As principais pesquisas desenvolvidas no International Rice Research Institute (Irri) para a cultura do arroz

 As principais pesquisas desenvolvidas no International Rice Research Institute (Irri) para a cultura do arroz

Parte da área experimental do Irri, Los Baños, província de Laguna, Filipinas. Foto: Filipe Selau

 No mundo cultiva-se cerca de 158 milhões de hectares atingindo-se uma produção de mais de 700 milhões de toneladas de arroz. A Ásia é responsável por cerca de 90% da produção total do grão. Nos países desse continente o arroz é comida básica e tem papel fundamental na segurança alimentar. Por esse fato, na Ásia encontram-se os principais institutos de pesquisa voltados para a cultura do arroz, principalmente na China, Índia e Filipinas, onde se encontra o International Rice Research Institute (Irri).

O Irri foi fundado em 1960 e atualmente é o principal instituto de pesquisa na cultura do arroz. Um marco importante na história desse instituto foi o lançamento do cultivar IR8, em 1966. Essa foi a primeira cultivar de alto potencial produtivo lançada, a qual se atribui ser uma das principais responsáveis pela Revolução Verde na Ásia e fundamental no combate à fome que assolava o continente asiático nas décadas de 60 e 70.

Atualmente o Irri conta com o principal acervo de germoplasma de arroz no mundo. São 127.916 acessos e 4.647 acessos de espécies selvagens provenientes de inúmeros institutos de pesquisa do mundo inteiro, inclusive materiais provenientes do Instituto Rio Grandense do Arroz.

O Irri possui atuação direta em redes de pesquisa e extensão rural em países da Ásia, como Bangladesh, Cambodia, China, Índia, Indonésia, Lao, Mianmar, Nepal, Paquistão, Filipinas, Coreia do Sul, Sri Lanka, Tailândia e Vietnã, e da África, como Burundi e Moçambique.

As principais diretrizes do Irri são redução da pobreza, adaptação do cultivo de arroz às novas condições climáticas, envolvimento das mulheres na produção, proteção ambiental, exploração dos benefícios saudáveis do arroz e manutenção da segurança alimentar. Para alcançar e manter essa direção a médio e longo prazo o instituto foca principalmente em pesquisa científica.

No principal centro de pesquisa do instituto, em Los Baños, província de Laguna, o Irri conta com quase uma centena de pesquisadores. O instituto divide-se em três principais divisões de pesquisa: Genética e Biotecnologia, Ciências das Culturas Agrícolas e Ambientais e Divisão de Ciências Sociais.

O Irri possui diversas linhas de pesquisa que envolvem o manejo agronômico das culturas, fisiologia, pós-colheita e melhoramento genético, contudo, o “carro-chefe” da pesquisa é o programa de melhoramento genético interligado a outras áreas de pesquisa. Nos últimos anos, com o advento de tecnologias moleculares de sequenciamento de nova geração, houve uma intensificação no uso de ferramentas moleculares no programa de melhoramento genético do Irri. Na prática, o uso dessas ferramentas em determinadas situações pode facilitar a seleção de características desejáveis e acelerar o lançamento de uma nova cultivar.

Os principais objetivos do melhoramento genético do Irri são rendimento de grãos, qualidade de grãos e resistência a estresses bióticos e abióticos. Dentro desses grandes fins inserem-se inúmeras linhas de pesquisa. Na linha de qualidade de grãos é muito similar ao Brasil, busca-se materiais que possuam maior resposta de rendimento e qualidade de grãos. A qualidade dos grãos é desenvolvida com base na demanda dos consumidores finais de cada país para onde a cultivar está sendo elaborada.

Com relação a estresses bióticos está envolvida uma gama muito grande de eventos relacionados à resistência a doenças, principalmente brusone, Xanthomonas e viroses, entre outras. O Crispr é uma nova tecnologia de edição genética que tem sido utilizada pelo Irri para inserção de resistência genética a doenças. Com relação aos estresses abióticos, grupos de trabalho pesquisam materiais que tenham tolerância à seca, visto que na Ásia e África 25% da área é cultivada sem irrigação.

Outra importante linha de pesquisa próspera é em relação a plantas que tenham resistência a períodos prolongados de submersão em água, visto que o cultivo de arroz irrigado em terras baixas está frequentemente sujeito a períodos de enchentes, condição essa que ocorre no RS em lavouras próximas a mananciais hídricos, principalmente em anos de chuva acima da média. Nesse cenário já foi identificado um gene (Sub1) que confere tolerância à submersão e boa parte das cultivares modernas do Irri já são lançadas com essa característica.

Outra característica inserida nas cultivares de interesse do Irri é a rápida emergência de plântulas de arroz, que é atribuída pelo gene AG1. Assim possibilita-se uma maior habilidade competitiva e um melhor estabelecimento das plantas cultivadas, especialmente em condições de alta infestação por plantas daninhas, cenário recorrente em muitas áreas de produção de arroz da Ásia e do RS.

Outras linhas de pesquisa focam em genótipos com tolerância à salinidade, recorrente em áreas de cultivo na Ásia especialmente próximas a mares.

 


Terraços de arroz irrigado ao norte das Filipinas, na província de Ifugao, cidade de Banaue. Região cultiva arroz há mais de 2 mil anos. Foto: Filipe Selau

C4
Desenvolvimento de plantas que possuem maior eficiência fotossintética, como o arroz C4, é outra linha de pesquisa executada no Irri. Contudo, conforme pesquisadores da área, o lançamento de cultivares de arroz com aparato fotossintético C4 ainda levará um tempo. Diversas outras pesquisas envolvendo manejo de fertilização, adição de compostos orgânicos ao solo, rotação de culturas utilizando a cultura do milho, plantas daninhas, fitopatologia, avaliação de emissão de gases de efeito estufa e tantas outras são realizadas no Irri.

As pesquisas executadas nas Filipinas pelo Irri e no RS pelo Irga possuem muitas semelhanças. O instituto gaúcho pode aproveitar o conhecimento já arrolado no Irri acerca das novas ferramentas, principalmente de biologia molecular, utilizadas no programa de melhoramento genético. Por outro lado, o instituto asiático tem a possibilidade de ter um maior conhecimento das tecnologias acerca de mecanização agrícola, que ainda são muito incipientes na Ásia, e práticas agronômicas que no sul do Brasil, sob o meu ponto de vista, são mais avançadas do que nos países asiáticos.

CONTRASTE ENTRE O ALTO NÍVEL CIENTÍFICO E A REALIDADE NO CAMPO
O Irri é um conceituado instituto de pesquisa cujo papel na segurança alimentar na Ásia e África é reconhecido mundialmente pelas principais organizações e países, além de atuar na formação intelectual de inúmeros profissionais técnicos científicos de diversas nações. Contudo, fora dos muros dessa instituição ainda se observa uma agricultura muito primitiva – propriedades com baixa adoção de mecanização agrícola, mão de obra manual, tração animal na maioria das propriedades, além de baixos níveis de fertilização, que se refletem em menores níveis de produtividade.

Possivelmente, com a previsão de crescimento populacional da Ásia nos próximos anos e aumento da demanda por arroz, será necessária uma intensificação na transferência e difusão de tecnologia nos países asiáticos.

 

Preparo de solo com tração animal, condição predominante na maioria das lavouras de arroz da Ásia Los Baños, província de Laguna, Filipinas Foto: Paul Jeffrey

ENG. AGR. M. SC. FILIPE SELAU CARLOS
TÉCNICO SUPERIOR ORIZÍCOLA, DIVISÃO DE PESQUISA, ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DO ARROZ, IRGA, CACHOEIRINHA (RS)

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