Além do horizonte

Acredite: o Brasil, único pais que pode ampliar sua produção horizontal, ainda pode ser exportador de arroz .

O excedente na produção de arroz pelo Brasil e seus parceiros do Mercosul, que gerou seria desvalorização do produto nas safras 98/99 e 99/2000 e até o final da colhei­ta 2000/2001, poderá se tomar um importante produto de exportação. Existe uma forte corrente de analistas de mercado e mesmo lideranças envolvi­das com o setor que citam for­tes indícios de que num prazo de 10 anos a demanda mundi­al de grãos, principalmente arroz e trigo, aumentará a ponto de exigir a ampliação das fronteiras agrícolas mun­diais e tornar o Brasil um grande celeiro da produção orizícola.

Em uma palestra para as lideranças do setor, em Porto Alegre, esta expectativa foi ci­tada pelo assessor da Câmara de Comercio Exterior do Go­verno Federal, Antônio Martinho Arantes Lício. Sua tese está baseada no fato do Brasil ser o único pais do mun­do em condições de aumentar sua produção horizontal, ou seja, ampliar a área plantada. "Outros países produtores de arroz, principalmente os da Ásia, já estão com suas áreas esgotadas e só podem aumen­tar a produtividade", explicou Lício. "No entanto, não há grandes perspectivas tecnológicas para o salto de produção ou produtividade necessário", acrescentou.

Para chegar a esta conclusão, o assessor da Camex lem­bra que entre o final dos anos 70 e o inicio dos anos 80 a ren­da do setor agropecuário, prin­cipalmente da orizicultura, era estável. Este fator, frisa, foi desencadeado pela associação de vários fatores. Um deles, no entanto, se destaca: a revolução tecnológica. "No começo dos anos 70 a descoberta e ini­cio dos trabalhos com produ­tos híbridos (milho principal­mente), adoção do uso em es­cala de adubos químicos e de­fensivos e alto grau de tecnificação no arroz irrigado foram responsáveis pelo gran­de salto da produção mundial de grãos", avaliou.

OS FEITOS DA REVOLUÇÃO 

As mudanças em 100 anos

A revolução tecnológica aumentou em 150% a produção de grãos e de carnes no mundo
No mesmo período a população aumentou 70%
O resultado foi uma pressão de oferta e baixa de preços
Atualmente o mercado internacional passa pela fase de menor nível de preços e maior nível de disponibilidade de produtos agrícolas
Mais de 3,5 bilhões de pessoas estão comendo arroz no mundo

 

A Força do Sol Nascente

A perspectiva de melhoria de renda das populações dos países emergentes e o natural crescimento demográfico devem colocar mais de um bilhão de consu­midores com maior potencial no mercado consumidor de ar­roz nos próximos 10 anos na China, na Índia, no sudeste asiático e nas Américas. "Esta situação irá demandar maior produção de alimentas para abastecê-las e estas áreas são basicamente consumidoras de arroz, o que nos leva a concluir que em 10 anos haverá uma grande retomada de cresci­mento no setor", diz o asses­sor da Câmara de Comércio Exterior do Governo Federal, Antônio Martinho Arantes Lício.

O diretor-executivo do Fundo Latino-americano e Caribe de Arroz Irrigado (Flar), Luiz Sanint, assegura que para onde for a China, irá o mercado mundial de arroz. "Se a China entrar no merca­do importando, será muito bom para o produtor brasilei­ro e da América do Sul", diz Sanint. Segundo o pesquisador da Embrapa Agroindústria de Alimentos, José Luiz Viana de Carvalho, esta expectativa da China importar alimentos em grandes quantidades existe há mais de 10 anos e não se cum­pre. "O argumento da falta de água é antigo, mas os chine­ses sempre conseguem se su­perar na produção", afirma. O mercado internacional do ar­roz movimenta volumes mui­to baixos e qualquer pressão de demanda ou oferta altera em muito os preços internacionais.

 

O Brasil precisa se preparar

O Brasil precisa estar preparado para aten­der uma maior demanda mundial de grãos com políticas e infra-estrutura adequadas para a exportação. O assessor da Camex, Antônio Martinho Arantes Lício, explicou que na área do arroz, principalmente, o Brasil não tem cul­tura exportadora e até os anos 90 mantinha um mercado fechado. "A falta desta cultura di­ficultou, em 2000, a exportação de ao menos alguma parte dos excedentes das boas safras orizícolas", explicou. Ele reconhece que são necessárias ferramentas que favoreçam a ex­portação.

Entre outras medidas, entende como meritória a tentativa das entidades orizícolas em demonstrar ao Ministério da Fazenda que há um gasto maior com a manutenção de grandes esto­ques públicos do que seria necessário para esta­belecer um programa de incentivo inicial a ex­portação. Ha um custo aritmético de R$ 500 mi­lhões, mas há um passivo agregado referente as perdas e custos embutidos. O especialista em comercio exterior admitiu: "O Brasil não dá subsídios por falta de caixa, e não por falta de re­gras. Se todos os países dão, o Brasil também pode dar", definiu.

 

MERCOSUL

Uma das possibilidades do Brasil tornar-se um grande exportador e levar para este mer­cado também os países do Mercosul e a elaboração de uma estratégia de exportação de ar­roz pelo bloco econômico. Reunindo Uruguai e Argenti­na e identificando mercados consumi­dores interessados, o Brasil tem mais chances de atingir seus objetivos inici­ais. "E possível re­solver o nosso pro­blema exportando o nosso excedente e o dos parceiros do Mercosul, evitando que essa produção venha toda para o Brasil", disse.

 

ÁFRICA E ORIENTE MÉDIO

A possibilidade de expor­tar em bloco para alguns países africanos e do Oriente Médio existe, mas ainda é travada por questões inter­nas e externas que vão da fal­ta de competitividade de nos­sos portos e condições de com­petir lá fora. "Num futuro próximo, o bloco mantendo uma produção maior do que o consumo, seria possível pas­sar a exportar até dois mi­lhões de toneladas", explicou Lício. Porém, reconhece que isso pode influenciar com queda de preços o mercado in­ternacional, pois poderá re­presentar até 10% do volume de arroz comercializado no mercado mundial.

 

ÁSIA

Países grandes produtores e grandes consumidores de arroz, como a China, a Índia, o Japão, a Tailândia e o Vietnã, entre outros territórios do sudeste asiático, estão com grandes problemas para aumentar a produção. Há grandes investimen­tos em pes­quisas para um aumento vertical, através da produtivida­de, já que as áreas e as reservas de água estão esgo­tadas. Na China, por exemplo, a água disponível para as lavouras é limitada. O pais é banhado por apenas dois rios de porte expressivo (Rio Vermelho e Rio Amarelo).

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter