Treichel: de colono de tamancos a conselheiro de ministro
O título de colono carrega a autodefinição de Alfredo Albino Treichel, levado há pouco para a convivência do Senhor dos Mundos (29/06/1931 – 21/02/2018).
Nascido e criado no campo, Treichel experimentou vitórias e agruras dessa “indústria a céu aberto”.
Como dirigente e um dos pioneiros do arroz, recebeu o reconhecimento de seus pares, galgando a presidência do Sindarroz-RS, inicialmente centrado na sua Cachoeira do Sul, onde recebeu todas as condecorações existentes.
O COLONO CHEGA À FAO
Trocando o tamanco pela gravata, figurou no cenário internacional em missões comerciais à Alemanha e à FAO (Roma) representando o Brasil a convite do ministro Delfin Neto.
Da Europa trouxe inovações que permitiram avanços à agroindústria nacional e ao seu próprio engenho.
Trouxe também a convicção da necessidade de economia de escala para a exportação de arroz, principalmente do parboilizado, cujo resultado foi a criação da Associação Brasileira de Indústrias de Arroz Parboilizado (Abiap), em 1986.
UM MECENAS DO ARROZ PARBOILIZADO
Com os associados da Abiap motivou Cientec, Embrapa e Ufpel (LabGrãos) a pesquisas, internalizadas no processo produtivo em trabalhos de extensão e seis encontros internacionais (Pelotas e Porto Alegre), assim como na geração de três dos quatro livros existentes no mundo sobre tecnologia da parboilização.
Essas ações serviram de lastro para o aumento do consumo nacional do parboilizado de 4% ao patamar médio internacional (20 a 25%).
O estabelecimento de critérios técnicos para a criação de um novo paradigma internacional, o Selo de Qualidade Abiap, tem dado sustentabilidade à manutenção deste patamar.
Em síntese, os “engenhos” foram transformados em “indústria de alimentos”.
O PARCEIRO
Algumas vezes emprestou matéria-prima a colegas de engenhos concorrentes, caracterizando-se como primo inter paribus, ação que o conduziu a presidente do Sindarroz-RS (1972 a 1980) e a idealizador e primeiro presidente da Abiap (1986 a 2010).
Serviu de exemplo entre os parboilizadores, antecipando-se à legislação, tratando os efluentes líquidos, sólidos e gasosos.
O CAMINHONEIRO CONTADOR DE HISTÓRIAS
Um dos “10 mais” trata de como descobriu o caminho de um lucro adicional propiciado pelo arroz parboilizado.
Era a época em que os engenhos dedicavam-se praticamente só à produção do arroz branco.
Como caminhoneiro, ao levar arroz em casca para um engenho, aproveitando o frete de retorno, carregara o recém-nascido arroz parboilizado.
Com a experiência que tinha de engenho, constatou que o rendimento de engenho do parboilizado era superior ao do branco convencional.
Passaram-se mais de duas décadas até que a Cientec (pioneira da pesquisa do parboilizado na América Latina) quantificasse esse ganho e suas causas.
As pesquisas da instituição quantificaram um ganho adicional de 3,8% em massa, identificando a permanência do gérmen – a parte mais nobre do nobre grão sob o ponto de vista nutricional. Foi no encontro da Waitro, a organização que reúne os centros de pesquisa industrial do mundo inteiro.
FINALIZANDO
Em uma roda de amigos, o Seu Alfredo sempre tinha um “causo” para contar.
Eram tantos, que obrigariam a Planeta a converter-se em “Via Láctea Arroz”.
GILBERTO WAGECK AMATO
ENG. QUÍM., M. SC., PESQUISADOR
amatogw@hotmail.com