Cotações pressionadas do campo ao varejo
Em julho, as cotações do arroz em casca no Rio Grande do Sul tiveram novas quedas, completando o décimo mês de variações negativas consecutivas em termos reais (deflacionamento pelo IGP-DI, base jun/21).
A pressão vem da maior disponibilidade de produto, em um ambiente de menor interesse comprador nos níveis atacadistas e varejistas.
As cotações médias de jul/21, com referência ao indicador do arroz em casca da Esalq, ficaram 15,5% inferiores às de jul/20, também em termos atualizados. Entre jul/05 e jul/21, a média de preços ponderados para o Rio Grande do Sul é de R$ 69,69/sc de 50 kg (ainda deflacionado pelo IGP-DI, base jun/21). Com isso, o preço médio do indicador é apenas 3,1% maior que a média geral, que envolve um período em que as margens do setor produtivo agrícola foram extremamente baixas ou negativas.
Isso abre um alerta quanto as expectativas de cultivo da nova temporada, pois os aumentos de custos foram expressivos nos últimos 12 meses, pelo menos.
Segundo dados do Cepea, o aumento de custos ficou entre 20% e 25% nas diferentes regiões de produção de arroz no Rio Grande do Sul, entre jun/20 e jun/21.
Em termos de beneficiamento e fabricação de produtos de arroz, dados do IBGE, para o Brasil, e do IRGA, para o Rio Grande do Sul, apontam que desde o início do segundo semestre de 2020 há reduções no ritmo industrial em relação aos períodos anteriores.
Os dados da figura 1 mostram o ritmo industrial acumulado a cada 12 meses, comparativamente aos 12 meses anteriores.
Segundo o IBGE, entre jul/20 e jun/21, o beneficiamento e fabricação de produtos de arroz no Brasil ficaram 20% menores que entre jul/19 e jun/20. Já para o Rio Grande do Sul,
dados do IRGA apontam que, entre ago/20 e jul/21, o beneficiamento e saídas de arroz (base casca) do estado ficaram 16% menores que o registrado entre ago/19 e jul/20. A redução de transações de arroz é preocupante para agentes vendedores dos diferentes elos da cadeia produtiva.
Os ritmos industriais se refletem nas variações de preços dos diferentes elos da cadeia produtiva, conforme a figura 2.
Entre jan/20 e out/20, os preços do arroz em casca subiram 120% no RS; entre jan/20 e nov/20, os preços do arroz beneficiado tiveram elevação de 110%; entre jan/20 e jan/21, os preços médios no varejo brasileiro apresentaram altas de 76,4%.
Dois aspectos são importantes com base nesses dados: a) ao longo da cadeia, além do arroz, são agregados outros custos e despesas, fazendo com que o peso da matéria-prima diminua na composição do custo total, o que contribui para variações percentuais menos intensas nos elos ao longo da cadeia produtiva; b) há defasagem na transmissão de preços do campo ao varejo.
Ao se considerar as variações acumuladas desde jan/20, os preços em arroz em casca no Rio Grande do Sul subiram 50% até jul/21; os preços do arroz beneficiado ainda seguem com alta de 68% também no RS; no varejo, os preços médios estão com valorização de 61,6% no Brasil. Tomando como base as variações do arroz em casca, é de se esperar novas variações negativas no atacado e no varejo.
Lucilio Rogerio Aparecido Alves
Professor da Esalq/USP
Pesquisador responsável pelas Equipes de Grãos, Fibras e Amidos do Cepea
lralves@usp.br