Soja: menor rentabilidade, mas ainda competitiva

A soja, nesta metade de agosto de 2021, encontra-se em um momento de estabilização relativa. Em Chicago, o bushel da oleaginosa, em termos médios, oscila entre US$ 13,60 e US$ 14,20 já há algum tempo (o auge nesta temporada foi US$ 16,60/bushel, em 12 de maio passado). O câmbio no Brasil, após ter testado, no fim de junho, valores entre R$ 4,80 e R$ 5,00 por dólar, considerados dentro da paridade normal para o momento, estabeleceu-se entre R$ 5,15 e R$ 5,30 por dólar (em 9 de março passado havia batido em R$ 5,84). E os prêmios nos portos nacionais voltaram ao patamar positivo, porém, em níveis normais (US$ 1,40/bushel em Paranaguá (PR)).

Nessas condições, os preços internos da soja, a nível de balcão, estabilizaram-se, variando entre R$ 150,00 e R$ 160,00/saco, tomando-se o Rio Grande do Sul como referência. Na prática, o mercado externo está atento à safra dos EUA, cuja colheita se inicia em fins de setembro. O novo número estimado é de 118 milhões de toneladas, contra 120 milhões inicialmente projetado. Já os estoques finais nos EUA continuam estimados em níveis bastante baixos, em torno de 4,2 milhões de toneladas no fim de 2021/22.

Mesmo assim, não havendo novas mudanças nesse cenário, as cotações da oleaginosa tendem a recuar mais um pouco. Especialmente se a demanda chinesa continuar lenta.

Já o câmbio no Brasil pode ceder igualmente um pouco mais, na esteira das elevações da taxa Selic, que deverão continuar em todo o restante deste ano puxadas pela alta inflação que vivemos. Assim, uma pequena redução nos preços da soja no mercado brasileiro, mais adiante, não pode ser descartada, embora não seja uma certeza.

Por outro lado, a nova safra brasileira de soja será feita com um aumento nos custos de produção superior a 30%, pelo menos. É o que a Fecoagro projeta para a soja gaúcha. Assim, enquanto os preços se estabilizam em níveis mais baixos, contra o auge obtido aqui no estado, que foi, na média, de R$ 170,90/saco no fim de abril/21, os custos de produção disparam. Estranhamente, a comercialização antecipada da nova safra nacional está mais lenta, chegando, no início de agosto, a 23,7% do total esperado, contra 43,3% na safra anterior nesta época.

Assim, em se mantendo o presente quadro, a rentabilidade dos produtores de soja será positiva, porém, menor neste próximo ano, pois não se espera um aumento significativo na produtividade média das lavouras. Nesse sentido, reduzir o ritmo das vendas futuras pode dar certo, mas os riscos da estratégia fracassar nesta nova safra são bem maiores. No geral, os produtores estão deixando passar um momento ainda de boas relações de troca, apostando em um aumento de preços futuros, que está longe de representar uma certeza neste momento.

Dito isso, em relação ao arroz, nota-se que o preço do cereal cedeu ainda mais nestes últimos tempos, enquanto o custo de produção subiu significativamente, especialmente para aqueles que arrendam terras. Em meados de agosto/21, a média do saco de 50 quilos no Rio Grande do Sul estava em R$ 75,26, contra o auge de R$ 103,25 na segunda quinzena de outubro de 2020. Lembrando que o custo de produção ponderado, na safra 2020/21, ficou em R$ 72,73/saco de 50 quilos, segundo o Irga. Assim, enquanto os preços recuaram mais de 27%, os cálculos atuais para o custo de produção do arroz na nova safra estariam indicando que o produtor precisaria de, pelo menos, 170 sacos/hectare para cobri-lo.

Diante desse quadro, considerando produtividades médias normais para a soja e o arroz na safra futura, neste momento, a oleaginosa está em vantagem, mantendo condições para ver sua área aumentar nas terras gaúchas tradicionais produtoras de arroz.

 

Argemiro Luís Brum

Professor titular junto ao PPGDR da UNIJUI, analista de mercado, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França.

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter