Pesquisa define melhor período para plantio do arroz irrigado no TO
(Por Rodrigo Peixoto, Embrapa) Uma pesquisa desenvolvida pela Embrapa definiu que o período mais propício para a semeadura do arroz irrigado no estado do Tocantins é o intervalo entre os dias 1º de outubro e 20 de novembro. Essa janela corresponde à época de menor risco climático para a lavoura, resultado registrado no artigo Risco climático e período de semeadura para o arroz irrigado no Tocantins, publicado na Revista Agri-Environmental Sciences, da Universidade Estadual do Tocantins (Unitins). Essa informação é importante porque a determinação da melhor época de plantio é uma das práticas de manejo mais estratégicas para se evitar perdas no campo e conseguir uma safra rentável com maior produtividade.
A pesquisa abrangeu o ambiente de várzeas tropicais do vale dos rios Tocantins-Araguaia, envolvendo cinco municípios produtores de arroz: Dueré, Cristalândia, Lagoa da Confusão, Formoso do Araguaia e Pium.
Para o estudo, foi utilizado o programa de computador chamado ORYZAv3, desenvolvido para aplicações em trabalhos científicos. Trata-se de um software que simula crescimento, desenvolvimento e produtividade da lavoura de arroz e é abastecido com dados de solo, clima (série histórica de dados diários de precipitação, temperatura e radiação solar global), práticas de manejo e características de cultivo. Nesse caso, a fonte de informações para validar esse sistema foi a série de dados experimentais de campo do programa de melhoramento de arroz irrigado tropical da Embrapa e do serviço InfoClima. Para aplicar as simulações dentro do modelo ORYZAv3, foi levado em conta o impacto sobre o comportamento agronômico da cultivar BRS Catiana, material considerado como referência nesse estudo e bastante plantado na região.
O pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão Alexandre Heinemann, um dos coordenadores do trabalho, destacou que a semeadura feita em época favorável é fundamental na redução do risco climático, pois aumenta a chance de as fases críticas da planta não coincidirem com a ocorrência de fatores climáticos adversos. Nesse sentido, ele ponderou que, para a região estudada, plantios após 20 de novembro, dezembro, assim como aqueles mais tardios, no mês de janeiro, não são recomendados. “O período ideal é do início de outubro a 20 de novembro. Esse período apresenta maior probabilidade de altas produtividades, devido às condições climáticas mais favoráveis ao desenvolvimento da cultura do arroz”, afirmou.
Heinemann comentou que a melhor época de semeadura foi estabelecida na pesquisa por meio da relação entre elementos climáticos e seu efeito sobre a fisiologia vegetal em cada etapa de desenvolvimento das plantas no campo. Por exemplo, dois componentes essenciais: a radiação solar e a temperatura do ar impactam reduzindo ou aumentando a produtividade. “Na fase de enchimento de grãos do arroz, a radiação solar mais adequada é alcançada nas várzeas tocantinenses entre janeiro e fevereiro. Nesse período, as temperaturas do ar também estão mais altas, o que é vantajoso, pois diminui a pressão de doenças nos grãos e facilita o processo de secagem na fase final da lavoura. Para essa situação, a semeadura deve ser realizada entre outubro e 20 de novembro”, orienta o cientista.
Além disso, há um outro fator favorável para a semeadura nesse período. De acordo com o pesquisador, essa janela de semeadura proporciona a ocorrência de valores menores de temperatura mínima do ar na fase vegetativa da lavoura, quando comparada com as demais épocas de plantio. Isso traz menor gasto de energia de manutenção da planta, devido à menor respiração vegetal noturna.
