Corte sobre corte

 Corte sobre corte

Tratamentos do cultivo podem ser comprometidos por falta de recursos

Gaúchos mantêm redução de área e falta
de renda deve atingir tratos culturais
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O Rio Grande do Sul está voltando ao tamanho de área cultivada no final dos anos 1990, isto é, 20 anos atrás, semeando menos de 950 mil hectares numa safra. Nos últimos 20 anos há exceções, mas exclusivamente em temporadas afetadas pelo fenômeno climático El Niño, que gerou, além das perdas de áreas já cultivadas por enchentes e enxurradas, a impossibilidade de plantar em alguns cortes previamente definidos.

“Eliminar áreas de cultivo é a última medida que um produtor toma para evitar prejuízos ou pela impossibilidade financeira de plantar, seja pelo grau de endividamento, falta de acesso ao crédito ou indisponibilidade de capital. O impulso do produtor é, no mínimo, manter as dimensões da lavoura”, explica Marco Aurélio Marques Tavares, diretor de mercados e exportação da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul.

Para quem ainda tem algum capital e em áreas de lavouras maiores, a redução se dá por ajuste de corte, eliminação de terrenos mais inçados – inclusive pela rotação com soja ou passíveis de alagamento ou, ainda, que exigem mais levantes de irrigação – e custo – entrega de áreas arrendadas de baixa ou nenhuma rentabilidade. “A maior parte dos produtores gaúchos está sendo obrigada, por falta de renda, a reduzir o plantio. Por um lado, é decepcionante que uma cadeia produtiva altamente tecnológica e competente dentro da porteira seja pressionada desta forma por questões que são decididas da porteira pra fora. Mas por outro lado, a medida ajuda a ajustar a oferta a uma demanda em queda, e isso poderá valorizar o grão na próxima temporada”, explica o presidente da Federarroz, Alexandre Velho.

O Instituto Rio Grandense do Arroz estima para a safra 2019/20 o plantio de 946,3 mil hectares com arroz no estado, uma redução de 37,8 mil, valor equivalente à queda de 3,8%.

Consolidando produtividade média de 7.500 quilos por hectare, a produção gaúcha deve ficar próxima de 7,1 milhões de toneladas. Seria a menor produção desde 2009/10, quando o clima provocou uma queda importante na colheita. Até o final de outubro, cerca de 50% da lavoura estava semeada, mas com expectativa de um novembro com chuvas acima da média e risco de atraso no plantio de parte dos terrenos, o que poderá afetar a produtividade final. A safra 2018/19 já havia apresentado uma retração de área de 93 mil hectares e quase 1,3 milhão de toneladas no estado.

 


Na medida do razoável

A falta de preços de comercialização que cubram os custos, de uma renegociação das dívidas de mais da metade dos arrozeiros, do acesso ao crédito oficial e de capacidade de investimentos cobrará o preço na safra gaúcha nesta temporada 2019/20. A opinião é da presidente da Associação de Arrozeiros de Alegrete (RS), Fátima Marchezan, que avalia a diminuição da área plantada no estado e em seu município (na faixa de 5%) como apenas uma das formas que o produtor encontrou para equalizar os problemas.

“Além de redimensionar as lavouras, boa parte dos arrozeiros não terá recursos suficientes para aplicar o manejo tecnológico recomendado, isso implicará na produtividade e, em alguns casos, até na qualidade da lavoura e dos grãos colhidos”, explica.

Segundo a dirigente, é cortando custo nos tratamentos necessários à lavoura que alguns produtores buscam equilibrar as contas ou fazê-las caber na sua disponibilidade de recursos. “Temo, diante das dificuldades dos rizicultores, pelo resultado desta colheita. Além disso, podemos passar de um clima de neutralidade para El Niño, e o clima desfavorável exigiria maior volume de insumos e tratamentos, o que aumenta o desembolso e – se não atendido – afeta a produção”, acrescenta.

José Carlos Gross, presidente da Associação de Arrozeiros de Camaquã (RS), também demonstra preocupação com o resultado da safra. “A lavoura é uma indústria de grãos a céu aberto, com todos os riscos que isso oferece. Com parte dos produtores sem recursos pela descapitalização que vem ocorrendo nas últimas temporadas, é mais difícil combater e evitar que os riscos o afetem com redução produtiva, aumento dos custos ou algo do tipo”, reconhece.

FIQUE DE OLHO

O dimensionamento da safra gaúcha sofrerá ajustes até a colheita, mas é importante frisar que mais uma vez o Irga conseguiu levantar a intenção de plantio, em agosto, muito próxima da realidade que se percebe até o final de outubro. Nesta década, essa tem sido uma constante.

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