Aí que mora o perigo
A divulgação e um estudo comparativo dos relatórios anuais do Programa de Análises de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), destacou alguns pontos que merecem cuidados especiais. Por exemplo, cinco amostras de arroz apresentaram resíduos em concentrações acima do limite máximo de resíduos (LMR) relativos aos agrotóxicos cipermetrina (inseticida) e tebuconazol (fungicida).
Das amostras analisadas, 26 apresentaram resíduos de agrotóxicos não autorizados para uso na cultura de arroz, sendo predominantemente de inseticidas. Destas, 10 foram consideradas insatisfatórias exclusivamente por conter resíduos não autorizados em concentrações inferiores a 0,01 miligrama por quilo.
O uso de agrotóxicos não autorizados não respeita requisitos de adequação agronômica, toxicológica e ambiental estabelecidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Anvisa e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), respectivamente.
O relatório também apontou um número expressivo de detecções de agrotóxicos do grupo dos benzimidazóis, triazóis e neonicotinoides. Isso gera preocupação, pois fungicidas do grupo químico triazol não são recomendados pela Comissão Técnica do Arroz Irrigado para o controle de doenças na cultura do arroz irrigado, especialmente da brusone. “O controle químico de insetos na fase de formação dos grãos de arroz pode gerar residual e isso deve ser uma preocupação do produtor e da assistência técnica na tomada de decisões”, afirma a pesquisadora Maria Laura Turino Mattos, da Embrapa Clima Temperado.
Segundo ela, ficou evidenciado o aumento do uso de fungicidas e inseticidas nas lavouras de arroz das regiões orizícolas monitoradas pelo Programa de Análises de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos. “Espera-se que tal situação não mantenha essa trajetória nos próximos anos, pois a orizicultura deve manter-se diferenciada pela adoção de boas práticas agrícolas, sendo necessário para isso intensificar a racionalização do uso de agrotóxicos”, destaca.
Mais rigor
Nos próximos anos o Para pretende aumentar o número de alimentos monitorados de 25 para 36, os quais terão abrangência de mais de 90% dos alimentos de origem vegetal consumidos pela população brasileira, segundo dados do IBGE. O número de amostras coletadas também se ajustará à realidade de consumo de cada alimento em cada estado. Além disso, o programa ampliará o número de agrotóxicos pesquisados nas amostras, incluindo substâncias de elevada complexidade de análise, como glifosato e o 2,4-D, entre outras. A agência também está acompanhando o desenvolvimento de metodologias para avaliação do risco cumulativo, ou seja, quais são os riscos à saúde resultantes da ingestão de alimentos contendo resíduos de diferentes agrotóxicos com mesmo efeito tóxico.