Arroz sobe 11,31% após enchentes no Sul, mas não há desabastecimento, diz Abras
(Por Ana Clara Veloso, Extra/RJ) Os pacotes de arroz mais baratos das prateleiras encareceram 11,31%, entre 25 de abril e 28 de maio, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras). A média das etiquetas passou de R$ 22,90 para R$ 25,49 no período, que foi marcado pelas enchentes no Rio Grande do Sul, responsável por 70% da produção do cereal no Brasil. Os dados foram publicados nesta quarta-feira (dia 29) na coluna de Míriam Leitão, no jornal O Globo.
A entidade considerou no levantamento de preços três categorias de arroz: na mais cara, o aumento foi de 1,08% (R$ 46,45 para R$ 46,95%), e na faixa intermediária, a variação foi de 5,01% (R$ 32,75 para R$ 34,49).
Segundo a Abras, não há falta de arroz nos mercados. O economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) Matheus Dias, no entanto, explica que a demanda tem pressionado os preços.
— O que a gente tem observado é que, mesmo com a disponibilidade de estoques de arroz, há um medo por parte dos consumidores de que não haverá suficiente para todo mundo. Como o Rio Grande do Sul ainda está sofrendo com problemas de logística na distribuição, alguns supermercados, com a percepção de aumento inesperado da demanda, aumentaram os preços do produto — conta.
A orientação da Abras ao consumidor é pesquisar preços e promoções nas lojas físicas e no e-commerce, para economizar. A associação ressalta ainda que “questões logísticas e os preços de comercialização permanecem na pauta de discussão dos setores produtivos com o governo federal, assim como os prazos para a entrada do produto no varejo nacional”.
A cesta nos próximos meses
Os dados do arroz antecipam, em parte, a pesquisa dos preços da cesta básica feita pela Abrasmercado mensalmente. Os dados gerais de maio ainda não foram divulgados, e o encarecimento já constatado do arroz mostra que ele vai puxar para cima os resultados a serem apurados. Mas ainda é cedo para concluir que a cesta ficou mais cara, afirmam economistas.
Antes das fortes chuvas no Sul do país, a maior oferta do arroz, devido ao período da colheita, vinha influenciando a diminuição do preço dele. Em março, houve recuo de 0,90%. Em abril, a queda foi de 1,93%.
Em abril, aliás, o preço da cesta básica com 12 produtos se manteve estável (-0,02%): de R$ 311,02 para R$ 310,95, na média nacional. Ficaram mais baratos: feijão (-3,94%), arroz (-1,93%), farinha de trigo (-0,91%), margarina cremosa (-0,83%) e do açúcar refinado (-0,71%). Os alimentos que encareceram foram: café torrado e moído (+3,08%), leite longa vida (+1,47%), massa sêmola de espaguete (+0,81%), carne bovina — corte do dianteiro (+0,38%), óleo de soja (+0,26%).
Caráter especulativo
A pesquisa de maio da Abrasmercado sai na última quinta do mês de junho. Apesar do aumento este mês no preço do arroz, por conta do caráter especulativo, os especialistas não creem que o movimento deve continuar nos próximos meses.
– Não houve perda significativa da safra de arroz, na medida em que, quando as enchentes acometeram o Rio Grande do Sul, 80% da produção já tinha sido colhida. Então, se tem uma perda que ainda não é possível estimar, mas é menor que 20%, pois nem todas as áreas foram inundadas. Muito provavelmente, as importações que o governo vai fazer de arroz com os leilões devem surtir efeito de manter o preço do produto em patamares equilibrados, sem grandes oscilações e sem pressão na inflação e no bolso do consumidor — explica Gilberto Braga, professor de Economista do Ibmec RJ.
O governo federal autorizou a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a comprar até um milhão de toneladas de arroz estrangeiro. A medida do governo federal busca garantir o abastecimento alimentar em todo o território nacional mesmo com a perda de produções gaúchas de arroz. O primeiro leilão de compra no mercado externo foi marcado para 6 de junho.