Do tamanho da crise
Brasil planta a menor área de arroz da história e deve
voltar 20 anos em volume colhido na atual safra .
Com boa parte dos produtores sem renda e sem crédito, procurando culturas alternativas e operando no vermelho na última década, a safra de arroz 2019/20 deve consolidar números que nem o mais pessimista dos produtores imaginaria há 10 anos. O Brasil semeia a sua menor área na história, com uma previsão de 1,687 milhão de hectares no total, 10 mil hectares a menos do que na temporada anterior. Comparada com a área semeada há 10 anos, na safra 2009/10, o encolhimento é de 1,08 milhão de hectares, e com a temporada 1999/00, é 1,991 milhão de diferença a menor.
Mesmo com um avanço significativo de produtividade, de 4.218 quilos por hectare para 6.308 em 10 anos, e 151 quilos sobre o ciclo passado, a produção esperada na atual safra deve retroagir ao parâmetro do que o Brasil colhia em uma safra normal há 20 anos. Exceto no início do século, somente em anos de El Niño – 2014/15 e 2018/19 – o Brasil colheu menos de 11 milhões de toneladas numa safra de arroz. “O clima normalmente tem sido o fator determinante da redução de safras, mas vivemos uma nova realidade, na qual o mercado exige um ajuste de oferta pela sobrevivência do produtor e fatores como falta de crédito, culturas alternativas e custo muito elevado ajudam a construir este cenário”, afirma Cleiton Evandro dos Santos, analista da AgroDados/Planeta Arroz.
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em seu relatório divulgado na primeira quinzena de outubro, após uma safra 2018/19 significativamente abaixo da média produtiva do setor orizícola brasileiro em razão de problemas climáticos no Rio Grande do Sul, a safra 2019/20 é projetada em 10,64 milhões de toneladas. E apesar da amena recuperação produtiva, continua abaixo da média histórica.
“Esse cenário se deve à baixa rentabilidade identificada nas últimas safras, o que reflete em retração de área de arroz irrigado no Rio Grande do Sul, que é o maior produtor nacional e representa cerca de 70% do volume a ser colhido”, afirma o relatório da companhia. Para a safra 2019/20, mesmo diante da baixa produção nacional e do baixo estoque de passagem, a redução do consumo nacional, provavelmente, conterá uma expansão expressiva de preços e rentabilidade. A previsão de neutralidade no clima, que pode mudar a qualquer momento, também gera uma incógnita. Em períodos de neutralidade, isto é, sem ocorrência dos fenômenos El Niño e La Niña, já ocorreram episódios de enchentes e excesso de chuvas em algumas regiões, bem como de estiagem.