Aquele 1 por cento
O Brasil descobre as
cores e sabores dos
arrozes especiais .
O consumo de arroz no Brasil gira em torno de 11,5 milhões de toneladas ao ano (base casca), com a média per capita anual de 55 quilos por habitante. A estimativa é de que 68% do cereal é consumido branco, polido. Outros 25% representam o mercado do parboilizado e dos 7% restantes, 6% é arroz integral – parboilizado ou não –, mas tem aquele 1% que está dando o que falar. Trata-se dos tipos especiais de arroz que começam a cair no gosto do consumidor, seja pelo foco da alimentação saudável, pela “gourmetização” dos pratos ou, ainda, porque é possível encontrá-los em qualquer supermercado, mesmo do interior.
Mas o que desperta mais atenção das indústrias e do varejo é que este nicho comercial cresceu cinco vezes mais do que os outros tipos nos últimos três anos. Neste ritmo, dobra de tamanho em mais três. E não faltam aliados: o apelo clean label, e free from; os restaurantes self-service que oportunizam acesso às variedades diferentes; programas de culinária da TV e internet que têm se propagado em velocidade e número espantosos e tratam os arrozes especiais como celebridades culinárias; a exigência dos supermercados em mais variedades para oferecer aos seus clientes; a demanda do consumidor focado em alimentação saudável; a necessidade da indústria em inovar seus produtos diante da queda de 800 mil toneladas (6,5%) registrada em 10 anos no consumo médio do Brasil.
Ainda que representem 1% do mercado nacional, algo entre 115 e 120 mil toneladas ao ano, e os preços sejam até 10 vezes maiores que um quilo de arroz branco tipo 1, as grandes indústrias embarcaram de vez nesta tendência.
A Josapar, segunda maior processadora do grão no país, saiu na frente e tem a maior gama de produtos considerando as variedades mundiais, farinha de arroz, pré-cozidos e refeições rápidas, e inovou com a chegada do arroz doce.
A Camil Alimentos, líder brasileira em processamento e venda do grão, também lançou sua linha gourmet, com seis produtos, mas trabalha um portfólio de novos itens que devem chegar ao mercado nos próximos dois anos. Outras empresas seguem o mesmo caminho.
Predominam entre as variedades alternativas de arroz o preto, o vermelho, o miniarroz, o cateto, o japonês ou glutinoso, o italiano ou arbóreo e os aromáticos basmati e jasmine. Também começa a entrar no Brasil a culinária ibérica, com o arroz “bomba” valenciano – dirigido a paella –, e o carolino, de Portugal.
TENDÊNCIA
Para o presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), João Sanzovo Neto, a disponibilidade de diversos produtos culinários à base de arroz, de preparo rápido e de variedades diferentes mostra que o setor está em sintonia com as tendências. “Há um nicho de mercado para atender o consumidor mais exigente, que pretende fazer um jantar especial, uma recepção, e investe um pouco mais na alta culinária e esta tendência está sendo bem atendida”, entende.
FIQUE DE OLHO
No Brasil, o pioneiro foi o empresário José Francisco Ruzene, de Pindamonhangaba, São Paulo, que vendo a queda da renda e a inviabilidade da orizicultura tradicional resolveu buscar no nicho dos tipos especiais agregar valor ao seu cultivo. Abriu mercados em restaurantes e hotéis de alta gastronomia, encontrou no chef de cozinha Alex Atala um aliado, e depois sócio, e passou a expandir o mercado. Cerca de 20 produtores se associaram à marca Ruzene para a comercialização de tipos especiais de arroz, que hoje tem um mercado consolidado em São Paulo e algumas capitais.