Cartas na mesa
Preços se recuperam na safra e governo acena
com estoques sob
o argumento de
segurar inflação
.
Ao concluir a colheita da safra de arroz na Região Sul, que corresponde a quase 80% de todo o grão colhido no país, o cenário está formado: a safra será pouco maior do que na temporada passada (350 mil toneladas), os estoques são os mais baixos da década (1,68 milhão de toneladas), os preços internos estão altos em pleno período de safra (R$ 31,00, R$ 32,00 em maio), as exportações estão abaixo do previsto neste primeiro semestre por conta das cotações nacionais mais elevadas e a disputa com a soja nos portos, o Mercosul teve pequeno avanço produtivo (2%) e o governo brasileiro ofertará estoques públicos para evitar uma disparada dos preços. Com este cenário, a cadeia produtiva trabalha para garantir o equilíbrio do mercado.
Para o analista Tiago Sarmento Barata, da Agrotendências Consultoria, além da menor posição do estoque inicial, tanto público quanto privado, há um setor produtivo com maior condição de especular nesta safra: “A inclusão da soja como produto do portfólio dá fôlego aos agricultores para evitar a comercialização na boca da safra. Assim, a recuperação de preços é consequência, principalmente da retração da oferta do arroz em casca”, avalia.
O analista da Safras & Mercado, Eduardo Aquiles, afirma que a recuperação dos preços do arroz em plena colheita pode ser atrelada também ao aumento dos preços do frete e dos custos de produção, provocando recuo da oferta. A quebra da safra em Santa Catarina pode influenciar o acréscimo de preços. Suas projeções apontam uma elevação das cotações este ano, podendo ultrapassar R$ 40,00 por saca no Rio Grande do Sul. “Entretanto, vale lembrar que a paridade de preços com o Mercosul pode estabilizar a cotação, caso a importação se torne mais atraente ao longo do ano”, finaliza.
Tiago Sarmento Barata considera que a recuperação dos preços é importante para viabilizar a atividade dos produtores diante da alta dos custos de produção. “É inevitável, porém, manifestar receio com a perda de competitividade no mercado internacional, que afetará os embarques e impedirá a consolidação do Brasil como um exportador estável. A preocupação é maior com a causa da alta: a retração da oferta. O desabastecimento das indústrias de beneficiamento tem como consequência natural o aumento das importações e a intervenção do governo com a liberação de estoques”, frisa. E alerta: “A retração da oferta neste primeiro semestre pode representar uma alteração no comportamento sazonal dos preços. É possível que haja um deslocamento da oferta para o segundo semestre, causando um enfraquecimento das cotações”, complementa.
O diretor da RiceBrazil, Pércio Greco, considera que, além dos preços internos mais altos, que retiram a competitividade do arroz brasileiro para a exportação, as dificuldades de logística afetam a eficiência nacional. “Nos últimos meses, os embarques caíram não só pela questão do preço, mas porque o canal de exportações de arroz não aceita produto em casca, só beneficiado, e os terminais privados estão dando exclusividade para a soja. Os negócios diminuíram pela questão das cotações, mas existem. Só não temos onde embarcar. Falta estrutura”, argumenta. Assim como o presidente do Irga, Cláudio Pereira, o empresário considera que, se o Brasil exportar 800 mil toneladas em 2013/14, será um grande negócio. A Conab, no levantamento de maio, trabalha com expectativa de venda externa de 1,1 milhão de toneladas.
QUESTÃO BÁSICA
Na opinião do analista da Safras & Mercado, Eduardo Aquiles, os estoques públicos poderão tirar força da elevação dos preços na medida em que a oferta fique mais escassa. A Conab atualmente dispõe de quase 1 milhão de toneladas estocadas, mas parte do arroz remanesce de safras mais antigas e qualidade duvidosa. Isso, porém, pode reduzir ainda mais o estoque de passagem em 2013/14 e assegurar preços remuneradores por mais uma safra. Daí a preocupação das entidades setoriais com um eventual aumento de área na próxima temporada.
O peso das importações
Com a alta dos preços internos e dificuldades para exportar, o cenário deste primeiro semestre indica que o Brasil poderá sofrer uma inversão nos resultados da balança comercial do arroz em 2013/14. Apesar da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prever a exportação de 1,1 milhão de toneladas e a importação de 900 mil toneladas de arroz, os analistas já não consideram esta previsão para o ano comercial e acreditam que o país importará mais arroz do que embarcará ao mercado mundial. Tiago Sarmento Barata, da Agrotendências Consultoria, revela que a importação já ocorre em maior intensidade e só não é maior porque Argentina e Uruguai estão priorizando mercados como o Iraque.
Em abril, o Brasil importou 115 mil toneladas do grão, 20% a mais do que em março. O Paraguai, sem acesso a outros mercados, é a principal origem das importações brasileiras neste início de ano comercial 2013/14. Em abril, foram 53,6 mil toneladas (base casca) de arroz paraguaio, acumulando 103,2 mil toneladas em março e abril de 2013.
Por outro lado, a exportação perde força, deixando de exercer a pressão altista dos últimos dois anos. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) foram exportadas 77,3 mil toneladas, 31% menos do que embarcado em março de 2013, ou 50,5% a menor se comparado com abril de 2012. Pércio Greco, da RiceBrazil, acredita que pode ocorrer uma retomada das exportações se os preços voltarem a cair em função do aumento das compras brasileiras de grão no Mercosul e da venda de estoques públicos no mercado.
Eduardo Aquiles, da Safras & Mercado, considera que, ao confirmar-se a valorização do cereal dos Estados Unidos, cuja safra acontece entre agosto e setembro, o Mercosul terá na América Latina um grande cliente, com preços mais próximos ao mercado americano, o que reduziria a oferta ao Brasil, tornaria a paridade de preços mais elevada e valorizaria o grão nacional no mercado doméstico. Por outro lado, prevê uma possível redução da demanda africana pela oferta a preços reduzidos pelos países asiáticos, com a volta da Tailândia ao mercado internacional, principalmente pelos grandes estoques que acumulou. “Somada à oferta de Índia e Vietnã, poderá afetar as vendas do Mercosul”, revela.
CENÁRIOS
FATORES DE ALTA DOS PREÇOS DO ARROZ
1. Volume de safra abaixo do esperado por danos climáticos no Sul e Nordeste
2. Estoques mais baixos da década
3. Renegociação das dívidas arrozeiras
4. Culturas alternativas para negociar no primeiro semestre
5. Custeio com mais parcelas para vencimento
6. Desvalorização do real perante o dólar
7. Exportações no nível ou maiores do que no ano passado
8. Oferta fracionada de arroz pelos agricultores
9. Regras mais rígidas para a importação de arroz do Mercosul
10. Moderação na oferta do arroz dos estoques públicos
11. Isenções tributárias ou incentivos às exportações
FATORES DE BAIXA DOS PREÇOS DO ARROZ
1. Intervenção do governo federal com oferta de estoques públicos
2. Queda nas exportações (redirecionando ao mercado interno)
3. Aumento das importações
4. Política cambial valorizando o real
5. Entraves às renegociações das dívidas
6. Concentração da oferta
7. Carga tributária
8. Previsão de crescimento na área cultivada 2013/14
9. Eleições federais e estaduais balizando ações pela cesta básica
10. Política de incentivo à produção de arroz em outras regiões
Fonte: Planeta Arroz