A nova fronteira do arroz

 A nova fronteira do arroz

Vista aérea de lavoura do sistema Provísia livre de plantas daninhas

Provísia, trará avanços em produtividade e controle de plantas daninhas

O atual cenário de plantas daninhas resistentes na produção de arroz do país, e muito especialmente no Sul do Brasil, preocupa os produtores e técnicos em função do grau de dificuldade de controle, e aumento dos custos, e o impacto na redução produtiva. Pouco mais de 15 anos depois de lançar uma tecnologia que revolucionou o controle de invasoras em arroz (o Clearfield – CL), vital para consolidar novo patamar de rendimentos na orizicultura gaúcha, a multinacional BASF, líder mundial na área de proteção às lavouras, confirmou ao mercado o lançamento do Sistema Provísia de controle de invasoras para a safra 2022/23. “Estamos reafirmando nosso compromisso com o agricultor, a agricultura e a segurança alimentar”, explica Paulo Sachet Massoni, especialista em controle de invasoras e da área de Desenvolvimento Técnico de Mercado da BASF.

O anúncio foi feito tão antecipadamente porque o sistema, já utilizado nos EUA, precisa de ações antecipadas dos agricultores e técnicos, como vamos ver ao longo desta matéria. “O método, por meio da resistência induzida ao mecanismo de ação de inibidores de ACCase, permitirá o controle seletivo em pós-emergência do arroz-vermelho, mesmo os resistentes a ALS, através do uso de sementes híbridas de alta produtividade e qualidade de grãos combinadas com um herbicida eficiente”, explica Massoni.

De acordo com Massoni, este sistema apresentará às áreas de cultivo solução para novos patamares de controle das principais plantas daninhas, o que possibilitará rodar diferentes mecanismos de ação e superar a resistência estabelecida. “Assim, reduzirá a pressão de invasoras resistentes aos inibidores de ALS, favorecendo a longevidade do Sistema Clearfield e da orizicultura gaúcha”, avalia.

O Sistema Provísia chegará no momento em que a lavoura de arroz passa por grandes desafios de controle das plantas daninhas. “Ele complementará o sistema produtivo, pois será introduzido com a rotação de culturas e práticas de manejo. Observando as recomendações, teremos a recuperação das áreas onde o Sistema Clearfield perdeu controle em função da resistência”, enfatiza Massoni. A tecnologia se somará as soluções já existentes em sementes, proteção de cultivo e a tecnologia Clearfield, para que juntas proporcionem ao produtor a possibilidade de avançar em produtividade, qualidade e rentabilidade nas suas lavouras, sem perder o foco na longevidade do sistema.

Além do vermelho
Embora uma das maiores dificuldades históricas da lavoura de arroz no Rio Grande do Sul seja a dificuldade no controle do arroz-vermelho, uma vez que pertence a mesma família do grão comercial, existem outras espécies de plantas daninhas que apresentam crescimento de relevância nas mais recentes temporadas e grande potencial para reduzir a produtividade das áreas em função da competição interespecífica. Neste sentido, segundo Paulo Massoni, o Sistema Provísia apresenta alto índice de controle para as principais espécies de Poaceae (gramíneas) que estão presentes nas lavouras de arroz como: capim arroz (Echinochloa spp.), milhã (Digitaria horizontalis), papuã (Urochloa plantaginea), pé de galinha (Eleusine indica) e capim do banhado (Panicum dichotomiflorum), entre outras. “Este aporte tecnológico se traduz como uma ferramenta capaz de superar as plantas daninhas de difícil controle no atual status da orizicultura”, agrega.

Referencial produtivo e sementes híbridas
A tecnologia Provísia será embarcada, inicialmente, em sementes de arroz híbridas e oferecerá uma base genética com alto potencial produtivo e qualidade de grãos com vantagens sobre cultivares convencionais. Os híbridos permitem a maior expressão da heterose, o chamado vigor híbrido. “Isso eleva a capacidade produtiva”, enfatiza o pesquisador Paulo Massoni, da BASF.

Para obter maior expressão gênica das combinações com as características desejadas, como alta produtividade e qualidade de grãos, a tecnologia utiliza técnicas avançadas como marcadores moleculares. Este é um fator que proporciona agilidade no processo de controle e produtivo e o lançamento de novos materiais em um curto período de tempo, traduzindo-se em ganho genético e ultrapassando a produtividade dos materiais atualmente no mercado.

Com os híbridos de arroz, a BASF entende possível entender e atender às necessidades de agricultores e consumidores. “A meta é gerar maiores produtividade e rentabilidade”, diz José Mauro Guma, gerente de Sementes de Arroz da BASF.

A produtividade dos híbridos de arroz apresenta potencial até 30% superior às cultivares comuns. Isto, em função das características de maior perfilhamento, vigor inicial, desenvolvimento radicular, panículas por área, grãos por panículas e resistência às doenças. Resulta de um trabalho de décadas agregado ao portfólio da BASF em 2018 na parceria com a AP Desenvolvimento de Arroz. O centro de desenvolvimento está em Penedo, Alagoas.

Quando a parceria foi anunciada, em novembro de 2018, a multinacional informou que naquele momento as sementes híbridas de arroz no Brasil não passavam de 4% do mercado, mas antecipou uma ousada meta de alcançar 25% alguns anos após lançamento do seu material, somando também as cultivares “comuns” que assumem agora a marca Lidero (Puitá INTA CL, Guri INTA CL e Memby Porã).

Fique de olho
O Sistema Provísia na safra 2022/23 deve ser implementado em área que passou por cultivo de soja, pastagem ou preparo de verão no ano anterior. Para a safra 2022/23, é importante respeitar as doses recomendada do herbicida Provísia 50 EC e fazer duas aplicações em pós-emergência, em virtude do fluxo de desuniforme do arroz-vermelho. As características químicas do herbicida fazem com que seja absorvido via foliar, sem efeito residual no solo.

Cultivares híbridas embarcadas com tecnologia produtiva e resistência a herbicida

Questão básica
O sistema de produção de sementes de arroz híbrido, seja pelo método de cruzamento ou locais isolados de produção, no Nordeste do Brasil, auxiliam a reduzir a disseminação de plantas daninhas pelas sementes “salvas” como ocorre em larga escala no Sul do país. A semente híbrida não pode ser salva, pois segrega, isto é, perde as características que foram obtidas no seu processo de hibridação.

No contexto da rotação de culturas

Recomendação de uso para o sistema Provísia
A fotografia demonstra a importância das duas aplicações do Provísia em pós emergência. As setas azuis demonstram o controle da primeira aplicação, e os círculos vermelhos apontam o segundo fluxo de emergência do arroz-vermelho, portanto a segunda aplicação em pós-emergência é fundamental para complementar o controle.

Atualmente, no RS os sistemas produtivos apresentam a rotação de culturas como base para viabilizar o aumento de produtividade e superação do impasse da resistência de plantas daninhas. Na safra 2020/21, o cultivo de soja em terras baixas equivale a 40% da área semeada com arroz, quase 370 mil hectares. Assim, o desenvolvimento sustentável passa pela estratégia de diversificação e integração de práticas que garantem rentabilidade e viabilidade produtiva.

No contexto de sistema produtivo com a integração de várias práticas de manejo e diferentes culturas em rotação, a BASF recomendará a utilização do Sistema Provísia. A recomendação pretende garantir a sustentabilidade, e a evolução do sistema de produção, bem com o desenvolvimento econômico dos produtores.

“O manejo correto de plantas daninhas é requisito para o sucesso. A BASF oferece no portfólio, herbicidas, sementes e sistemas capazes de associar o defensivo e a semente de alta genética”, diz Vitor Bernardes, gerente de Marketing de Arroz.

Paulo Massoni, do Desenvolvimento Técnico de Mercado da empresa, enfatiza que a recomendação para o produtor utilizar o sistema Provísia na safra 2022/23 exige pré-requisitos: na safra 2020/21, caso tenha utilizado Clearfield, é importante ter usado herbicidas em doses recomendadas (Kifix 140+140g/ha, e/ou Only 750ml/ha); observar a qualidade de sementes; época de semeadura; padrão de irrigação e não tolerar escapes de vermelho.

Após a safra 2020/21, o preparo de inverno precisa boa drenagem, uniformização do terreno pelo preparo do solo, tendo calagem e escarificação como práticas importantes pensando em rotação com soja na safra 2021/22. Por outro lado, há quem use pastagens ou, em menor proporção, preparo de verão. “É importante frisar a importância de aplicar rotação de sistema na safra 2021/22 onde não cultivar arroz CL. Assim, não teremos recomendação de uso do sistema Provísia em monocultura do arroz Clearfield x arroz Provísia.

