A panela transbordou

 A panela transbordou

Super safra: excesso de produção afetou o mercado e exige soluções

Cadeia produtiva busca alternativas para escoar o excedente de arroz no mercado interno
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Na safra 2010/11, o Brasil conseguiu bater seu próprio recorde de produção de arroz: 13,6 milhões de toneladas, segundo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Com este volume, o país ultrapassou em quase 1 milhão de toneladas o seu consumo no mercado interno, o que, somado aos estoques do governo e às importações do Mercosul, acabou gerando um grande excedente. O problema só foi resolvido, em parte, porque o governo federal incentivou as exportações através de mecanismos como o Prêmio de Escoamento de Produto (PEP). Mas a crise do setor, decorrente do achatamento dos preços – pela superoferta do cereal – e do endividamento dos produtores, ainda está longe de ser sanada.

A previsão da cadeia produtiva é de que este quadro seja agravado ainda mais a partir da nova safra, estimada pela Conab entre 12,3 e 12,7 milhões de toneladas. Para a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), a fórmula para equacionar estas disparidades passa invariavelmente pela busca de alternativas economicamente viáveis para escoar este excedente e garantir a sustentabilidade da cadeia produtiva. O incremento das exportações, a criação de uma campanha nacional para incentivar o consumo, a rotação cultural com a soja e até a utilização do arroz para a produção de biocombustíveis e ração animal são algumas alternativas que começaram a ganhar destaque – e atenção da mídia – ao longo deste ano.

De acordo com o presidente da Federarroz, Renato Rocha, o uso alternativo do arroz não é apenas economicamente viável, mas indispensável para a manutenção da cadeia produtiva: “Este excedente de produção está se virando contra nós – e não só contra nós produtores, mas contra o governo do Rio Grande do Sul, pelo peso econômico e social que tem a lavoura. A Federarroz assumiu a liderança e está à frente dessas iniciativas, atuando politicamente na busca de mecanismos de apoio às exportações, no incentivo às doações humanitárias, na condução de estudos que viabilizem a produção de etanol a partir de arroz, na destinação do produto de baixa qualidade para a alimentação animal e na criação de uma campanha nacional em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Rede Globo para o aumento do consumo de arroz e feijão”, explica o dirigente.

Na avaliação do diretor da Agrotendências Consultoria em Agronegócios, Tiago Sarmento Barata, as propostas de diversificação que vêm sendo discutidas, caso do cultivo de soja em várzeas, direcionamento de arroz para ração ou biocombustível, fazem parte da necessária mudança estrutural da cadeia produtiva do arroz no Rio Grande do Sul. “Historicamente, o Brasil operou com déficit no abastecimento de arroz. Em função disso, a importação de arroz uruguaio, argentino e mais recentemente paraguaio era conveniente para suprir a necessidade. Hoje, temos superávit, mas as importações continuam ocorrendo porque os países do Mercosul possuem grandes vantagens competitivas em relação ao produto nacional”, informa.

Concentração

Tiago Sarmento Barata observa que os efeitos dessa conjuntura são ainda mais prejudiciais ao RS, estado onde o excedente está concentrado. “Há, portanto, uma grande pressão para que esse produto seja escoado, forçando a desvalorização. Aqui, acho importante salientar que será um desafio fazer com que estas alternativas para escoar o excedente que estão sendo discutidas tenham continuidade também em anos de preços bons para o arroz. Quando o mercado está ruim, surgem muitas fórmulas – tidas como ‘mágicas’ -, mas depois, quando o mercado melhora, elas são abandonadas”, argumenta.

Para entidades representativas da cadeia produtiva, como o Sindicato das Indústrias de Arroz do RS (Sindarroz-RS), Associação Brasileira das Indústrias de Arroz (Abiap) e Federação da Agricultura do RS (Farsul), as propostas para equalizar o excedente de arroz no mercado são válidas, mas “pontuais em alguns aspectos”, como é o caso do uso de arroz para ração animal. “É interessante no momento porque o preço do milho está alto, mas não vejo como possa ser feita uma política de fornecimento permanente para atender as indústrias de aves e suínos”, exemplifica o presidente do Sindarroz-RS, Elton Doeler.

FIQUE DE OLHO

O presidente da Abiarroz, André Barreto, defende que o caminho a ser seguido para estabilizar a atividade orizícola é o incremento das exportações. “A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e a Abiarroz assinaram, durante a 34ª Exposição Internacional de Animais, Máquinas, Implementos e Produtos Agropecuários (Expointer), em Esteio (RS), o primeiro projeto para estruturar um planejamento de exportação de arroz. Com isso, vamos criar um modelo exportador no estado”, garante.

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