Ainda deve ser melhor!

Safra entra com preços baixos e preocupa o setor
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Se forem levadas em conta as análises de novembro de 2006 para a safra em andamento, os preços do arroz em casca deveriam estar oscilando num patamar entre o mínimo de R$ 22,00 e o máximo de R$ 28,00. Diante do cenário que se apresentava no último trimestre do ano passado, tudo indicava um pico de entressafra de preços próximos do custo de produção da safra atual, estoques privados praticamente zerados e forte demanda de produto do setor industrial. 

Mas, no meio do caminho, uma variante desse cenário não se confirmou: o estoque privado era maior no Rio Grande do Sul e o produtor ofertou como nunca quando os preços, a partir de novembro, entraram em declínio. A valorização do real e ligeira recuperação de preços fizeram com que as importações do Mercosul batessem recordes no ano, e o Governo, com apoio da indústria e a concordância dos produtores, lançou leilões de venda de arroz. 

Foi um estouro de boiada. A queda só foi desacelerada com a confirmação oficial (o anúncio por si não gerou impacto na desvalorização do produto) de que o dinheiro para os mecanismos de sustentação de preços do Governo Federal já estava chegando aos bancos. A garantia de contratos já para a 17ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz, em São Gabriel (RS), levou o mercado de descontrolado a receoso, com ligeiros momentos de esperançoso, principalmente no que diz respeito aos produtores. A oferta diminuiu. 

ERRO – O erro na avaliação dos estoques tem dezenas de explicações: desde o início da safra em alguns pontos do Brasil antes do levantamento da Conab (anunciado em fevereiro), até importações ilegais e subestimação da produção na safra passada. A verdade, enfim, é que além dos estoques públicos, que superam as 900 mil toneladas no Rio Grande do Sul, há mais uma quantia considerável de produto na mão dos produtores e outra na indústria. E a nova safra está chegando. 

Para o analista da Safras & Mercado, Tiago Sarmento Barata, esse comportamento atípico de preços se justifica pelo baixo interesse de compra do varejo, que espera preços menores na entrada da nova safra, a importação do Mercosul (quase 300 mil toneladas de novembro a janeiro) e leilões de estoques públicos. Pesou também a pressão de oferta dos produtores. 

                Safra 2006/2007                                          Escolha sua estimativa 

Fonte Área ha Produtividade Kg/ha Produção t
SAFRAS 3.086 3.701 11.423
USDA 3.000 3.700 11.324
IBGE 2.971 3.737 11.103
CONAB 2.997 3.775 11.315

 

De novo o segundo semestre

A gestão da oferta por parte dos produtores deve ser o principal direcionador dos rumos do mercado nos próximos meses. Com um grande volume de dívidas dos produtores vencendo no período de entrada da nova safra, a tendência é que haja uma concentração das liquidações nos primeiros meses do ano safra, embora um grande esforço esteja sendo empregado para que ocorra a liberação de recursos para apoiar a comercialização da safra de forma escalonada evitando assim a superoferta. 

A liberação de R$ 700 milhões do Governo Federal para mecanismos de comercialização (AGFs, EGFs, CPRs, opção e pré-comercialização) é, sem dúvida, um importante apoio, mas alguns pontos ainda precisam ser melhor avaliados para maximizar os efeitos destes recursos no mercado, segundo Tiago Sarmento Barata, da Safras & Mercado. As dúvidas são se os produtores que tiverem dívidas (a maioria) terão acesso a esse recurso. Será que as indústrias de beneficiamento terão interesse em receber, para depósito, arroz envolvido em negociações com o Governo Federal? “Acredito em preços abaixo do mínimo e recuperação (lenta) a partir de julho”. 

O superintendente de gestão de oferta da Conab, Paulo Morceli, revela que esperava um ano de maior tranqüilidade para o setor. “Na prospecção feita em agosto de 2006 para esta safra, se previa um ano com o mercado remunerando melhor o produtor. Entretanto, o comportamento neste início de colheita nos deixa preocupados”, revela. Por isso, explica, é firme o propósito do Governo Federal em dar sustentação aos preços neste primeiro momento. O entendimento é que se for retirada a pressão de oferta (física e psicológica) do mercado, tudo deve se ajustar. “É por isso que estamos buscando atuar de forma agressiva no início da colheita, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, pois entendemos que se o mercado do Sul recuperar não teremos problemas nos demais”, afirmou. 

Camilo Feliciano de Oliveira, analista do Irga, acredita que se os mecanismos forem bem utilizados, o preço poderá reagir logo após a safra, pois possibilitam aos produtores a liquidação de parte da colheita sem superofertar o mercado à vista (privado). A dificuldade de encontrar armazéns poderá causar problemas ao processo. De novo, espera-se preços melhores no segundo semestre.

