Ciência globalizada

Autoria: Élcio Guimarães.

Como a pesquisa mundial ajuda o produtor de arroz brasileiro

Nosso orizicultor é um dos mais importantes elos da cadeia produtiva do arroz e também um dos que mais sofrem com as instabilidades da economia nacional e mundial. Entretanto, está consciente de que a pesquisa agrícola é uma das melhores armas que possui para lutar contra essas instabilidades. Atrás de cada semente que atira ao solo existe uma grande quantidade de investimentos que possibilitaram chegar a esse produto e uma grande quantidade de pesquisadores e de pesquisas sendo geradas para dar-lhe cada dia maiores possibilidades de enfrentar esses momentos difíceis.

Os programas de melhoramento genético de arroz brasileiros são reconhecidamente eficientes e foram capazes de manter ganhos em produtividades desde o início das pesquisas nessa área, no final da década de 30. Atualmente esses programas estão cada vez mais conectados ao cenário internacional tanto para aproveitar as possibilidades e as inovações tecnológicas que são produzidas em outras partes do mundo como para oferecer ao orizicultor brasileiro um produto com qualidade de exportação, sem perder suas autonomias e os direitos de seus recursos genéticos.

Cada dia mais se trabalha com os aspectos biotecnológicos para aumentar a eficiência dos programas de melhoramento, ou seja, buscando produzir novas variedades que propiciem aos agricultores ganhos, sejam eles em rendimento, em qualidade ou outra característica qualquer. Não estamos falando de transformações genéticas (organismos geneticamente modificados ou transgê-nicos), mas sim do uso de técnicas moleculares que permitem identificar e transferir caracteres de uma variedade de arroz a outra de maneira segura e eficiente. De procedimentos que permitem aos pesquisadores utilizar os bancos de germoplasma e identificar os materiais que carregam resistência a doenças e outras características desejáveis, acelerando assim os programas de melhoramento genético convencionais.

No Instituto Internacional de Pesquisa em Arroz (IRRI), nas Filipinas, na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, e no Centro Internacional de Agricultura Tropical (Ciat), na Colômbia, existem pesquisas avançadas usando essas técnicas moleculares. Os primeiros resultados dessas pesquisas mostram a identificação e a transferência de cromossomos e genes de arroz (fatores genéticos responsáveis pelas características que o agricultor pode ver no campo) que permitem aumentar o rendimento das variedades em mais de 10%. Estas descobertas tecnológicas já estão sendo utilizadas pela Embrapa Arroz e Feijão, em Goiânia, e por seus parceiros distribuídos em todo o país, e em breve estarão disponíveis para serem aplicadas no campo pelos agricultores. Desta forma, estarão contribuindo para melhorar a produtividade da cultura do arroz.

Mesmo sabendo das dificuldades criadas pelas leis brasileiras para a troca de qualquer material genético (variedades, por exemplo) com outros países, não podemos deixar de reconhecer que somente estamos nos níveis de produtividade atuais porque no passado recente recebemos e enviamos materiais a nossos parceiros técnicos. Como exemplo disso podemos mencionar o caso das famosas variedades rio-grandenses BR-Irga, que são oriundas de programas de intercâmbio de germoplasma e informação entre o Brasil (especialmente o Irga) e o Ciat.

Fazemos referência a esses aspectos porque o intercâmbio, seja ele de informações, como no caso dos avanços na área da biotecnologia, ou de materiais genéticos, como no descrito anteriormente, é elemento fundamental para o avanço tecnológico de nosso país. A conseqüência disso são variedades melhores que as atuais à disposição do orizicultor brasileiro.

Terminamos recomendando aos nossos amigos do campo, que atiram as sementes ao solo e colhem o produto de seu trabalho, que cada vez que repitam essa operação lembrem-se que seu apoio aos responsáveis pelo desenvolvimento tecnológico é fundamental para o avanço da lavoura arrozeira, não só no Rio Grande do Sul, bem como em todos os demais rincões de nosso imenso Brasil.

Quem é

Élcio Guimarães é pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão, localizada em Goiás, e senior officer Melhoramento (Cereais/Culturas) – FAO/Roma-Itália

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