Os segredos da base larga
Um terceiro método de drenagem pesquisado pela Embrapa Clima Temperado e que tem mostrado bons resultados é conhecido como camalhões de base larga. Neste sistema, usam-se camalhões mais largos que os anteriores, relativamente baixos, com uma altura máxima próxima a 25 centímetros no meio ou “na crista”. “Na Embrapa Clima Temperado, testamos camalhões que variaram desde três metros (a largura de uma semeadora de soja de tamanho médio) até oito metros. A confecção destas estruturas não necessita maquinário específico, podendo ser feita com o direcionamento do arado de discos, de aivecas ou das plainas, comumente usadas no nivelamento dos quadros e talhões em terras baixas”, acrescenta o pesquisador Giovani Theisen, que trabalha na Estação de Terras Baixas da Embrapa, onde acontecerá a 29ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz.
Apesar do preparo de solo necessário à sua construção (que é similar a um preparo convencional), um aspecto positivo dos camalhões largos é que eles se constituem uma estrutura resistente e muito efetiva para a drenagem. Por seu grande tamanho, toleram relativamente bem a passagem das máquinas e o pisoteio do gado e ajustam-se ao cultivo de aveia preta, azevém e coberturas de solo, além de soja, milho e sorgo.
Nos estudos conduzidos pela Embrapa, talhões com camalhões largos em plantio direto pleno em uma área típica de terras baixas estão sendo cultivados há 12 anos sem que nenhum preparo do solo tenha sido feito em todo esse período, exceto o preparo inicial, feito no inverno de 2006.
Segundo Theisen, foram instalados os camalhões largos em talhões típicos de produção de arroz irrigado, onde avaliaram esta nova possibilidade de manejo dos solos, para praticar de fato o plantio direto e produzir uma alta quantidade de palha e pastagens durante o inverno, com integração lavoura-pecuária, além, obviamente, de se cultivar soja e milho sem perdas por encharcamento. “Deu muito certo para a finalidade que se propunha”, afirma.
Por sua resistência estrutural e pelo fato de que os benefícios da rotação de culturas são maiores com o passar do tempo, os camalhões largos são indicados para áreas com problemas de drenagem e que não são cultivadas com arroz ou, nas áreas ‘arrozeiras’, para os talhões em que o produtor decidir fazer pousio sem arroz em um prazo mais longo (Exemplo: acima de duas safras).
Manter o solo livre do encharcamento com os camalhões largos possibilitou aumentar a matéria orgânica do solo em cerca de 40%, o que é muito importante do ponto de vista agronômico. O sistema produziu, em média, mais de 4,5 toneladas por hectare de massa seca de pastagens no inverno por ano (contra 1 tonelada por hectare obtida nas áreas com solo plano), com bons reflexos na produção animal, qualidade do solo, ciclagem de nutrientes e produtividade da soja e milho.
Soja em sistema de camalhão em terras de arroz
QUESTÃO BÁSICA
Na média dos nove anos de estudo, o sistema entregou produtividades 19% (soja) e 174% (milho) acima das médias regionais para estas culturas. O próximo passo das pesquisas com camalhões base larga é estruturá-los de modo que possa se voltar com o arroz irrigado na área sem que se tenha que desmanchar os camalhões. “Provavelmente vamos conseguir isso ao fazer os camalhões mais baixos, utilizando-se do auxílio de tecnologias mais recentes de nivelamento e sistematização dos solos”, afirma Theisen. O sistema está em exposição permanente na área experimental da Estação Experimental Terras Baixas (ETB) e também na área junto à 29ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz, de 20 a 22 de fevereiro, em frente à ETB, no município de Capão do Leão (RS).
Tecnologias disponíveis são trunfos dos produtores
O uso de tecnologias mais avançadas no manejo dos solos, da água e da drenagem nas terras baixas já é realidade nos estudos da Embrapa e de outras empresas e instituições. As técnicas de sistematização dos solos seguem evoluindo auxiliadas pelas novas tecnologias. Alguns exemplos nesse sentido são o uso de drones para obtenção de imagens térmicas, que indicam o grau de umidade dos solos, e os sistemas de GPS de alta precisão, cada vez mais modulares e acessíveis, usados no mapeamento altimétricodas áreas (modelos digitais de elevação em 3D) e na automação dos equipamentos agrícolas.
Além disso, destaca-se também a evolução nos softwares, que possibilitam simularem-se várias alternativas e fazer o planejamento, em poucos segundos, de um complexo sistema de irrigação e locação de taipas e drenagem para grandes áreas, tarefa que até pouco tempo atrás parecia algo impensável. Desta evolução, por exemplo, surgiram técnicas como a sistematização do solo com declividade variada, que permite tanto se fazer a irrigação do arroz com lâmina contínua quanto a irrigação de outras culturas com banhos rápidos sem que ocorram prejuízos pelo excesso de água.
Outros ganhos, como o menor volume de terra movimentado na sistematização dos solos, a redução no número e comprimento de taipas e a necessidade de maquinaria de menor porte para manejo dos solos, são percebidos em propriedades que têm adotado esses sistemas mais modernos. “Sem dúvidas, a utilização adequada das técnicas de manejo dos solos e os avanços tecnológicos, brevemente resumidos neste artigo, trarão benefícios técnicos, econômicos, ambientais e sociais à produção agrícola das terras baixas do Sul do Brasil”, garante o pesquisador Giovani Theisen, da Embrapa.