Fique de olho
O Sistema Provísia na safra 2022/23 deve ser implementado em área que passou por cultivo de soja, pastagem ou preparo de verão no ano anterior. É importante respeitar as doses recomendadas do herbicida e as duas aplicações em pós-emergência, pelo fluxo desuniforme do arroz-vermelho. As características químicas do herbicida são para absorção via foliar, sem efeito residual no solo.

Muitos cuidados são necessários

Controle de arroz-vermelho e capim arroz com duas aplicações de herbicida em pós emergência
Buske: recuperação de areas marginais

Além da observância das duas aplicações de herbicida no Sistema Provísia, é fundamental a utilização do adjuvante recomendado, pois segundo a BASF, pode ocorrer redução de controle em até 20% só pela mudança deste componente. “É importante salientar a necessidade de cuidado na mistura de herbicidas, algumas delas acarretam antagonismo e causam baixa performance de controle”, enfatiza Paulo Massoni, especialista em plantas daninha da BASF.

As recomendações estão associadas ao objetivo alcançar maior eficiência de controle das plantas daninhas, assim como, proporcionar altas produtividades.

“Recomendamos que o produtor que aderir ao método, em caso de escape de arroz vermelho pela de dificuldade do manejo, falha na irrigação, novo fluxo de emergência ou efeito guarda-chuva da aplicação, realize intervenção para eliminá-lo e reduzir a probabilidade de ocorrer fluxo gênico entre o grão cultivado e a invasora, tornando-a resistente ao herbicida. Trata-se de uma ferramenta complementar no grande desafio de controle de plantas daninhas, capaz de alongar a efetividade do Sistema Clearfield, que está em 80% das lavouras semeadas, agrega Massoni.

Fabrício Marques, da Pedra Moura Consultoria, de Pelotas (RS) é um dos agrônomos que poderá recomendar o Sistema Provísia em situações pontuais aos clientes. “Seria o caso de uma área muito infestada de arroz vermelho, capim arroz, junco e angiquinho, uma vez que não é possível fazer rotação com soja e o produtor não quer deixar em pousio ou investir em pecuária. É uma situação peculiar, e pelas características, a ferramenta pode ser parte da solução”, observa.

Jair Buske, produtor de arroz em Agudo (RS), considera que a ferramenta para controlar ervas daninhas é importante e pode permitir a recuperação, em menor tempo do que com outras tecnologias, de áreas que repetem arroz há décadas e são inviáveis pela presença de invasoras. São casos em que o sistema CL não dá mais conta e nem é possível agregar a rotação de culturas. Mas, enfatiza que além do herbicida, será importante que o agricultor siga utilizando outras técncias de controle de escapes.

Mas, faz uma ressalva. “Na minha região, em que as lavouras são separadas apenas por uma taipa ou valeta, a tecnologia exige cuidado. Se do outro lado da taipa tiver arroz não resistente ao herbicida, temos o risco de deriva”, reconhece. Também considera que o fato da tecnologia estar “embarcada” em híbridos, ajudará na longevidade do sistema, evitando pirataria de sementes salvas, um dos fatores que contribuiu para prejudicar a efetividade do sistema CL.

Ferramenta importante, mas que requer cuidados

Conhecer o sistema é fundamental para o melhor resultado

O anúncio da chegada do Sistema Provísia à orizicultura brasileira entusiasmou produtores e técnicos, mas guarda ressalvas. A primeira é de que para usá-lo, o agricultor deve entender, adaptar-se e aplicar regras muito rígidas. Outra é de que, ao contrário da expectativa dos arrozeiros, não se trata de um “novo Clearfield”, com o mesmo impacto que este teve há 15 anos.

