A ameaça fantasma

 A ameaça fantasma

O inseto adulto tem entre 2,4mm e 2,8mm de largura e 4,8mm a 5,5mm de comprimento

A ochetina, descoberta há apenas dois anos, já preocupa os produtores

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Um inseto potencialmente prejudicial à cultura do arroz irrigado, descoberto há dois anos no Rio Grande do Sul, começa a preocupar o meio científico e os produtores. Ochetina sp, um inseto cuja espécie não foi identificada e pertencente à família do gorgulho-aquático (Oryzophagus oryzae), foi encontrado na Depressão Central gaúcha, principalmente nas lavouras de Candelária, na safra 98/99. Desde então, a praga espalhou-se para outras regiões e preocupa pelo seu potencial destrutivo.
De uma safra para a outra o seu poder de destruição aumentou 16 vezes, segundo dados divulgados pelo Irga em julho último. O ataque pulou de uma área de 250 hectares para mais de quatro mil hectares. A praga havia aparecido em Santa Catarina um ano antes e surgiu na Colômbia há 12 anos. Em terras colombianas é considerada a principal praga do arroz, com danos avaliados na ordem de 20% da produção orizícola. Há indícios também de que o inseto tenha causado prejuízos às lavouras de Tocantins na última safra. Ele ataca lavouras em todos os sistemas: convencional, pré-germinado ou plantio direto.

O Irga divulgou no mês de julho que já havia registro do aparecimento da praga no Rio Grande do Sul, na região de Cachoeira do Sul e na Estação Experimental de Arroz de Cachoeirinha, no ano de 1982. No entanto, era uma praga que causava estrago insignificante à lavoura e foi tratada como tal. Segundo o especialista em pragas da Embrapa Clima Temperado (Pelotas/RS), José Francisco Martins, a Ochetina sp (Ochetina é o gênero do inseto e sp quer dizer que a espécie ainda não foi identificada) gera danos severos em colmos de plantas e sérios prejuízos econômicos. O inseto, devido ao hábito de ataque, está sendo chamado de nova broca-do-colmo do arroz.

 

Anatomia do Vilão 

Ochetina sp

A Ochetina sp foi descoberta no Rio Grande do Sul em dezembro de 1998, na lavoura de Vili Wollmann, na localidade de Linha Palmeira, no município de Candelária. Ainda não há dados suficientes que comprovem uma origem exata da ochetina. A tese mais aceita e lógica é que o inseto está na natureza, pois ele existe na Colômbia, no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e, provavelmente, no Brasil Central.

Ele perfura os colmos de arroz, na fase de perfilhamento, alimentando-se de tecidos internos As larvas são ápodas, branco-amareladas, atingindo cerca de 1,8mm de diâmetro e 11,0mm a 14,5mm de comprimento, quando completamente desenvolvidas. São de vida aquática restrita, pois permanecem unicamente em partes submersas da planta de arroz.

As larvas encontradas no colmo de plantas de arroz estavam em fase final de perfilhamento.
Devido à agressividade do inseto, 223 hectares de arroz irrigado de Candelária foram tratados empiricamente com o mesmo inseticida químico recomendado para controle das larvas do gorgulho-aquático (Orizophagus oryzae), conhecidas por bicheira-da-raiz. Nas áreas tratadas estimaram-se perdas de 20% na produção, enquanto em áreas onde o controle não foi feito as perdas superaram os 60%.

Também foram constatados surtos de Ochetina sp em áreas cultivadas em Agudo, Passo do Sobrado, Santa Cruz do Sul, Vale do Sol, Venâncio Aires, Vera Cruz e Cachoeira do Sul. Nesses municípios as perdas de produção foram menores, ficando em torno de 10%, pois os orizicultores pensaram tratar-se de bicheira-da-raiz e aplicaram o inseticida com maior antecedência.

José Francisco Martins, da Embrapa Clima Temperado, explicou que à medida que um ecossistema é transformado em um agroecossistema, são criadas situações para uma praga trocar o seu hospedeiro nativo por um cultivado e acelerar o crescimento de sua população.

 

Irga prepara o troco

O especialista em pragas do arroz irrigado do Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga), Jaime Vargas de Oliveira, está desenvolvendo estudos no sentido de mensurar os ataques do inseto Ochetina sp na Depressão Central do Rio Grande do Sul para possibilitar o desenvolvimento de práticas de manejo integrado de insetos. Segundo ele, os últimos levantamentos demonstram um ataque muito mais voraz do que vinha sendo registrado na última safra. "Já passam de quatro mil hectares atacados na última safra", explicou Oliveira.

Segundo ele, na safra 98/99 o prejuízo ficou em torno de 250 hectares. "O ataque da praga aumentou 16 vezes de uma safra para a outra. Isso é preocupante, pois a tendência é de um aumento populacional por fatores como o clima e a criação de ambiente mais propício ao desenvolvimento da praga", acrescentou. O levantamento estatístico do ataque da Ochetina sp na Depressão Central foi apresentado na reunião anual da Divisão de Pesquisas do Irga, em julho.

O trabalho foi apresentado por Oliveira, o gerente regional do Irga na Depressão Central Jaceguay Barros e os engenheiros agrônomos do Irga, em Candelária, Caubi Pilon, em Agudo, Roberto Bento da Silva, e em Restinga Seca, Gilberto Dotto.

Informação Básica

O controle do inseto Ochetina sp ainda é feito às cegas por parte dos produtores, pois a pesquisa não identificou a espécie do inseto ou suas características e quais os inseticidas podem ser usados contra ele. O Irga está analisando o efeito de dois agrotóxicos contra os insetos que também se destinam ao combate da bicheira-da-raiz (Oryzophagus oryzae). Estão em testes o Klap 200 CE (Fipronil), na quantidade de 80ml/ha, e Furadam 100 G (Carbofuram), na medida de cinco quilos por hectare, ambos aplicados após a irrigação, já que a larva se desenvolve sob a lâmina d’água.

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