Pilares da produtividade e desafios da lavoura de arroz
A principal explicação dos ganhos de produtividade do arroz gaúcho nas últimas décadas é a dobradinha realizada entre o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) e os arrozeiros gaúchos.
AS GRANDES REVOLUÇÕES PROPOSTAS PELO IRGA FORAM MARCADAS POR DOIS PILARES:
Manejo: os Projetos de Transferência de Conhecimento e Tecnologia: Projeto 10, Projeto CFC, Projeto Soja 6000 e Projeto 10+, marcaram o setor nesses 20 anos. Todos esses projetos tiveram pontos fortes e fracos, mas no final, com certeza promoveram uma sensibilização nos agricultores gaúchos e na cadeia produtiva do arroz sobre a importância de práticas de manejo que promovem a “Construção da Produtividade”, que realmente impactaram na produção do arroz gaúcho. Destaco também, que esses 20 anos marcaram a consolidação da soja, em 30% da área tradicionalmente cultivada com arroz no Rio Grande do Sul.
Melhoramento: a competência da Equipe de Melhoramento do Irga continua protagonizando o lançamento de cultivares de arroz de Alto Potencial de Produtividade, onde destaco a cultivar IRGA 424 RI, provavelmente a cultivar com maior potencial de produtividade desses últimos 20 anos. Em sintonia, observamos a introdução de cultivares de arroz com resistência a herbicidas que foi uma revolução no início, pelo excelente controle das principais plantas infestantes da lavoura arrozeira no início dos anos 2000.
Já nos últimos anos (2015-2020), pelo uso inadequado dessa tecnologia desde o seu lançamento, ocorreu a seleção de plantas daninhas resistentes, que promovem grandes investimentos em controle e com pouca eficiência. Ou seja, fomos do “céu” ao “inferno” nesse período no controle de plantas daninhas na lavoura arrozeira gaúcha.
O ARROZEIRO GAÚCHO
Após ter conhecido produtores de arroz no Uruguai, Argentina, Estados Unidos, Austrália e China, verifico que o amor e a dedicação que os produtores gaúchos têm por produzir arroz é diferente do que em qualquer outra parte do mundo. Com certeza isso faz toda a diferença e permite sermos referência em produção de arroz no mundo, apesar de uma década desses 20 anos, o arroz ter sido comercializado por preços que não pagaram os custos de produção.
DESAFIOS E TENDÊNCIAS
Os grandes avanços no sistema de produção de arroz irão passar por quatro pilares:
Manejo: Vamos viver na prática a era da “Intensificação Sustentável”. O incremento da produção de arroz será marcado pelo aumento vertical, ou seja, redução da lacuna de produtividade, que atualmente está entorno de 50%, nas lavouras de arroz no RS. Em virtude do êxodo rural, principalmente em propriedades familiares, aumentará o tamanho da propriedade média de arroz no RS, e esta vai ser manejada com menos mão de obra e mais tecnologia (aplicativos como o PlanejArroz) e mecanização (Mais tecnologia embarcada em implementos agrícolas, uso de drones).
Deverá ocorrer um aumento da área irrigada das culturas da soja e do milho em áreas de rotação com arroz irrigado.
Melhoramento: a biotecnologia irá sair dos laboratórios, finalmente, e será implementada em cultivares de arroz, soja e milho com foco em maior eficiência no uso de recursos (água, nitrogênio…) e redução no uso de insumos (inseticidas e fungicidas).
Produtor: haverá uma seleção natural dos produtores, permanecendo na atividade aqueles que tiverem o maior conhecimento teórico e prático. Os produtores familiares irão incrementar o cultivo de arroz especiais visando aumentar a competitividade, enquanto os grandes produtores irão focar na abertura de mercados para a comercialização do arroz.
Pesquisa: irá ocorrer a consolidação da pesquisa “on farm”, ou seja, a maioria dos produtores terão em sua propriedade uma “estação de pesquisa” testando práticas de manejo, cultivares e produtos para sua lavoura. Ganhará força a pesquisa multi-institucional e multidisciplinar, como realizado atualmente pela Equipe FieldCrops.