Os últimos 20 anos e os próximos 20 anos do setor orizícola brasileiro
Nos últimos 20 anos, o mercado orizícola brasileiro se consolidou como um forte investimento em tecnologia no campo e desenvolvimento genético de sementes. Estes trabalhos resultaram em uma significativa expansão da produtividade do setor de 116,2% no Brasil. Para se ter uma ideia do salto dado, na safra 1999/2000 a produtividade identificada era de 3.106 kg/ha e, na atual, a Conab estima uma produtividade média no Brasil de 6.714 kg/ha. Ao se considerar apenas o maior estado produtor, o Rio Grande do Sul, a produtividade média estimada atinge 8.369 kg/ha.
Outro ponto de avanço na cadeia produtiva foi a promoção do arroz brasileiro no mercado internacional, impulsionado principalmente após a super safra 2010/2011. A partir de então, o país se consolidou como exportador líquido, comercializando um produto com alta qualidade. Cabe ressaltar, todavia, que a elevada carga tributária e os subsequentes elevados custos de produção frearam uma expansão ainda mais intensa das exportações brasileiras.
Hoje o desafio é traçar novas estratégias e objetivos da cadeia orizícola para os próximos 20 anos, após a superação das barreiras iniciais enfrentadas pelo produtor nas duas últimas décadas. Nesse contexto, com as seguidas retrações do consumo nacional e com os recorrentes preços baixos de comercialização nos últimos anos, em meio às mudanças de hábitos da população brasileira e à dificuldade de expansão de mercado externo após o crescimento e consolidação inicial, o desenvolvimento e a promoção de produtos derivados do arroz tornam-se algo imprescindível. Na Ásia, a título de exemplo, consumo de arroz, fora do usual de grão in natura, é extremamente significante na composição das demandas locais.
Outra vertente vista como importante, vis-à-vis à crescente demanda por arroz orgânico, no Brasil e no mundo, e ao seu alto valor agregado de comercialização, é o incentivo ao desenvolvimento e à expansão do grão orgânico no país. Hoje este mercado ainda é incipiente no Brasil e, no mundo, não há país que esteja em posição dominante neste nicho. Entretanto, têm sido notados esforços do governo tailandês que vem incentivando o crescimento de áreas destinadas às lavouras orgânicas, e a promoção desse produto no comércio global.
Para isso, a Tailândia criou uma Denominação de Origem Controlada (DOC) de arroz orgânico e uma plataforma digital, buscando maior credibilidade da cadeia produtiva local e transparência e rastreabilidade de seu processo produtivo. Especificamente para o Brasil, um maior desenvolvimento e inserção neste mercado trará, além de todos os benefícios com a agregação de valor, uma melhora na imagem do país no comércio internacional, o que seguramente refletirá como externalidade positiva em toda essa cadeia produtiva.
Em suma, o desafio central para o futuro não mais será em torno da ampliação da produtividade da lavoura de arroz, e sim da agregação de valor do produto comercializado e da expansão da demanda nacional e internacional do grão brasileiro.