Resultado combinado à prática
Heinemann chamou a atenção para outra questão associada ao período de semeadura. O conhecimento sobre o modo de funcionamento do sistema produtivo local é outro componente a ser considerado. Segundo ele, no vale dos rios Tocantins-Araguaia, o arroz irrigado, em grande parte das áreas, é sucedido pela cultura da soja para a produção de sementes, conduzida com subirrigação. A janela de semeadura da soja nas várzeas tropicais inicia-se em 20 de abril e segue até 31 de maio. Considerando-se que o preparo do solo para a soja deve ser feito com certa antecedência à sua semeadura para permitir a decomposição da palhada do arroz, isso implica que a colheita do cereal seja concluída até o fim de março, podendo se estender até o início de abril.
Conforme o pesquisador, essa prática reforça a indicação para que a semeadura do arroz irrigado ocorra no período recomendado pelo estudo, uma vez que o ciclo da lavoura com o cereal possui geralmente 120 dias, o que proporciona a colheita do grão nos meses de fevereiro e março, não atrapalhando a soja.
Tocantins é o terceiro maior produtor
O arroz irrigado é encontrado de norte a sul do Brasil, nos ambientes subtropical e tropical. No primeiro, o arroz concentra-se nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina e é responsável por 80% da produção nacional. Já no ambiente tropical, ele é cultivado nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e ocupa 13,2% da área total cultivada. Apesar de ser responsável por somente 20% da produção nacional, o ambiente tropical apresenta importantes contribuições para a segurança alimentar, conforme apontado em trabalho da Embrapa, pois facilita a logística de distribuição do cereal para estados do Norte e Nordeste do Brasil; minimiza os impactos de fenômenos climáticos severos que podem quebrar a produção do arroz no Sul do Brasil; e estimula o estabelecimento da indústria de beneficiamento nas regiões de produção.
As várzeas tropicais do vale dos rios Tocantins-Araguaia possuem enorme potencial para a produção do arroz irrigado e contribuem para o Tocantins ser o terceiro maior estado produtor dessa categoria, com 656,6 mil toneladas de arroz em casca registradas na safra 2020/2021, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Por meio de parcerias, a Embrapa desenvolveu, recentemente, a cultivar de arroz BRS A706 CL adaptada às regiões tropicais.
Fortalecimento de parcerias
Nos últimos anos, a Embrapa tem fortalecido parcerias com diversos atores da cadeia produtiva do arroz no Tocantins. Um dos principais parceiros é a Universidade Estadual do Tocantins (Unitins), instituição pública de ensino superior e responsável por pesquisas agropecuárias no estado. Ambas as instituições coordenam atividades no Centro de Pesquisa Agroambiental de Várzea (CPAV), localizado no município de Formoso do Araguaia, que mantém 145 hectares voltados a experimentos com arroz irrigado.
Por meio de contrato de cooperação técnica, as duas instituições realizam diversas atividades de pesquisa e desenvolvimento visando a uma cadeia produtiva cada vez mais sustentável. As atividades envolvem ensaios ligados ao Programa de Melhoramento de Arroz Irrigado (MelhorArroz), ao desenvolvimento de linhagens elite e ao manejo técnico adequado da cultura do arroz. Existe, inclusive, a perspectiva de lançamento de cultivares, que teriam a denominação BRSTO e seriam de propriedade conjunta.
Outros parceiros que ajudam a fortalecer a cadeia produtiva do arroz irrigado no Tocantins são as empresas sementeiras. Desde 2019, três empresas privadas fazem aportes financeiros anualmente dentro do MelhorArroz, que visa ao desenvolvimento de cultivares voltadas às especificidades de cada região brasileira. Uniggel Sementes, Sementes Simão e Brazeiro Sementes têm assinado com a Embrapa contrato de cooperação técnico-financeira de cinco anos, renovável por igual período, que viabiliza a parceria no Tocantins.
As atividades englobam pesquisa (desde o desenvolvimento de linhagens elite de arroz irrigado, passando por ensaios regionais de rendimento de linhagens tropicais e por ensaios de valor de cultivo e uso tropical, chegando a lavouras experimentais), produção de sementes e ações de transferência de tecnologia, comunicação e desenvolvimento de mercado.