Melhoramento do arroz e a segurança alimentar
*Marley Marico Utumi; Valácia Lemes Silva-Lobo; Raquel Neves de Mello e Isabela Volpi Furtin – Pesquisadoras da Embrapa Arroz e Feijão (GO)
O arroz é um dos cereais mais consumidos em todo o mundo e estima-se que contribua ao redor de 20% da energia e 15% da proteína ingerida pela população. Em alguns países da Ásia a quantidade de arroz consumida é maior que 100 kg por habitante por ano, representando mais da metade da ingestão diária de energia e proteína. É bastante alta quando comparada à alguns países da Europa, com o consumo de 10 kg ou menos de arroz por habitante. No Brasil a quantidade consumida é mediana, com variações entre regiões, entre 40 a 60 kg per capita ao ano, que pode representar em torno de 15% da energia e 10% da proteína da dieta nacional.
Durante décadas a pesquisa brasileira teve como foco principal o volume de produção, independente da qualidade do produto, especialmente para o arroz não irrigado. O objetivo era produzir o máximo, mas isso não era suficiente. Sabemos agora que a nossa preferência é pelo grão polido, quase transparente e brilhoso, de formato alongado e estreito, sem manchas, sem esbranquiçado, tecnicamente denominado de “longo fino, tipo 1”. Muitos diziam “agulhinha” para este formato de grão, que era produzido no Sul do Brasil, em áreas irrigadas até o lançamento da variedade Primavera, pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, em 1997.
Além do formato do grão, a Primavera tem excelente qualidade de cozimento, tornando-se a principal variedade de arroz para condições de cultivo não irrigado. A estrutura e propriedade do amido que compõe o grão desta variedade resultam em grãos cozidos macios e não empapados, mesmo logo após a colheita. O impacto da variedade Primavera foi tão importante no mercado que se tornou o padrão de excelência, melhorou o preço pago ao produtor de arroz, aumentou o preço de mercado do arroz de sequeiro – sem irrigação, e alterou até o sistema de produção do arroz.