Arrancada
Depois do início de ano com leve desvalorização,
preços do arroz avançam.
Um conjunto de fatores, que vai desde os estoques públicos praticamente zerados à quebra na safra mundial, do Mercosul e do Brasil, é determinante para o comportamento dos preços no mercado nacional nos primeiros cinco meses de 2016. Mesmo no pico da safra, as cotações não chegaram abaixo de R$ 37,00 no Rio Grande do Sul, estado que representa 72% da colheita brasileira nesta temporada e influencia o mercado de Santa Catarina. Juntos, os dois estados correspondem a quase 80% da safra nacional.
O piso de preços na safra atual foi praticamente a média do primeiro semestre de 2015. A partir de abril, com a confirmação de uma perda de 15,1% na produção gaúcha, as cotações encontraram referência entre R$ 40,00 e R$ 42,00 até meados de maio no Sul do Brasil. A queda nas safras foi o principal fator, aliado à ausência de estoques públicos e baixos estoques privados mais o fato de que, com o câmbio favorável, o país está exportando mais do que no ano passado, enxugando mais ainda a oferta interna.
A liberação do pré-custeio – mesmo que mais caro, para menos de 50% dos agricultores e exigindo mais garantias – ajudou o setor a respirar. Falta ainda ser consolidada a renegociação das dívidas. Os produtores que tiveram áreas afetadas por El Niño precisarão operar com base no “Manual de crédito agrícola” para obter prorrogação.
Sob esta conjuntura, os analistas de mercado projetam um segundo semestre de preços remuneradores para o agricultor. Cleiton Evandro dos Santos, analista da AgroDados e da Planeta Arroz, ressalta, porém, que nem todos os orizicultores terão essa oportunidade. “Quem teve perdas ou custo de produção acima da média oficial de R$ 44,71 no Rio Grande do Sul não alcançará as melhores condições de negociação por falta de produto ou de capital”, prevê.
Para o analista, a maioria destes agricultores planta com financiamento parcial ou total das indústrias e empresas de insumos, cujos contratos venceram no final de março. “Este foi um ano atípico pelo alongamento da safra e muito produtor precisou entregar pelo menos parte do arroz ao preço do final de março, início de abril, portanto, abaixo do custo de produção. Para tirar o prejuízo terá que vender muito bem o que restou, se restou”, resume.
REFERÊNCIA
Para Santos, a referência das cotações do cereal no mercado doméstico será o preço de importação. “Embora em abril tenham aumentado em torno de 20% as importações brasileiras, a indústria ou varejo fará o cálculo para ver se vale a pena importar ou adquirir o produto internamente. E vai comprar o que tiver garantia de qualidade, entrega no prazo e melhor preço”, argumenta. Contudo, destaca que a paridade de importação para o produto argentino no início de maio batia em R$ 50,08 por saca no Rio Grande do Sul e R$ 51,27 vinda do Uruguai. Para Santos, isso demonstra que as cotações têm fôlego para subirem até um patamar de R$ 45,00 a R$ 48,00 por saca se o cenário se mantiver com o dólar nos atuais patamares, o mercado ajustado, o mercado internacional firme e o produtor gaúcho ofertando gradativamente seus lotes. “Quem tinha urgência pra vender vendeu”, afirma.
O analista ressalta que o Paraguai é um caso a parte. Ele vem colocando mais arroz no Brasil, especialmente em indústrias de São Paulo e Minas Gerais, e ampliando sua pressão de oferta sobre o varejo. Embora a paridade alcance uma faixa de R$ 48,00, há negócios abaixo disso porque os vizinhos tiveram um estoque de passagem maior uma vez que ficaram com mais de 200 mil toneladas de arroz sem negociar no ano passado.
Parte do estoque paraguaio foi escoada para terceiros países, mas o Brasil é o mercado preferencial. “A grande questão é quanto o Brasil irá comprar lá fora, pois um volume de importações exagerado pode trazer consequências aos preços e desequilíbrio ao mercado”, destaca Santos.
Por fim, o analista enfatiza que o Brasil tem um saldo positivo na balança comercial dos últimos cinco anos que beira 3,4 milhões de toneladas. Segundo ele, de nada vale aumentar a produtividade e a produção interna se não tivermos um mercado onde colocar este produto. “Estamos nos saindo muito bem nisso, hoje quase 15% da produção gaúcha é exportada”, conclui.