Conab reduz previsão de safra de arroz em 10%

 Conab reduz previsão de safra de arroz em 10%

Lavouras abandonadas por falta de água

(Cleiton Evandro dos Santos, AgroDados/Planeta Arroz) O agravamento das dificuldades impostas pela estiagem e altas temperaturas no Rio Grande do Sul e enchentes em Goiás e Tocantins finalmente entraram no radar da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e as perdas já começaram a ser computadas em janeiro, segundo mostra o levantamento da safra de grãos 2021/22, divulgado nesta quinta-feira, em Brasília (DF).

Com isso, a previsão, ainda baseada nas condições de janeiro, é de que o Brasil reduzirá em 10,1% a produção total do grão nesta temporada. A retração será de 815,2 mil toneladas de arroz, equivalente a praticamente um mês de consumo nacional ou o volume importado anualmente, em média, pelo país. Os números poderão ainda ser revistos em função da continuidade da estiagem no extremo sul.

Segundo o relatório, a safra brasileira de arroz deverá apresentar, na temporada 2021/22, redução de 2,4% na área plantada (31,1 mil t) em comparação à safra anterior, atingindo 1.636,6 mil hectares, enquanto a colheita alcançará 10.565,3 mil toneladas. Em 2020/21 foram colhidas 11.380,6 milhões de t.

A pesquisa da companhia aponta que esse resultado é reflexo principalmente da estimativa de significativa redução da produtividade (-7,9%) em conjunto com a projeção de redução de área da cultura (-2,4%).

A questão climática no Brasil, que compromete o desempenho das safras e que tanto preocupa o produtor rural, é apontada como um dos fatores determinantes para as expectativas da safra 2021/22. A área de arroz irrigado é estimada em 1.304,6 mil hectares, incremento de 0,1% em relação à safra anterior. Quanto ao arroz de sequeiro, a previsão é de redução de área em 11,2% em relação à safra 2020/21. No final de janeiro, 99% das lavouras já haviam sido semeadas no país, segundo a Conab.

Em termos de produtividade, após um clima extremamente favorável na última safra, o cenário de anormalidade climática, identificado na safra 2021/22 como reflexo do fenômeno La Niña, deverá, possivelmente, acarretar em intensa queda de rendimento por área nas lavouras. Sobre a menor área, no Rio Grande do Sul, principal estado produtor, ilustra-se o baixo nível dos reservatórios e dos açudes, o qual resultou em abandono de parcela da área plantada.

Ademais, para o restante do Brasil, a estimativa é também de retração, neste caso, a dinâmica é reflexo principalmente da maior rentabilidade da soja perante o arroz, fato que foi intensificado com a desvalorização do cereal e com a elevação dos custos dos insumos produtivos ao longo de 2021. Há também enchentes verificadas no Centro-Oeste.

OFERTA E DEMANDA

Especificamente sobre o quadro de oferta e demanda do arroz, neste quinto levantamento, a Conab cita que “houve importantes alterações dos números apresentados no quarto levantamento em relação à safra 2021/22, com o reajuste para baixo da produção e do consumo do grão. Mais especificamente sobre o menor consumo, destacam-se, como principais fatores para esta projeção, a estimativa atual de recuperação dos preços do produto e do crescimento da renda média do brasileiro, dado que o arroz é historicamente um bem de elasticidades-renda negativa”.

Quanto à balança comercial, a companhia é otimista. Para as exportações, a perspectiva é de incremento do volume comercializado para 1,4 milhão de toneladas, com a valorização do mercado orizícola internacional e alta demanda dos principais países importadores. Para as importações, estima-se a estabilidade do volume em 1 milhão de toneladas. Como resultado, projeta-se um cenário de diminuição dos estoques finais da cultura, totalizando um montante de 1,9 milhão de toneladas em dezembro de 2022.

Conjunturas regionais de safra

No Rio Grande do Sul, o arroz irrigado primeira safra em janeiro apresentou clima muito seco em praticamente todo o estado, com ocorrência de chuvas mal distribuídas, em volumes muito variáveis e concentradas em seu terço final. Isso agravou a situação dos reservatórios de água para irrigação, sendo parte significativa das lavouras devendo ser manejada de forma a economizar água, o que reduziu o potencial produtivo das lavouras. As regiões mais afetadas pela falta de água são a Fronteira Oeste, Campanha e Central. Somente na zona sul as condições são sensivelmente melhores. Na Fronteira Oeste, a mais severamente afetada, estima-se que apenas metade das lavouras tenha água disponível.

Na região Central, rios com pouca vazão não têm mais água e as barragens secam rapidamente. No Sul e Planícies Costeiras, onde se utiliza água das lagoas, tem se verificado a salinização nestes locais. Outro problema é a ocorrência de altas temperaturas, com registros em torno de 10 dias com temperaturas por volta de 40 °C. Isso, de forma isolada ou somado à falta da lâmina de irrigação, tem causado esterilidade floral e abortamento nas lavouras nesse estágio. As demais lavouras estão em enchimento de grãos com 23%, maturação com 4% e 21% em fase final do desenvolvimento vegetativo e transição para a fase reprodutiva.

