A evolução produtiva via Projeto 10 e o futuro do manejo e da orizicultura gaúcha

 A evolução produtiva via Projeto 10 e o futuro do manejo e da orizicultura gaúcha

Valmir Gaedke Menezes

“O Projeto 10 é uma tecnologia simples e por isso funcionou. Só as coisas simples funcionam”.
A produtividade de grãos de arroz irrigado no estado do Rio Grande do Sul aumentou consideravelmente na última década, atingindo um patamar de cerca de 8 t/ha. É importante salientar que em muitas propriedades as produtividades são superiores a 10 t/ha-1.

O crescimento médio anual da produtividade no RS nesse período foi de 246 kg/ha por ano, enquanto o incremento na produtividade mundial foi em torno de 52 kg/ha por ano. Em nenhum país do mundo se atingiu tal incremento de produtividade em tão curto espaço de tempo.

Tal evolução deveu-se pela adoção de um conjunto de práticas de manejo tais como a época de semeadura nos meses de setembro e outubro, o preparo antecipado do solo, a nutrição para alcançar altas produtividades, o controle precoce de plantas daninhas e a irrigação das lavouras quando as plantas têm 3-4 folhas, logo após a aspersão dos herbicidas e aplicação da ureia em solo seco.

Tudo isto aliado ao sistema de controle do arroz vermelho com a tecnologia “Clearfield”. O Projeto 10 não teria o impacto que teve sem o controle de arroz vermelho com essa tecnologia e nem este sistema teria os impactos de alta produtividade sem as práticas de manejo recomendadas pelo Projeto 10.

OUTROS FATORES RELEVANTES
O uso de práticas de manejo mais adequadas foi relevante para mitigar estresses causado pelo ambiente, como fenômeno El Niño, independentemente das regiões arrozeiras gaúchas.

MODELO DE TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

No processo de transferência de tecnologia, o mais importante é definir o que fazer, ou seja, quais são as técnicas que vão ser divulgadas. Nenhum modelo de transferência será exitoso se as tecnologias a serem difundidas aos agricultores não forem adequadas para atender suas demandas.

Achar que o modelo de transferência é a chave do processo de difusão de tecnologia é aumentar ainda mais a distância entre agricultores e técnicos. A importância do modelo está na participação dos diferentes atores em identificar os limitantes a serem trabalhados corretamente tanto pela pesquisa como pela extensão juntamente com os produtores.

ENVOLVENDO A CADEIA PRODUTIVA:
Era necessário trabalhar com maior número de instituições e técnicos envolvidos no processo de produção de arroz irrigado. A contribuição de associações e sindicatos de produtores, cooperativas, empresas privadas de assistência técnica e casas comerciais foram fundamentais em todo o processo de transferência de tecnologia. Além da contribuição desses segmentos do processo produtivo, a participação de trabalhadores rurais das propriedades foi muito importante para promover as mudanças necessárias.

Nesse sentido, coube ao Irga liderar o processo e compartilhar com técnicos de outras instituições parceiras (cooperativas, sindicatos, casas comerciais, escritórios de planejamento, etc.) os conhecimentos acumulados.

Para tanto, o Irga capacitou (treinou?) desde a difusão plena do Projeto 10, em 2004 a safra 2010/11, em torno de 17 mil pessoas, sendo 815 engenheiros agrônomos, de empresas públicas e privadas, 507 técnicos agrícolas e mais de 15 mil produtores e trabalhadores rurais

Assim, cerca de 30 mil técnicos e produtores participaram de dias de campo e roteiros técnicos organizados pelo Irga e/ou seus parceiros, ao longo do período de existência do Projeto 10.

TENDÊNCIAS E DESAFIOS
A adoção parcial da tecnologia faz com que os produtores também obtenham resultados abaixo do esperado. Em agricultura, não basta fazer algumas coisas certas; para se alcançar os melhores resultados, é necessário que se adote o conjunto das práticas agronômicas de manejo integrado recomendadas. O que limitará o sucesso será a prática que não foi executada ou a que foi implementada de forma parcial.

Outro fator que pode explicar a diferença entre resultados obtidos pelos produtores é o tempo de adesão ao Projeto. É preciso corrigir, na lavoura, os fatores que interferem negativamente no estabelecimento e no desenvolvimento da cultura. Um terceiro fator importante a ser considerado é a execução do trabalho em equipe: se isso não acontecer, os resultados esperados não serão alcançados ou demorarão mais tempo do que seria desejado.

O grau de adoção de tecnologia nas propriedades está muito relacionado ao nível de gestão dos recursos humanos e de todo o processo produtivo, administrativo e financeiro da propriedade.
A base da tecnologia de arroz irrigado no RS é o Projeto 10. É preciso entender por que as produtividades evoluíram mais em algumas propriedades do que em outras.

E porque alguns produtores atravessaram os momentos de crises com menores sobressaltos do que outros.

O primeiro ponto que precisa avançar na lavoura de arroz é a capacidade de gestão dos agricultores: O grau de adoção de tecnologia nas propriedades está muito relacionado ao nível de gestão dos recursos humanos e de todo o processo produtivo, administrativo e financeiro da propriedade. Boa parte dos ganhos de produtividade nesse período não ficaram com os produtores. Ficaram diluídos na cadeia produtiva.

Como no passado, nós já temos tecnologia para produzir 2 t/ha a mais. Mas não pode aumentar a área cultivada. Pelo contrário, para atingir estes patamares é necessário não cultivar as áreas de risco, as com baixo potencial produtivo ou aquelas cujo custo de produção é maior.
Por exemplo, áreas de quarto levante ou com contratos de arrendamento elevados. Nestas áreas, pode-se cultivar soja ou ter pecuária intensiva.

Não esperem que o governo faça um pacote de bondades aos arrozeiros gaúchos ou que o preço do arroz recuperará permanentemente a defasagem dos últimos 10 anos (300%). Com o dólar valorizado estamos exportando bem e as importações são mais difíceis. A pandemia trouxe valorização pontual. Mas, já vivemos o suficiente para afirmar que nem sempre será assim.

Por isto, temos que fazer por nós mesmos: produzir mais com menos custos e com melhor qualidade. Só assim competiremos com os arrozeiros de outros países do Mercosul e do mundo. A indústria brasileira vai continuar exportando produtos manufaturados para o Mercosul e para equilibrar a balança de pagamentos estes países vão enviar ao Brasil produtos primários como arroz, leite e carne.

É hora de fazer os investimentos que irão impactar no incremento de produtividade e/ou na redução do custo de produção. É preciso ter cautela em investimentos que somente gerarão uma conta a pagar. Em tempos de crise, como a do coronavírus, é momento de fazer poupança e as coisas que impactarão positivamente no nosso negócio.

Projeto 10: divisor de águas na cultura do arroz irrigado no Sul do Brasil com medidas exatas

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter