É preciso reagir

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Dornelles: expectativa de redenção

Maioria dos produtores
não alcançará preços
remuneradores até 2018
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 A conjuntura do mercado de arroz do Brasil em 2017 indica um cenário pouco animador para a maior parte dos rizicultores. Estima-se que os preços baixos praticados no primeiro semestre do ano comercial, entre março e agosto, tenham retirado a rentabilidade ou gerado prejuízos para pelo menos 50% dos produtores. “É uma situação preocupante, pois temos mais da metade dos arrozeiros sem acesso ao crédito oficial e que são forçados a buscar recursos na indústria e nos fornecedores e obrigados a entregar a safra na colheita, quando os preços não cobrem os custos de produção. Estamos falando de um número que chega perto da metade da produção gaúcha”, reconhece Francisco Lineu Schardong, da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul). Antônio da Luz, economista da Farsul, aponta que 30% do custo do hectare de arroz é de impostos.

A cadeia produtiva acredita que mesmo os produtores mais capitalizados, que conseguem segurar o grão para comercializar no segundo semestre, desenvolvem outras atividades como o cultivo da soja e a pecuária, plantam em área própria e dispõem de armazenagem, terão um ano com margens muito mais apertadas.

A oferta do Mercosul a preços baixos pressiona o mercado doméstico, os baixos valores das commodities, como carnes e até mesmo a soja, e os altos custos de produção se somam para o balanço negativo, que piorou com o aumento de impostos sobre combustíveis e pode ficar mais crítico com um possível aumento também sobre os fertilizantes.

O alongamento do vencimento das parcelas do custeio, ainda que paliativo, retira a pressão de venda do final de junho e julho, o que, se não recuperou os preços, ao menos não deixou caírem. “Não há produtor que não vislumbre o próximo ano com expectativa de redenção, mas é preciso avaliar bem a conjuntura. O país em recessão e o crédito cada vez mais restrito, além do alto custo e a baixa competitividade, poderão nos conduzir a um primeiro semestre em 2018 que seja tão fraco quanto o atual em termos de cotações”, avisa Henrique Dornelles, presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz).

Diante deste cenário, Dornelles pede aos produtores que ajam com extrema cautela, evitem investimentos que exijam muitos esforços para o pagamento, priorizem o capital de giro, comprem insumos de qualidade, mas negociem o melhor preço possível, e se querem buscar capital de custeio junto à indústria e fornecedores, mesmo que em troca de produto, ao menos travem o preço em valores que cubram o custo. “Se o produtor entrar em 2018 acumulando o terceiro ano de prejuízos, será a bancarrota para muitos”, sentencia.

O presidente da Câmara Setorial do Arroz, Daire Coutinho, acredita que o produtor deve buscar alternativas para viabilizar a redução dos custos, o que pode levar à rentabilidade. “Se não é possível reduzir custos como a energia e os combustíveis é preciso otimizar o seu uso, trabalhar nas áreas mais produtivas, com irrigação natural e o mínimo de levantes, menor histórico de invasoras e melhores resultados”, enfatiza.

O presidente da Associação de Arrozeiros de Itaqui e Maçambará, Raul Borges Neto, considera que a situação de falta de acesso ao crédito oficial e risco de exclusão de produtores do setor por endividamento e inviabilidade comercial das lavouras precisam ser enfrentados de forma política. “Atualmente, todos no setor estão bem e investindo: indústria de beneficiamento, fornecedores de insumos, prestadores de serviços. Só quem está mal é o arrozeiro. E isso é o que devemos discutir. Não podemos seguir sendo o elo fraco da cadeia”, desabafa.

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