Já foi identificado uma redução de produtividade na ordem de 11% em relação à safra anterior.

Em Santa Catarina, a semeadura do arroz irrigado primeira safra foi concluída, e a condição de desenvolvimento das plantas é considerada ótima ou boa em 85% das lavouras. Na região sul do estado, a estiagem tem provocado a redução hídrica de forma drástica em alguns tabuleiros, faltando água na fase mais crítica para a cultura. Considerando o estado, a faixa leste, litoral sul e norte é a região menos impactada pela estiagem, visto que os tabuleiros são abastecidos por rios perenes.

No Tocantins, na região de Formoso do Araguaia, o arroz irrigado iniciou a fase de colheita, com 10% da área colhida. A qualidade do grão foi afetada pelo ataque da “brusone do arroz” nos cachos. Na região da Lagoa da Confusão houve danos ocasionados pelo excesso de chuvas. Já no cultivo do arroz de sequeiro, as lavouras estão em boas condições de desenvolvimento.

Em Goiás, no arroz irrigado primeira safra, na região de Flores de Goiás, ocorreram inundações devido ao excesso de precipitação. Na fase inicial de colheita houve dificuldades na execução, onde a drenagem deficiente também impediu novos plantios programados para janeiro. Foram relatados aumentos na incidência de doenças relacionadas à brusone e a queima da bainha. As chuvas prejudicaram as lavouras que se encontravam próximas ao período de colheita, com relatos de perda total em alguns talhões. Dessa maneira, é estimado uma queda na produção total nas regiões atingidas. Com relação ao plantio do arroz de sequeiro primeira safra, as precipitações observadas desde o início do período chuvoso condicionaram uma umidade adequada no solo para o pleno desenvolvimento vegetativo da cultura.

As lavouras seguem em pleno desenvolvimento vegetativo e início da floração sem relatos de condições desfavoráveis.

Em Mato Grosso, no arroz de sequeiro primeira safra, o regime de chuvas intensas na parte norte do estado, principal região produtora, está suprindo bem a necessidade hídrica da cultura. A maior parte das lavouras está com boa sanidade vegetal. O estágio de desenvolvimento vegetativo abrange a maioria das áreas, com algumas lavouras semeadas mais cedo estando em floração e enchimento de grãos. Os baixos preços praticados durante toda a entressafra têm contribuído com a forte retração de área da cultura do arroz no estado. Calcula-se recuo na ordem de 27%, de 114 mil hectares para 83,2 mil hectares.

No Maranhão foi realizado o cultivo nos municípios de Arari, Vitória do Mearim, Viana e Cajari, na Baixada Maranhense, região norte do estado; e no município de São Mateus do Maranhão, no Médio Mearim, região centro maranhense. A colheita do arroz ocorreu de outubro de 2021 a janeiro de 2022. Nos municípios de Arari e Vitoria do Mearim, a área plantada correspondeu a 4.770 hectares. Em janeiro de 2022, a colheita foi concluída dentro do esperado, obtendo um rendimento médio em torno de 6.000 kg/ha. A área plantada com arroz irrigado do município de São Mateus do Maranhão, com 200 hectares, obteve rendimento médio de 6.000 kg/ha. As lavouras de Viana e Cajari, de 290 hectares de arroz irrigado, alcançaram 4.400 kg/ha. As lavouras de arroz irrigado no estado apresentaram aumento de área.

Já em relação ao plantio de arroz de sequeiro no estado, as primeiras lavouras foram semeadas na região do Médio Mearim, no centro do estado, e na Baixada Maranhense, no norte do estado. O plantio dessas áreas foi quase concluído em janeiro de 2022, mas ainda não finalizado devido ao excesso de chuvas no Médio Mearim. Até janeiro de 2022 cerca de 95% das áreas de arroz de sequeiro foram semeadas. As lavouras estão em emergência e desenvolvimento vegetativo. E no leste maranhense, a redução de chuvas na segunda quinzena do mês adiou a conclusão do plantio, que ocorrerá até início de fevereiro de 2022.

Em São Paulo, o cultivo do arroz no estado se concentra basicamente na região do vale do Paraíba, Guaratinguetá e Pindamonhangaba, ambos pertencentes ao vale do Paraíba. A colheita segue avançando e, até o final do mês, 1/4 da área já deve ser colhida. Áreas plantadas mais precocemente sofreram mais com as intempéries climáticas.

No Paraná, para o arroz irrigado primeira safra, o clima quente e seco afetou o desenvolvimento da cultura, prejudicando sua produtividade em 6%. A falta de chuvas dificultou também a manutenção dos níveis de água. Em relação às condições das lavouras, em sua maior parte, estão distribuídas entre 24% na floração e 24% na frutificação, com cerca de 20% colhida. Com 92% em condições boas, sendo o restante, 8%, em condições diferenciadas devido à menor disponibilidade de água para a prática de irrigação por inundação.

Com relação ao cultivo do arroz de sequeiro primeira safra, o clima seco prejudicou as lavouras, que teve sua produtividade rebaixada em 3% em relação à safra passada. A maior parte das lavouras estão nos estádios de floração 39% e frutificação 50%, fases críticas que dependem das chuvas para manter suas condições mais favoráveis.

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