A encruzilhada da lavoura arrozeira… e o mercado na encruzilhada

 O Rio Grande do Sul representa mais de 70% da produção de arroz no Brasil. Apesar desta supremacia, essa cadeia produtiva não é capaz de formatar preço, residindo aí um dos grandes problemas do setor (Ganha x Ganha). O produtor, boa parte arrendatário, sem acesso a crédito oficial, descapitalizado e sem estrutura de armazenagem, se obriga a colocar o arroz a depósito na indústria. Muitos são por ela financiados a juros de 2 a 3% ao mês. E liquidam a operação em produto, sem valor fixado, no pico da safra… ESTRATÉGIA SUICIDA!

O arrozeiro gaúcho possui alta vocação para produzir, uma das maiores produtividades do mundo, porém tem uma matriz de comercialização trágica, na qual é dono mas não tem o seu domínio do grão (a depósito). Com a indústria altamente oligopolizada (20 indústrias controlam quase 70% do mercado) como o varejo, ele se torna o ELO mais FRÁGIL da cadeia. A harmonia e a unicidade entre as três entidades do setor na busca de soluções é vital para o fortalecimento do rizicultor.

Há alta relevância do custo de produção. Apesar de se tratar de um alimento da cesta básica (e barato), o arroz tem elevado custo por hectare, surpreendentemente o mais alto de todas as culturas (R$ 7 mil => R$ 44,00/saca), apresentando alto giro financeiro para uma rentabilidade baixa ou com prejuízo, onde a escala de produção passa a ser relevante. O sistemático uso da monocultura e do monossistema e o aparecimento de plantas invasoras resistentes e doenças estão reduzindo a produtividade e a qualidade, encarecendo os custos e tornando muitas áreas inviáveis ou de alto risco.

O setor arrozeiro, na essência, é dirigido para a PRODUÇÃO e não ao MERCADO. O rizicultor é voltado mais à PRODUÇÃO do que à GESTÃO (estratégia, controle de custos, fluxo financeiro, planejamento); a pesquisa é voltada à PRODUTIVIDADE; a indústria, à COMPETITIVIDADE (a qualquer custo). E o MARKETING? Onde a falta de conhecimento das qualidades funcionais (prevenção de doenças) e nutritivas do grão (que não contém GLÚTEN) pela maioria dos consumidores por desinformação é uma dura realidade. ARROZ: ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL, sim senhor!

Plantar por plantar, arrozeiros disputando qualquer área para arrendamento independentemente de crise, do risco, do custo, do preço e do mercado do produto… ATITUDE a ser REPENSADA.
A exportação, incorporada ao fluxo comercial desde 2005, deu um up à comercialização, colocando o país entre os 10 players mundiais, e permitiu a AMPLIAÇÃO DA DEMANDA e um PISO de preço (US$ 12) doméstico. A inserção da soja nas várzeas, apesar dos riscos, permitiu diversificar as atividades e evitar a exclusiva e intensa monocultura do cereal. A integração lavoura-pecuária se tornou diferencial no campo, pois reduz riscos, otimiza os meios e potencializa resultados dentro desse quadro hostil ao arrozeiro.

No cenário atual, o quadro de oferta e demanda indica relativo equilíbrio. Os estoques iniciais do ciclo atual eram baixos, 440 mil toneladas, o que causou escassez de produto na entressafra. Com a entrada da safra – o Rio Grande do Sul produziu em torno de 8,8 milhões de toneladas (o Brasil, 12,3 milhões de toneladas, pouco acima do consumo) – os preços sucumbiram com forte pressão baixista e especulativa resultante do excesso de oferta dos produtores comprometidos com liquidações com a indústria e fornecedores. Após esse período (15/05) os preços apresentaram gradual e lenta recuperação e, em julho, enfraquecimento devido à sazonalidade (férias) e vencimento de custeio. Mas a projeção de estoques finais em torno de 1 milhão de toneladas indica tendência de preços mais firmes no segundo semestre desde que a balança comercial mantenha equilíbrio, o que não houve no primeiro quadrimestre, com déficit de 235 mil toneladas.

A concentração do grão nas mãos de produtores capitalizados, forte recuperação dos preços internacionais, liberação de recursos para custeio, volatilidade cambial (?), adiamento dos custeios que venciam em julho e agosto e a provável retração na área plantada na próxima safra (?), com baixa disponibilidade de produto nobre no mercado, são fatores que devem afetar a relação entre oferta e demanda, permitindo, sazonalmente, a alta dos preços nesta entressafra.

MARCO AURÉLIO MARQUES TAVARES
PRODUTOR RURAL E ADMINISTRADOR DE EMPRESAS

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter