Para a sua proteção

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Arroz polido e arroz integral foram testados pela agência

Anvisa publica relatório
que garante a segurança
do arroz para o consumidor
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 A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou no final de 2016 um relatório comparativo do Programa de Análises de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para) apontando pela primeira vez os riscos dos resíduos à saúde. Foram avaliadas 12 mil amostras de alimentos ao longo de três anos – de 2012 a 2015 – e o arroz esteve entre os produtos com melhor desempenho. No entanto, a avaliação técnica disparou alguns alertas para a cadeia produtiva, como o aumento significativo do uso de inseticidas e fungicidas.

Maria Laura Turino Mattos, doutora em ciência do solo e pesquisadora na área de microbiologia agrícola e ambiental na Embrapa Clima Temperado, de Pelotas (RS), avaliou os resultados e fez algumas considerações especialmente para os leitores de Planeta Arroz.

Segundo ela, em relação ao número de amostras analisadas para o grupo em que está inserido o arroz (Grupo 1), o potencial de risco agudo à saúde do consumidor é nulo (zero), ou seja, não foram identificadas amostras nas quais houve detecção de agrotóxicos. Ao contrário, para o Grupo 2 (laranja, abacaxi, couve, uva, alface, mamão, morango, manga, pepino, feijão, goiaba, repolho e maçã) foram identificadas amostras com potencial de risco agudo, com destaque para o número de amostras de abacaxi e laranja, sendo a maior parte desses riscos relacionados à detecção do inseticida carbofurano.

Assim se evidencia que os grãos mais consumidos pelos brasileiros, como arroz, trigo (pão) e farinha de mandioca e de milho, atualmente se enquadram na categoria de alimentos seguros quanto aos resíduos dos agrotóxicos monitorados. “É importante salientar que no caso do arroz foi investigado somente o polido, não sendo investigados parboilizado e subprodutos como casca, quirera, farelo e farinha”, destaca.

Com isso, o perfil do uso de agrotóxicos no período pesquisado aplica-se somente ao arroz polido no planejamento amostral (479 amostras analisadas coletadas no Rio Grande do Sul) que foi realizado. O método analítico de multiresíduos empregado permitiu analisar distintos ingredientes ativos que estão registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa-Agrofit) para uso na cultura do arroz, com exceção dos ditiocarbamatos, glifosato e 2,4-D.

Boas práticas

A rastreabilidade somente foi possível até o embalador ou fabricante, não chegando até o produtor, ou seja, segmento campo, onde é preconizada a aplicação de boas práticas agrícolas (BPA). “BPAs inerentes ao uso de agrotóxicos estão sendo aplicadas por número significativo de rizicultores, principalmente no Rio Grande do Sul, necessitando, porém, serem intensificados os esforços para ampliar a adoção dos princípios do manejo integrado de pragas (MIP) nos arrozais. Desse modo, o perfil do uso de agrotóxicos na cultura do arroz atingirá um grau maior de adequação em relação à segurança do alimento e ambiental”, explica a pesquisadora.

Com base nos levantamentos de resíduos de agrotóxicos em produtos alimentares dos grupos 1 e 2 pode ser inferido que há maior adequação de uso a BPA no contexto do Grupo 1, onde o arroz está inserido. Destaca-se que em arroz resíduos de agrotóxicos foram detectados em 32% das amostras, porém em concentrações inferiores ao limite máximo de resíduos (LMR) (0,01 miligrama por quilo). “Dentre 167 agrotóxicos pesquisados em arroz, 33 foram detectados, sendo tebuconazol (228 amostras), pirimifós-metílico (64 amostras) e cipermetrina (27 amostras) os mais frequentes. Esses agrotóxicos não são recomendados pela Comissão Técnica do Arroz Irrigado (CTAR) para uso na cultura no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, e nesse ponto é preciso ter mais cuidado”.

Conforme, mas em alerta

Os resultados detalhados apontados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Programa de Análises de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para) sinalizam que houve aumento no uso de fungicidas e inseticidas nas lavouras orizícolas que não condiz com o avanço tecnológico obtido por essa cadeia, principalmente no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Por isso, Maria Laura Turino Mattos entende que o setor arrozeiro deve intensificar a adoção das “Recomendações técnicas da pesquisa para o sul do Brasil,” editada pela Comissão Técnica do Arroz Irrigado (CTAR), nas quais são indicadas tecnologias de produção balizadas em boas práticas agrícolas (BPAs).

Adicionalmente, é importante apoiar-se nas normas técnicas da produção integrada de arroz (PIA), recentemente publicadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que preconizam a adoção de boas práticas e podem comprovar (via rastreabilidade, inclusive “certificação”) a realização de um trabalho comprometido com a segurança do alimento e do meio ambiente. A cadeia orizícola deve trabalhar na premissa da qualidade, pois a quantidade já foi conquistada e dificilmente será o diferencial para o mercado brasileiro e quiçá internacional. A cadeia precisa ousar para destacar o arroz como alimento seguro para consumidores de todas as faixas etárias e de renda. O selo Brasil Certificado é o caminho.

Segundo o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Henrique Dornelles, o resultado do levantamento retrata o profissionalismo e a responsabilidade com que trabalham os produtores de arroz em conjunto com o trabalho dos centros de pesquisas para conscientizar os agricultores. “Esse status, que foi ratificado, aumenta ainda mais nossa responsabilidade como produtores de alimentos. Alimentos esses que inclusive servem à alimentação de recém-nascidos. Fico orgulhoso de ser representante de produtores responsáveis, que aplicam defensivos conforme recomendação”, comemora.

AMBIENTAL
A avaliação da concentração de resíduos de agrotóxicos em grãos polidos de arroz que resultaram numa indicação de risco zero quanto à segurança alimentar não reflete (de modo positivo ou negativo) o impacto das atuais práticas de manejo adotadas nos arrozais (principalmente para o controle de pragas), no meio ambiente e, indiretamente, em cadeias produtivas associadas, como pecuária e pesca, segundo a pesquisadora Maria Laura Turino Mattos, da Embrapa Clima Temperado. Ela entende que para conhecer reflexos ambientais haveria necessidade de monitorar matrizes ambientais (água, solo, bioindicadores) dentro e ao entorno dos arrozais (sistema natural).

Predominantemente, as aplicações de agrotóxicos nos arrozais são realizadas em épocas anteriores àquelas em que os grãos (em formação ou já formados) são atingidos pelas caldas, com exceção de algumas pulverizações (tardias) de fungicidas e inseticidas, que oportunizam maior risco de contaminação.

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