Descompasso em SC

Apesar dos preços baixos, catarinenses não pensam em reduzir a área plantada na safra 2011/12
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O excesso de arroz no mercado brasileiro está achatando os preços pagos aos rizicultores. Ainda há estoques relativamente elevados nos armazéns do governo e do setor privado, e a colheita da nova safra de arroz inicia no fim de fevereiro. Para fazer frente a esta realidade, os produtores do Rio Grande do Sul já falam em reduzir suas lavouras e até substituir parte da área plantada com outras culturas, como a soja.

Em Santa Catarina, no entanto, a tendência é de que a produção seja mantida nos mesmos volumes das safras anteriores, com um possível incremento, inclusive de área. A situação preocupa a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (Faesc), que, a exemplo de sua co-irmã gaúcha, a Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), busca alternativas para evitar mais prejuízos para o setor. “Os produtores não estão se ajudando. Muitos vão repetir a área, outros, inclusive, vão aumentar suas lavouras”, relata o vice-presidente da Faesc, Enori Barbieri.

Segundo ele, ao contrário dos gaúchos, alguns produtores catarinenses acreditam que a saída para a crise seja aumentar o volume produzido, o que, na prática, acaba sendo um processo suicida. “Muitos acham que o governo tem que resolver a situação, mas a gente sabe que, mesmo com todo o esforço do governo, as medidas não conseguiram alterar o quadro de crise. O preço da saca já caiu 8% somente neste ano”, observa.

Barbieri ressalta que a importação de arroz dos países do Mercosul contribui para agravar ainda mais esse quadro de superoferta. “Como reflexo dessa situação, o mercado está pagando de R$ 20,00 a R$ 23,00 a saca de arroz, valor abaixo do preço mínimo fixado pelo governo, de R$ 25,80”, compara.

O Brasil cultiva 2,9 milhões de hectares e produz 12,6 milhões de toneladas de grãos, sendo que os dois maiores produtores são Rio Grande do Sul, que responde por 64,4%, e Santa Catarina, com 8,4% da produção nacional. A proximidade geográfica e a afinidade econômica fazem com que os dois estados atuem de forma coordenada na questão do arroz, já que representam mais de 72% da oferta nacional.

“A diferença em relação ao RS é que em SC as propriedades são menores e mais consolidadas, geralmente próximas às unidades industriais. A produtividade aqui é maior, temos menos arrendamentos que no RS, então os custos de produção acabam sendo menores. Outro diferencial é que, geralmente, em uma família de produtores sempre tem algum membro que trabalha em outra atividade, o que ajuda a incrementar a renda na propriedade”, explica Barbieri.

Processo predatório

Para Enori Barbieri, a alternativa mais viável, no momento, para a cultura no estado é reduzir a área plantada para aumentar a demanda e melhorar o preço. “Nossa produção está em descompasso com o mercado. Trata-se de um processo predatório, que vai acabar eliminando os produtores que são menos eficientes. No ano que vem, os agricultores terão que bancar o ônus da prorrogação das dívidas, que somadas às despesas com a preparação da lavoura vão agravar ainda mais este quadro”, resume.

O dirigente também critica a falta de organização do setor. “É preciso que as entidades representativas dos agricultores façam um trabalho mais consciente voltado à redução da produção. Também precisamos buscar alternativas para diversificar a lavoura, mas não existem muitas pesquisas com esta finalidade”, avalia.

Perfil

O arroz é a principal fonte de renda de 8 mil produtores catarinenses, gerando mais de 50 mil empregos diretos e indiretos. O estado cultiva 150,5 mil hectares e produz 1 milhão e 39 mil toneladas por ano em 60 municípios do Sul, Vale do Itajaí e Norte catarinense.

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