Desafios da entressafra nas lavouras de arroz irrigado no Rio Grande do Sul
No âmbito de uma agricultura baseada em processos e buscando a sustentabilidade econômica, social e ambiental das propriedades rurais deve-se adotar os conceitos de uma agricultura conservacionista, que tem entre seus pilares: 1) diversificação de espécies via rotação, sucessão e/ou consorciação de culturas; 2) manutenção do solo permanentemente coberto ao longo do ano promovendo a ciclagem de nutrientes; 3) minimização do intervalo de tempo entre a colheita e a semeadura subsequente.
Em terras baixas, a sucessão de culturas é uma prática ainda incipiente em virtude da dificuldade de adaptação a solos hidromórficos da maioria das espécies de inverno atualmente disponíveis e cultivadas em terras altas. Ainda são poucos os estudos de sistemas de produção envolvendo sucessão de culturas, o que limita sua ampla adoção pelos rizicultores gaúchos. Apesar disso, muitos pesquisadores e extensionistas enxergam essa prática de manejo fundamental para a sustentabilidade da lavoura de arroz irrigado no Rio Grande do Sul, pois ela favorece o controle de plantas daninhas e quebra o ciclo de insetos e doenças, além de agregar benefícios na fertilidade do solo, promover a ciclagem de nutrientes, melhorar os resultados do sistema de integração lavoura-pecuária, e, dependendo do manejo adotado, permitir diluir o custo de preparo do solo com a lavoura orizícola, otimizando recursos humanos, máquinas e combustível.
Nas lavouras gaúchas, as principais espécies utilizadas em áreas de arroz irrigado no outono/inverno como plantas forrageiras e/ou de cobertura de solo são o azevém (principal e mais utilizada) e algumas cultivares de trevos e cornichão. Outra espécie que tem potencial para ser utilizada como cobertura de solo é a serradela nativa (Ornithopus micranthus) devido à sua adaptação a solos mal drenados.
As informações de pesquisa hoje disponíveis e o conhecimento dos produtores indicam como principais desafios da implantação e desenvolvimento das forrageiras e/ou coberturas durante o período de outono/inverno em áreas de arroz irrigado:
– Identificar sistemas de sucessão de culturas que viabilizem as propriedades técnica, econômica e ambiental e que se “encaixem” dentro da matriz produtiva de cada propriedade rural.
– Implementar sistemas de sucessão de culturas capazes de gerar quantidades de matéria seca suficiente para manter o solo coberto o ano inteiro.
– Reduzir o número de áreas em pousio no outono/inverno, no período de entressafra das culturas comerciais de verão, minimizando o potencial de perdas de nutrientes no solo.
– Optar por sistemas de sucessão de culturas que possibilitem a integração lavoura-pecuária.
– Necessidade de identificar, localizar e manejar a camada compactada no solo que dificulta/impede o desenvolvimento do sistema radicular das culturas agrícolas e que limita a quantidade de armazenamento de água no solo.
– Aumentar os esforços científicos para identificar culturas de inverno que possam ser implementadas nos sistemas de sucessão cultural.
– Sistematização das áreas e sua relação com o aproveitamento do potencial de uso das terras baixas para cultivos não adaptados a solos hidromórficos.
– Estabelecimento de um sistema de drenagem visando minimizar os períodos de hipoxia/anoxia durante o ciclo de desenvolvimento das culturas agrícolas.
– Identificação de genótipos nas culturas agrícolas de inverno (azevém, aveia, trigo, trevo…) mais tolerantes ao excesso hídrico no solo.
– A presença de palha em quantidade elevada, mantendo o solo com excesso de umidade, pode dificultar a semeadura do arroz na época recomendada (1º de setembro a 10 de novembro), que é uma das condições essenciais para obtenção de altas produtividades.
ALENCAR JUNIOR ZANON
Doutor em Agronomia com foco em Práticas de Manejo e Ecofisiologia Vegetal professor da Universidade Federal
de Santa Maria (UFSM)