“Aquela tecnologia foi um divisor de águas há 15 anos. Esta trará, bem manejada e aplicada, longevidade ao CL e um controle eficiente para invasoras limitantes da lavoura comercial. Deve ficar claro que não se trata da ‘bala de prata’, mas uma ferramenta ao sistema de produção de arroz e que, para o bem da lavoura, precisamos preservá-la”, diz Valmir Gaedke Menezes, da Oryza & Soy Pesquisa e Consultoria Agronômica.
Menezes explica que, pelas experiências das lavouras dos EUA, o sistema soma-se de forma importante a outras práticas agronômicas, como rotação de culturas ou mesmo o pousio e rotação com o CL, e deve ter bons resultados. “A durabilidade desta eficiência será determinada pelo agricultor”, frisa, lembrando que o Sistema CL perdeu a eficiência em parte das lavouras em três anos pela inobservância das regras pelos agricultores.

Na época, o uso de sementes salvas – trocada ou comercializada – e aplicação contínua de uma única tecnologia – e subdosagem ou uso de defensivos não oficiais pela sua facilidade e conforto, selecionou a resistência das invasoras e ampliou o problema. “Com o uso de híbridos e o amadurecimento dos agricultores em gestão de tecnologias, o comportamento em torno da segurança do sistema tende a ser outro. O produtor sabe que o erro custa caro”.

Este será um sistema complementar para estratégia de manejo de plantas daninhas, em especial gramíneas resistentes aos grupos das ALS´s e Imidazolinona, casos do Kifix e Imazethapyr. Para Valmir Menezes, a adoção do mecanismo será pontual. “Devemos estudar a realidade de cada área e onde se aplica a tecnologia”, destaca. O agrônomo entende que o uso da tecnologia deve ser associado ao manejo precoce de irrigação e controle de escapes de invasoras.

A aplicação ocorrerá nos estágios iniciais, com três a quatro folhas, e a segunda deverá variar de 10 a 15 dias, dependendo da época, do clima e desenvolvimento.

A primeira é importante que seja precoce e a segunda para a véspera da irrigação. A lâmina de água precisa cobrir toda a área no menor tempo possível. “O produto é diferente, mas o manejo não é tanto”, observa.

Informação
Para Rodrigo Schoenfeld, do Irga, é importante frisar que técnicos e produtores ainda estão aprendendo sobre o sistema, que será complementar a outras ferramentas. Por isso, a informação será muito importante.
“O produtor terá de aprender a usar um sistema dentro do outro: o controle de invasoras estará integrado a outros programas e métodos e a um sistema de produção que envolverá parcialmente soja, pastagens, milho mais tarde, o arroz CL, entre outras opções e moléculas”.

Roguing é uma das técnicas recomendadas para evitar escapes se necessário

Arrozeiro não pode repetir os erros do CL

“Na difusão do Sistema Provísia não podem ser repetidos os erros que foram cometidos no uso da tecnologia CL. Precisamos entender que este tipo de tecnologia não resolve todos os problemas de invasoras e, principalmente, do arroz vermelho, mas se trata de uma ferramenta importante para o seu controle nas lavouras”. Essa é a opinião do engenheiro agrônomo Ramiro Alvarez de Toledo Lutz, da Vetagro Consultoria, de Uruguaiana (RS).

Como toda e qualquer tecnologia, a do arroz Provísia é uma ferramenta importante, mas diferentemente do sistema CL, não é exclusiva para o controle de plantas invasoras. “Faz parte de um arranjo mais complexo do manejo da lavoura de arroz onde até a rotação de culturas deve ser analisado.

Esta preocupação garantirá uma vida de uso da tecnologia maior do que a registrada com o sistema CL, que já apresenta áreas com resistência ao herbicida, aumentando custos e reduzindo produtividade”, observa Lutz.

Ainda segundo ele, a expectativa pelo uso do Sistema Provísia é alta, mas é preciso ter consciência de que se deve utilizá-la com preparo antecipado, dessecações bem feitas, semeadura na época recomendada e entrada de água o mais precoce possível. “A utilização do herbicida Provísia deverá garantir a limpeza da área, mas se isso não ocorrer, o produtor poderá se utilizar de outros recursos, mesmo herbicidas ou até a limpeza manual (roguing) para a erradicação da invasora”, alerta.

O Sistema Provísia da BASF deve ser comercializado já a partir do fim da próxima safra, no primeiro semestre de 2022, e é formado pela semente híbrida com resistência ao herbicida, o herbicida propriamente dito e o adjuvante. Além disso haverá intenso trabalho de transferência de tecnologia visando os melhores resultados produtivos e a eficiência do sistema na lavoura.

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