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