Contra tudo e contra todos

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Jetter: Dificuldades muito além do clima

A luta dos arrozeiros argentinos para se manterem competitivos

Se no Mercosul boa parte dos produtores lutam contra as incertezas do clima, alta carga tributária, preços de insumos, pragas, invasoras e superação tecnológica, na Argentina há muito mais obstáculos. “O setor aspira, em curto-médio prazo, lograr a sua recomposição após uma crise que deixou centenas de produtores fora da atividade”, resume o engenheiro agrônomo Christian Jetter, da Copra S.A e dirigente da Associação Correntina de Produtores de Arroz (ACPA). “Cabe ressaltar que estamos falando de um país sem políticas públicas estáveis a longo prazo, com uma pressão impositiva das mais altas do mundo.

Ainda assim, seguimos produzindo da forma mais eficiente possível. Com tecnologias de processo e baixo custo, como a semeadura direta em data adequada, com irrigação precisa e no cedo”, explica.

Jetter frisa que atualmente há bons preços sendo praticados pelo arroz em casca na Argentina, acompanhando o fenômeno regional, acima de US$ 13,00 pela saca de 50 quilos, mas lamentavelmente estas boas cotações os encontrou com pouco volume de produto nos silos. “Agora, teremos um ano de muitas incertezas, no plano climático com uma grande seca que afeta a todo o setor, com instabilidade cambial, um estado cada vez mais sobrestruturado e pouco eficiente”, resume o dirigente.

CLIMA
No país vizinho esta é uma temporada complicada com a importante seca que sofre a região arrozeira. A Província de Corrientes, que tem a maior produção argentina, vai semear de 10% a 15% a menos de área, ou cerca de 80 mil hectares. “A zona mais afetada é o centro da província, onde a água armazenada nas represas não supera em 50% a capacidade”, define. No restante do país, a superfície semeada deve crescer, o que leva o setor a acreditar numa área minimamente abaixo do ciclo anterior. “Ao longo dos últimos anos, em função da crise do setor, o quadro de área semeada na Argentina vem caindo”, avisa.

MUDANÇA
A grande mudança que ocorreu na orizicultura local nos últimos anos, é a diminuição do número de produtores clássicos. Atualmente, mais de 75% da área semeada na Argentina é formada por grandes indústrias arrozeiras ou grandes produtores com indústrias própria. Muitas destas empresas, nos últimos anos, tiveram que crescer em área semeada para gerar a sua matéria-prima, diante da escassez de produtores. “O preço do arroz em casca na Argentina se mede por estes 25% de produto em mãos de produtores não integrados em indústrias”, diz Christian Jetter.

FATORES ECONÔMICOS
Com uma inflação anual superior a 40% uma desvalorização do peso que se move ai compasso da política e não da economia, os custos de produção estão permanentemente em movimento. “Com taxas de juros anuais para financiar aos produtores superiores a 50% em pesos e 12% em dólares”, observa. Os custos de produção por hectare superam os US$ 1.600,00 por hectare. Sem os custos financeiros. “O arroz segue pagando um imposto de 5% do valor de venda para exportar, se o produto é beneficiado e 10% se exportado em casca”, acrescenta.

Ainda segundo Christian Jetter, a pandemia da covid-19 teve um baixo efeito no setor arrozeiro argentino, que seguiu operando praticamente normalmente. Só alguns entes estatais demoraram nos trâmites como consequência de baixas em quadro de pessoal. “O setor arrozeiro gerou protocolos que lhe permitiram desenvolver sua atividade produtiva e industrial com quase normalidade.

 

Pé no freio
O Paraguai, país que cresceu 10 vezes sua produção em 20 anos, colocou o pé no freio na temporada 2020/21. O plantio já está encerrado e as áreas que conseguiram boa reserva de água ou estão às margens de rios mais fortes, se estabeleceram bem. No entanto, o presidente da Associação dos Produtores de Arroz do Paraguai (Appa) e também da Câmara Paraguaia das Indústrias do Arroz (Caparroz) Ignácio Heisecke, destaca que o país vive uma das mais suas mais sérias estiagens das últimas décadas. “Tivemos algumas chuvas em meados de novembro, mas estamos vindo de quase dois anos de seca, que afetaram a reposição dos mananciais e a dimensão das lavouras. Não só o arroz está reduzindo área, mas a soja em terras baixas também. Vamos ver se vai ocorrer chuvas mais ao fim do ano para que seja possível terminar o plantio”, explica.

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