Conjunção de fatores determinará preços
O que formará os preços do arroz em casca na próxima temporada será uma conjunção de fatores. Por enquanto, acredita-se que a tempestade perfeita se manterá no primeiro semestre, com a expectativa de safra de igual a menor no Mercosul; fim das isenções sobre a Tarifa Externa Comum (TEC); consumo normalizado; alongamento do período previsto da pandemia da covid-19; maiores estoques nos países importadores; menor volume de CPRs financiando lavouras e atraso parcial da colheita. Entre consumidores, a retomada econômica ou o prolongamento do auxílio social serão fundamentais.
No âmbito internacional, o Brasil acompanha o comportamento dos Estados Unidos, que tiveram colheita 17% maior e dificuldade para escoamento, com clientes abastecidos e investindo no consumo doméstico.
Dwight Roberts, presidente da Associação dos Produtores dos EUA, crê que o mundo seguirá demandando arroz e a redução produtiva do Mercosul manterá o continente sob “a tempestade perfeita” por mais tempo.
Lucílio Alves, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), explica que as cotações de 2020 e a expectativa de preços firmes em 2021 são importantes para o agricultor buscar recuperação do passivo construído na década. “Reajustado pela inflação desde 2008, o preço da saca de arroz estaria em torno de R$ 74,00 no Rio Grande do Sul”, revela. Portanto, a arrancada da colheita com R$ 70,00 a R$ 80,00 é um valor considerável.
Com o custo médio de produção de R$ 48,00 a R$ 60,00 dependendo da propriedade, a situação é favorável. “Das últimas 11 safras, três geraram renda. O valor de venda não superou o custo operacional em oito temporadas. Sem rentabilidade e sem considerar custos fixos, quando máquinas e implementos estiverem desgastados, o produtor não terá capital ou crédito para substituí-los”, diz.
A demanda acelerada na colheita, em março, gerou um deslocamento da procura, que poderá ter sido pontual se houver a gradativa flexibilização do isolamento social. “O mercado se ajusta. É preciso estar atento à demanda de 2021”, analisa Alves.
Pela desvalorização cambial de 40% no Brasil, uma das maiores do mundo, o mercado interno elevou as cotações para US$ 18,50 a US$ 19,80 em novembro. É valor maior que os dos concorrentes, o que torna o país o atraente às vendas nas Américas.
Nos países do Mercosul e nos EUA, a saca de 50 quilos de arroz em casca era negociada em novembro na faixa de 13 a 15 dólares. O Brasil só não importou mais porque Uruguai e Paraguai não têm arroz à venda e a Argentina, pela política interna, não tem interesse em liquidar seus excedentes.
A questão é se o consumo interno vai manter alto, assim como os hábitos alimentares resgatados na pandemia ou se voltaremos ao comportamento da demanda anterior à covid-19. “Sob preços mais altos, ficou nítida a retração do consumidor. É natural”, observa Lucílio Alves, do Cepea. Mas, uma segunda onda de covid-19 e o prolongamento do auxílio social podem mudar essa lógica.