O cenário do arroz para a safra 2022/23
Para safra 2022/23, o cenário de arroz dependerá fundamentalmente da definição de área e produtividade no Rio Grande do Sul (RS), principal estado produtor, em meio a uma conjuntura de contínua redução de área e dos estoques de passagem. Cabe ressaltar, entretanto, que a redução da área cultivada vem sendo contrabalanceada pela expansão da produtividade em campo e pela tendência de retração do consumo nacional, o que ameniza o quadro ajustado entre a oferta e demanda no país.
Primeiramente, sobre o incremento de produtividade, este tem ocorrido em resposta a dois fatores. O primeiro fator é relativo ao desenvolvimento de novas sementes, à evolução do manejo e à aplicação de maior tecnologia no campo. Já o segundo fator é relativo à maior perda de área de arroz de sequeiro na comparação com a retração de área de arroz irrigado, dada a produtividade superior do arroz irrigado.
Sobre o consumo nacional, em encontro com diversos estudos acadêmicos, a Conab, por meio de estudos estatísticos, encontrou evidências de que o arroz possui características de bem de elasticidade-renda negativa. Ou seja, usualmente, uma elevação na renda per capita no país tende a reduzir o consumo pelo grão, e, de forma contrária, uma retração da renda per capita no país tende a expandir o consumo.
Para ilustrar esse fato, em 2016, a queda de 3,3% no PIB brasileiro refletiu em significativo incremento de demanda do produto, já entre os anos de 2017 e 2019, período o qual o país cresceu próximo de 1,1% a.a., identificou-se uma nítida tendência de queda da demanda. Com o início da pandemia e os reflexos no desempenho econômico do Brasil, o PIB registrou uma forte queda de 4,1% em 2020, refletindo em um aumento da demanda dos anos seguintes.
Para a safra 2021/22 e para a próxima safra 2022/23, a estimativa é de recuperação econômica, o que deverá resultar na volta da tendência de redução de consumo. Com isso, a Conab estima uma demanda nacional de arroz em 10,6 milhões de toneladas (base arroz em casca).
Voltando a atenção para o equilíbrio da oferta e demanda no Brasil, ressalta-se que, em meio à previsão de menor safra 2022/23 e com a significativa expansão das exportações, a estimativa é que o mercado orizícola opere ao longo de 2023 com uma oferta mais ajustada, o que, possivelmente, resultará em viés de alta nas cotações do grão.
Mais especificamente sobre as vendas externas de arroz, a estimativa é que estas encerrem o ano com 1,9 milhão de toneladas comercializadas, volume que deverá ser recorde na série histórica do setor. Atualmente, notam-se os produtores priorizando as vendas externas, com destaque para o último mês de outubro de 2022, período o qual o setor exportou 388,8 mil toneladas, sendo o maior montante já comercializado em um único mês.
Para 2023, com base no cenário estimado de menor oferta e preços mais elevados, a Conab projeta que as exportações deverão arrefecer, sendo a estimativa de 1,3 milhão de toneladas. Com isso e ainda considerando um fluxo constante de importação de 1,15 milhão de toneladas, o setor orizícola brasileiro deverá encerrar o ano de 2023 com uma nova redução no estoque de passagem, que deverá ficar próximo a 2 milhões de toneladas. A integração do Brasil ao mercado internacional gera menor volatilidade de preços.
Logo, com base em todos os fundamentos de mercado aqui expostos e ainda se apoiando em modelo econométrico, que usa, como variáveis, a comercialização, produção e o histórico de preços do arroz brasileiro, projeta-se que os preços na próxima safra estarão mais elevados do que os atuais.
No cenário neutro, a projeção é de preço acima de R$ 95,00/sc no RS na entrada da nova safra, já no cenário otimista, a estimativa é de preço a R$ 110,00/sc. Caso a safra venha próxima de 10,6 milhões (número estimado atualmente), é provável que as cotações fiquem mais próximas do projetado para o cenário neutro. Assim, a definição de fato da área e da produção no RS serão determinantes na formação de preço de arroz no país.
Sérgio Roberto Gomes
dos Santos Júnior
Gerente de Inteligência Análise
Econômica e Projetos Especiais (GEIAP)