De olho no líquido

 De olho no líquido

A temporada comercial 2017/18 iniciou registrando o menor estoque de passagem da década, suficiente para duas semanas de consumo contra a média de quase 60 dias nas últimas safras. Portanto, mesmo com a recuperação produtiva, o suprimento nacional será próximo da demanda pela necessidade de recompor estoques. Isso fará com que o país, pelo segundo ano consecutivo, seja importador líquido depois de cinco temporadas exportando mais que importando.

Para o analista Élcio Bento, da Safras & Mercado, isso reflete na formação de preços. “Se o país tem excedentes a escoar, os preços domésticos se balizam pela paridade de exportação. Para competir no exterior, os países do Mercosul não têm a ‘proteção’ da tarifa externa comum (TEC) de 12% nem o adicional sobre o valor do frete para renovação da Marinha Mercante (AFRMM) de 25%”, explica. Então, as referências são as cotações do arroz norte-americano, maior exportador extra-Ásia, com mais de 4 milhões de toneladas base casca. No início de abril, o grão era cotado a R$ 35,00 a saca na Bolsa de Chicago.
Quando há necessidade de importar, a referência é o preço que chega ao Brasil o arroz do exterior. Nesse caso, os fornecedores do Mercosul têm isenção da TEC e do AFRMM. O preço máximo que podem cobrar é o que outras origens extrabloco passariam a ser competitivas.

Como as taxas de importação encarecem a aquisição nas outras origens, a paridade se eleva. Na primeira quinzena de abril, o arroz em casca era cotado a US$ 11,50 a saca nos países do Mercosul (FOB fronteira), que pela média do dólar corresponde a R$ 36,20 a saca. Mas o arroz em casca dos Estados Unidos chegaria ao Porto de Santos (SP) próximo a R$ 48,00 a saca.

Esse spread largo deve-se ao ingresso de safra no Cone Sul e à necessidade dos demais países em escoar para terceiros mercados além do Brasil. Élcio Bento vê para os próximos meses a tendência de pressão externa. O saldo exportável no Mercosul é estimado em 2,7 milhões de toneladas. “Ou seja, os parceiros têm arroz suficiente e ainda mais 1,5 milhão de toneladas que os obriga a disputar em mercados nos quais não tem vantagens tributárias”, frisa.

Só o excedente paraguaio é de 900 mil toneladas. Na primeira quinzena de abril, o arroz beneficiado paraguaio chegava ao CIF de São Paulo por R$ 62,45/30 quilos, 0,88% abaixo da referência nacional. Essa paridade mostra que o espaço para recuo no âmbito doméstico é curto e teve influência no grão em casca.

DÉFICIT
No ciclo comercial 2017/18, para elevar os estoques para um mês de consumo, metade da média dos cinco anos anteriores, o Brasil terá que gerar um déficit de 400 mil toneladas. Com as exportações, especialmente de arroz quebrado, deve somar saídas de 800 mil toneladas, abrindo a necessidade de comprar 1,2 milhão fora.

FIQUE DE OLHO
Um aspecto a ser considerado é a tensão política entre México e Estados Unidos, que pode trazer mudanças nas transações comerciais da região. Os mexicanos importam anualmente mais de 1 milhão de toneladas. Se as medidas do governo norte-americano levarem os mexicanos a buscarem novos mercados é preciso analisar o movimento sob duas óticas: 1) Se houver a abertura de um novo mercado, os países do Mercosul, incluindo o Brasil, poderão se beneficiar. A Guiana, que tem superávit de produção em mais de 600 mil toneladas, também poderá aproveitar. 2) Por outro lado, os EUA, com um superávit comercial estimado em 4 milhões de toneladas (base casca), terão de ser mais agressivos em outros mercados para compensar a perda. E resta saber até quanto o México estará disposto a pagar por outra fonte de fornecimento. O arroz dos Estados Unidos a R$ 35,00/saca em CBOT – mais próximo que origens do Mercosul – obriga esses outros fornecedores a operarem abaixo disso para ganharem o mercado. O Brasil, com necessidade de compras externas para garantir o abastecimento doméstico, tende a não ter preços competitivos. O mercado interno será mais atraente.

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