Caminho sem volta

 Caminho sem volta

Arroz da produção integrada tem livre acesso aos mercados, diz Maria Laura

Produção integrada é o próximo passo para exportar
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Imagine um consumidor europeu adquirindo um pacote de arroz num supermercado de seu país e identificando, pelo código de barras, quando, como e onde foi produzido. Esse produto precisará estar adequado à mais rigorosa legislação internacional de segurança alimentar. Para o arroz brasileiro esse futuro não está tão longe. Estamos falando de um caminho sem volta para a produção de arroz no Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul, estado que busca maior inserção no mercado internacional: a produção integrada do arroz (PIA).

O Programa de Produção Integrada, desenvolvido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) com apoio técnico da Embrapa Clima Temperado (RS), Embrapa Arroz e Feijão (GO) e Epagri (SC), ainda engatinha na área desse cereal no Brasil. Na área de frutas, com apoio de outras instituições técnicas, porém, é responsável por transpor barreiras para os mais exigentes mercados e consolidar recordes de exportação. “O nosso desafio é fazer com que na cadeia produtiva do arroz esse mesmo processo seja instalado com sucesso”, explica a pesquisadora da Embrapa Clima Temperado Maria Laura Turino Mattos, coordenadora da PIA.

Este é o início de um processo de rastreabilidade e certificação que habilitará o arroz brasileiro aos mais exigentes mercados mundiais. “Se surgir oportunidade de exportar para esses mercados, nosso produto estará habilitado de acordo com as regras internacionais, sem que possam ser aplicadas barreiras sanitárias”, lembra.

Maria Laura explica que há uma tendência mundial na qual a produção deve adaptar-se às mudanças dos hábitos de consumo. “Não é possível produzir alimentos sem pensar onde e a quem vendê-los. O consumo determina o que, como e quando produzir para atender essa demanda”, acrescenta.

Questão básica
O maior desafio da orizicultura irrigada brasileira é o aumento de rentabilidade, com base na redução de custos de produção, aumento de produtividade e da qualidade do produto, bem como a minimização de riscos de impactos ambientais negativos. Tudo isso visando a qualidade no atendimento ao consumidor nacional e também a inserção em novos mercados.

Fique de Olho
No Brasil, o arroz é comercializado como commodit y, enfocando principalmente a quantidade para abastecer o mercado interno. Mas existe oportunidade do país consolidar-se como exportador. 

 

Um programa, dois focos

A produção integrada do arroz poderá atender dois focos extremos da política governamental brasileira: fornecimento de alimento básico a camadas menos favorecidas da população (inclusão social) e maior competitividade do agronegócio orizícola no atendimento de mercados internos diferenciados e internacionais, todos demandantes por sistemas de exploração agrícola sustentáveis.

Preferências de consumo de arroz variam muito entre países e dentro de um mesmo país e estão normalmente associadas a aspectos culturais e econômicos, tradição e estilos de vida. Na América Latina, os programas de melhoramento genético de arroz irrigado enfatizam o desenvolvimento de cultivares com alto potencial produtivo e resistentes às principais doenças e pragas.

A qualidade do grão, embora considerada de alta prioridade, restringe-se a características muito específicas ligadas a aspectos físicos ou visuais do produto. O grau de preocupação com a segurança alimentar, destacando-se a contaminação com resíduos de agrotóxicos, é ainda pouco considerado.

O programa viabilizará a produção de arroz irrigado com qualidade alimentar e ambiental, servindo de base à certificação, possibilitando o alcance de mercados exigentes no cumprimento de normas e sistemas modernos de qualidade. Será possível encaminhar sua certificação.

RASTREABILIDADE – O sistema de produção integrada do arroz (PIA), apoiado em princípios do manejo integrado de pragas (MIP), reduzirá as aplicações de insumos agrícolas, passando a cultura irrigada a ser conduzida segundo normas que visam a produção do cereal com sustentabilidade ambiental.

Para isto, tornam-se necessários o acompanhamento da pesquisa e a participação de uma equipe multidisciplinar junto aos produtores, com o fim de estabelecer os planos de gestão das propriedades, visando assegurar a colocação em prática dos princípios que irão compor a Norma de PIA no Brasil. Isso de modo a permitir a utilização de um selo de qualidade para o arroz produzido no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Tocantins.

 

PIA reduz uso de agroquímicos

A cultura do arroz irrigado está estabelecida basicamente na região sul do Brasil. No Rio Grande do Sul, este agroecossistema anualmente recebe elevada carga de insumos químicos, especialmente de herbicidas, cujos resíduos podem contaminar os mananciais hídricos. Em Santa Catarina, onde predomina o sistema de arroz pré-germinado, há também intenso uso de produtos químicos. Cenários semelhantes ocorrem em áreas de expansão da cultura do arroz irrigado na região centro-oeste do Brasil.

O pesquisador da Embrapa Clima Temperado José Francisco Martins destaca que, nesse contexto, o agronegócio orizícola busca um padrão de produção, com reconhecimento nacional e internacional, que assegure a gestão da propriedade agrícola com enfoque na qualidade. “A produção integrada de arroz irrigado (PIA) no Brasil é um sistema que, ao ser implantado, além de minimizar possíveis impactos ambientais negativos da lavoura, insere, direta ou indiretamente, boas práticas agrícolas (BPAs)”, destaca Martins. Segundo ele, vários processos com abordagem alimentar, ambiental e social serão considerados, constituindo-se este em um sistema de certificação oficial.

Na PIA é fundamental que componentes (cultivares, agrotóxicos, fertilizantes, equipamentos, etc), práticas culturais (preparo do solo, semeadura, adubação, controle de pragas, etc) e recursos naturais (água, biodiversidade, clima e solo) sejam utilizados de modo a permitir a redução do uso de insumos químicos. E facilitando o atingimento de maior produtividade e maior qualidade do produto final (segurança alimentar), com segurança ambiental.

A Embrapa apresentará um modelo de PIA para a concessão de selos de conformidade para a orizicultura irrigada do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Tocantins.

Atenção
O selo de qualidade no arroz irrigado permitirá a rastreabilidade do sistema de produção, facilitando a exportação e a aceitação pelo consumidor. A qualidade do arroz irrigado, assegurada pela certificação, passará a ser uma exigência não somente de mercados internacionais, mas também dos grandes centros consumidores do Brasil, que irão requerer, além das exigências do mercado externo, garantia da qualidade do produto comercializado internamente, por meio de programas e legislações específicas que garantam o controle e fiscalização permanentes de toda a cadeia produtiva. Além disso, a certeza de que estão sendo conservados os recursos naturais, em especial a água utilizada no agronegócio orizícola. A PIA, aliada aos futuros incentivos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para a produção de arroz irrigado com qualidade, irá alavancar novas perspectivas de nichos de mercado para o arroz processado e outros produtos. Na Espanha, em oito anos de PIA já houve uma redução de 69% da área de plantio tratada com agrotóxicos e um aumento de produtividade.

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