Questão básica
Variáveis, que não diretamente os estoques, produção e consumo, também são importantes ao analisar o comportamento de mercado, segundo o sócio-economista do Irga, Camilo Feliciano de Oliveira. Segundo ele, o câmbio aparece como a principal. “Em 2006, a média de cotação da moeda estadunidense foi de R$ 2,24/dólares, enquanto em 2007 a média caiu para R$ 2,12/dólares, uma redução de 5,4%, resultado que muito preocupa a produção nacional”, explica Oliveira. Ainda de acordo com o analista, esta situação reduz a competitividade do arroz brasileiro no mercado internacional, dificultando as exportações. A cotação baixa do dólar facilita a entrada de arroz importado do Mercosul. “Uma cotação muito baixa, porém, pode significar a entrada de arroz de qualquer parte do mundo”, alerta.

 

Já existem alguns cenários para 2007

É possível desenvolver alguns cenários sobre o mercado do arroz em 2007, segundo o socioeconomista do Irga, Camilo Feliciano de Oliveira. “A produção mundial inferior ao consumo provavelmente manterá os preços internacionais em alta, reduzindo a possibilidade da entrada de arroz importado de terceiros mercados (fora do Mercosul)”, afirma. Argentina e Uruguai terão uma disponibilidade menor de produto para exportar, devendo priorizar o atendimento aos novos mercados, o que também contribuirá para uma menor oferta de arroz importado do Mercosul. A produção brasileira será 2,3% inferior à safra passada e insuficiente para o abastecimento interno. O Governo Federal sinaliza com recursos abundantes para o arroz a fim de cumprir a legislação, garantindo ao produtor o recebimento do preço mínimo (R$ 22,00/saco de 50 quilos). 

Por outro lado, o real valorizado reduz o preço de paridade internacional, pressionando o mercado interno a não elevar rapidamente os preços. E mais, caso o preço eleve-se acima do pico verificado no ano passado, há a possibilidade do Governo Federal intervir no mercado vendendo seus estoques a fim de manter estabilizado o valor da cesta básica. Assim, com esta conjuntura projeta-se um ano com rentabilidade positiva para os produtores, com tendência de alta constante ao longo do ano, sem elevações abruptas nos valores pagos aos produtores.

 

R$ 700 milhões para o arroz

O Governo Federal conseguiu, na safra 2006/2007, surpreender positivamente a cadeia produtiva do arroz, o que é muito raro, com a liberação de recursos para o custeio da comercialização, os chamados mecanismos de opção. Foram liberados R$ 700 milhões para AGFs e EGFs, considerando também outros mecanismos, como CPRs e leilões de opção. Os recursos estão sendo contratados, já com a assinatura e recebimento de alguns contratos, na 17ª Abertura Oficial da Colheita, em São Gabriel (RS). 

O primeiro leilão será realizado no auditório da festa, com oferta de 3.330 contratos para o Rio Grande do Sul e 370 para Santa Catarina, com preço de exercício para entrega em setembro em R$ 25,00 por 50 quilos, para o tipo 1, 58×10. O produtor terá a opção de antecipar a entrega, com desconto de R$ 0,50 por saco/mês. As operações estarão limitadas em 10 contratos por leilão e de 20 por CPF. Também serão feitos AGF de arroz durante o evento, além do que o Banco do Brasil estará operando com EGFs.

ARMAZÉNS – Quanto à preocupação do setor com a disponibilidade de armazéns no Rio Grande do Sul para o produto garantido ou comprado pelos mecanismos do Governo Federal, o superintendente estadual da Conab, Carlos Farias, tranqüiliza o setor. Ele informou que a armazenagem do arroz conta com cerca de 2,5 milhões de toneladas de capacidade estática e que, aproximadamente, a metade fica ociosa. Segundo ele, atualmente existe uma capacidade em torno de 1,5 milhão de toneladas em armazéns particulares aptos, sem contrato com a Conab. O deputado Luís Carlos Heinze salienta a dispersão desses armazéns e os custos de frete suscitados por esta situação. O presidente da Federarroz, Valter Pötter, sugere que o Governo indenize os produtores pelo custo com o frete.

Uma dúvida?
O que pode atrapalhar os mecanismos?

O principal fator que poderá atrapalhar os mecanismos de comercialização é a falta de armazéns. Levantamento da Conab indica que o Rio Grande do Sul e Santa Catarina têm armazéns cadastrados em volume suficiente para receber o produto dos programas de comercialização do Governo Federal. O que não se percebe é interesse das empresas, pois já estão com quase um milhão de toneladas de produto oficial e precisam movimentar, na safra, as produções próprias, de parceiros ou dos produtores depositantes. Uma alternativa seria cadastrar silos de produtores, mas a operação é muito complexa.


IN OFF
O levantamento da Conab bateu em um muro quando tentou levantar os estoques privados das indústrias de arroz. Apenas 27% delas responderam ao questionário. 

 

 
 
 

 

 

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