Após anúncio de importações, preços do arroz sobem 12,4% ao produtor

 Após anúncio de importações, preços do arroz sobem 12,4% ao produtor

(Por Planeta Arroz) O anúncio desastrado do governo federal de que realizaria um leilão de compra de arroz importado na semana que passou – o que não se confirmou por problemas de logística e falta de viabilidade até de aquisição das embalagens – fez as cotações do arroz saltarem sete pontos percentuais na semana que passou, com a média de preços ao produtor subindo de R$ 112,69 na semana de 13 a 17 de maio (US$ 21,97) para R$ 120,45 entre 20 e 24 de maio (US$ 23,43). Nem o anúncio da retirada da Tarifa Externa Comum (TEC) para importações de arroz, pela indústria e o varejo, de mercados externos ao Mercosul, ajudou a derrubar os preços.

Na última sexta-feira, a cotação diária apontada pelo indicador Cepea/Irga-RS, baixou 0,41%, para R$ 120,95 (US$ 23,38). Com isso, acumula 12,9% de valorização em maio, mas chegou a alcançar R$ 122,02 na quarta-feira, dia 22/5, a US$ 23,67. Então, acumulava alta de 13,9% no mês.

Além das oscilações e incertezas trazidas ao mercado pelo apressado anúncio governamental – o Planalto anunciou e o MAPA se apurou antes da Conab conseguir operacionalizar o leilão e ter o orçamento necessário para as aquisições – o retorno das chuvas e as inundações na região metropolitana de Porto Alegre e Zona Sul seguiram impedindo a normalização e retomada do transporte dos fardos de arroz beneficiado do Rio Grande do Sul para o resto do país. Ao mesmo tempo, com muitas estradas destruídas, os produtores também não conseguem transportar o que colheram das propriedades para as indústrias e armazéns.

TEC

No início da semana passada, o governo zerou a Tarifa Externa Comum (TEC) para as importações privadas de arroz beneficiado (10,8%) e em casca (9%) de origens externas aos países do Mercosul. Arroz da Argentina, Uruguai e Paraguai já são isentas da tarifa. As principais origens para negócios neste primeiro semestre seriam Tailândia, de onde traders informaram a previsão de uma remessa de 120 mil toneladas ao Brasil, em quatro navios, segundo informe da S&PGlobal Platts, e o Vietnã. Os EUA poderiam tornar-se uma das origens no segundo semestre, se houver necessidade.

CÂMARA SETORIAL

Na quinta-feira, dia 23, a Câmara Setorial Nacional do Arroz, órgão consultivo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) reuniu-se ordinariamente e, em ata, registrou com veemência a inconformidade com o fato  de o governo federal ter tomado uma série de decisões cruciais para o mercado e a cultura orizícola nas últimas semanas sem ouvir a cadeia produtiva. “Talvez por temer ser desaconselhado a seguir com estas medidas sobre a TEC e sobre  importações, que poderão comprometer as safras futuras e o mercado interno. De qualquer maneira, discutir  com a cadeia produtiva, representada na Câmara Setorial, teria evitado o fiasco de convocar um leilão que precisou adiar por falta de orçamento, pela alta nos preços de todo o Mercosul que o próprio governo provocou e pela inviabilidade de logística dos próprios materiais exigidos, como embalagens”,  referiu-se o presidente da Câmara, Henrique Dornelles, produtor de arroz em Alegrete (RS).

O governo enviou vários servidores à reunião, mas afora um representante do MAPA, Wilson Vaz, que falou sobre seguro agrícola, e o representante da Conab, Sérgio Santos, que falou sobre a Medida Provisória e o formato das compras de arroz importado – sem adiantar previsão para novo edital – ninguém mais se posicionou e boa parte mantiveram-se com as câmeras e microfones fechados na reunião virtual. Por parte da cadeia produtiva, indústria, produtores e até varejistas e corretores se manifestaram contrários à ação do governo, que consideram desnecessária e temerária, pelo passado de maus resultados das intervenções governamentais no mercado do arroz.

ORÇAMENTO

Na sexta-feira o governo federal anunciou um aporte de R$ 6,7 bilhões em recursos orçamentários ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) para consolidar as aquisições de até 1 milhão de toneladas de arroz, apesar dos apelos da cadeia produtiva e dos próprios números da Conab, que fortaleceram a informação de que há arroz suficiente para o abastecimento do país. O setor produtivo espera o lançamento de novo edital de compra nesta semana.

GOVERNO FEZ SUBIREM OS PREÇOS

O economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, voltou a enfatizar que a alta de preços internos, aos produtores e aos consumidores, foi deflagrada pelo governo federal. “Precisamos pontuar com clareza que o próprio governo que anuncia importação com o pretexto das enchentes que afetaram parcialmente cerca de 15% das lavouras, as mais tardias, no Rio Grande do Sul, já manifestava esta intenção desde junho de 2023. E a Conab, que é órgão do governo federal, divulgou há 15 dias uma previsão de aumento da colheita sobre o ano passado”, destacou.

Luz  acrescenta que durante as inundações históricas que afetaram o Rio Grande do Sul, algumas vias de escoamento do arroz industrializado para os outros estados do país ficaram interditadas por alguns dias. “Isso, somado ao fato do governo anunciar equivocadamente que ia faltar arroz, o que gerou uma forte demanda nos supermercados, provocou uma redução dos estoques e a limitação do número de quilos a serem  vendidos aos consumidores. Então o governo anunciou que importaria um milhão de toneladas do Mercosul e os preços lá fora, que já estão perto dos recordes por causa de outros fatores, subiram até 30%, o que é natural, e o leilão teve que ser adiado”, frisou.

Para o economista-chefe da Farsul, esta é uma crise criada pela própria decisão política do Planalto importar arroz sem necessidade, subsidiar essa operação desnecessária com mais de R$ 7 bilhões em pleno momento de preocupação com o déficit fiscal, e vender esse arroz subsidiado ao pequeno varejista e tabelado em R$ 4,00 o quilo para o consumidor, com o selo do governo em pleno ano eleitoral. “Já vimos esse filme antes, e ele não deu certo”, alertou.

Conforme Antônio da Luz, o grande risco atual é o  de o governo federal promover uma importação massiva capaz de comprometer os preços internos, fazendo a indústria brasileira e do Mercosul competir em preços com arroz de menor qualidade trazido da Ásia. “Se o governo forçar uma baixa nos preços ao longo da cadeia produtiva, como está sinalizando, o que veremos é um produtor que já foi profundamente afetado pelas inundações, ser ainda mais desestimulado a formar a próxima lavoura, pois ele terá permanentemente a sombra do governo vendendo mais barato e achatando as cotações a ponto de estas não remunerarem o plantio”, especulou.

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter