El Niño deve chegar à categoria forte até o fim de 2023

 El Niño deve chegar à categoria forte até o fim de 2023

Figura 1. Anomalia da temperatura da água da superfície do mar (TSM) no mês de setembro de 2023. Fonte: adaptado de Cptec/Inpe. O retângulo central na imagem mostra a região do Niño 3.4, a qual os centros internacionais utilizam para calcular o Índice Niño (índice que define a ocorrência de eventos de El Niño e La Niña). Enquanto que o retângulo menor mostra a região Niño 1+2, que modula a qualidade, ou seja, a regularidade de ocorrência de chuvas no estado do RS. Fonte: adaptado de Cptec/Inpe

Foi declarado em junho de 2023, pela Noaa (National Oceanic and Atmospheric Administration), o retorno do El Niño, que é caracterizado pelo aquecimento anômalo das águas do Oceano Pacífico Equatorial, causando distúrbios no regime de
temperatura, ventos e precipitação pluvial em algumas regiões do planeta.

O mês de setembro foi o quinto mês consecutivo com anomalias de temperatura em patamar de El Niño. A região do Niño3.4 registrou anomalia de +1,5°C, que se caracteriza como forte intensidade (figura 1). No entanto, para definir a intensidade oficialmente, a Noaa utiliza o índice ONI (Oceanic Niño Index), que é trimestral e foi de +1,3°C no trimestre
julho-agosto-setembro de 2023. Logo, oficialmente, o El Niño esteve em setembro com intensidade moderadaFoi durante o mês de setembro que o estado do Rio Grande do Sul (RS) sentiu, de fato, o impacto desse El Niño, com precipitação mensal acumulada muito elevada em vários municípios, com destaque para o de Encruzilhada do Sul, com 680 mm. A semeadura
do arroz praticamente não evoluiu no mês de setembro devido ao alto volume e à alta frequência das chuvas. Já durante o mês de outubro, ela avançou mais rápido nas regiões da fronteira oeste, campanha e zona sul devido ao tempo mais seco.

Segundo a Noaa, a expectativa é de que o El Niño se mantenha, com 99% de probabilidade (figura 2), até o trimestre dezembro/2023 e janeiro-fevereiro/2024, influenciando, dessa forma, todo o período da safra de arroz e das culturas de sequeiro utilizadas em rotação em terras baixas no estado do RS. Há, ainda, a expectativa de que ele alcance a categoria forte até o fim do ano.

É esperado que nos meses de novembro e dezembro deste ano ainda ocorram precipitações acima da Normal Climatológica (NC) em todo o estado do RS, principalmente na metade oeste. Com a aproximação do verão, a tendência é de que haja períodos maiores de tempo seco e que as chuvas ocorram de forma mais concentrada. Nos meses de janeiro e fevereiro, o risco de ocorrer maiores períodos de tempo seco aumenta, ou seja, poderão ocorrer estiagens curtas e regionalizadas, de 20 a 30 dias com poucas chuvas, que poderão resultar em decréscimo de produtividade das culturas de sequeiro de primavera-
-verão, especialmente a soja. Dessa forma, há divergência entre os modelos, com alguns prevendo precipitação entre a NC acima da média, e outros com previsão de que em algumas regiões menores a precipitação seja abaixo da NC.

Figura 2. Probabilidade (%) oficial no Enos (El Niño Oscilação Sul) para o índice da temperatura da superfície do mar na região Niño 3.4. Gráfico atualizado em 12 de outubro de 2023 pelo CPC/IRI/Noaa.
As barras em azul significam probabilidade de La Niña, as cinzas de Neutralidade e as vermelhas de El Niño.
Fonte: adaptado de IRI (International Research Institute – Columbia University)

De qualquer forma, o que o passado mostra é que safras com El Niño sofrem com menor radiação solar no estado do RS e, com isso, a produtividade de arroz tende a ser menorque a obtida nas últimas quatro safras. Além disso, o atraso na época de
semeadura também deverá contribuir para reduzir a produtividade do arroz em algumas regiões. Já as culturas de sequeiro em rotação em terras baixas, como a soja e o milho, tendem a ser beneficiadas pela maior disponibilidade hídrica e melhor distribuição das precipitações ao longo do ciclo.

Salienta-se que o produtor fique sempre atento às previsões climáticas e do tempo para tomar as melhores decisões no manejo de suas lavouras.

JOSSANA CEOLIN CERA
AGROMETEOROLOGISTA DO IRGA

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