Em frente, mas devagar
Mapa prevê uma década com safras entre 10,5 e 11,5 milhões de t
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) divulgou as projeções do agronegócio do Brasil para o decênio 2021/22 – 2031/32 com números que indicam uma produção média entre 10,5 e 11,5 milhões de toneladas de arroz. A projeção, em parceria com instituições nacionais e internacionais, indica que o Brasil elevará gradativamente suas colheitas até atingir 11,46 milhões de toneladas em 2031/32, 6,3% a mais sobre a temporada 2021/22.
A previsão é inversa a que foi realizada há 10 anos, que previa um grande salto no volume produzido até a safra passada e um aumento de área. Pelo estudo, a produtividade média deverá seguir crescendo, com cada vez menor participação das áreas de sequeiro e maior das lavouras de arroz irrigado. Essa produtividade é que garantirá que o Brasil continue superavitário em arroz, mesmo reduzindo em 57,3% a área cultivada, passando dos 1,679 milhão de hectares da temporada passada para 701 mil hectares em 10 anos.
A má notícia é que o consumo seguirá em queda, chegando 2,3% menor em 2032, em uma produção estimada de 10,55 milhões de toneladas. Desde o ano 2000, o consumo reduziu cerca de duas toneladas. Atualmente, está por volta de 10,8 milhões de toneladas ao ano. Uma boa notícia, ao menos aos produtores, é a de que a importação reduzirá 27,6%, até 796 mil t.
Segundo o relatório, há uma possibilidade do Brasil buscar o limite superior do estudo: se conseguir aumentar a sua presença no mercado externo, para o qual, atualmente, somente remete 8% da produção. “Com a redução prevista para o consumo, será necessário buscar novos mercados e ampliar as exportações”, observaram os técnicos da Embrapa Arroz e Feijão.
Informações para a competitividade
As projeções do agronegócio 2021/22 a 2031/32, publicadas pelo Mapa, trazem estimativas nacionais selecionadas e buscam indicar direções do desenvolvimento e fornecer subsídios aos formuladores de políticas públicas quanto às tendências dos principais produtos. Os resultados atendem aos diversos setores da economia nacional e internacional para os quais as informações são de enorme importância. As tendências indicadas permitirão identificar trajetórias possíveis e estruturar visões de futuro do agronegócio no cenário mundial para que o país siga crescendo e conquistando mercados.
Fique de olho
O documento divulgado pelo Mapa tem também um limite superior de produção, consumo e importações. Nesse cenário, o Brasil poderá chegar a produzir 18,9 milhões de toneladas de arroz em casca na safra 2031/32, consumir 13,68 milhões de toneladas e importar 2,98 milhões de toneladas. No entanto, com o advento das novas tecnologias que permitem rotação com outros cultivos de menor custo e melhores margens, apesar da base dos cálculos e do modelo, esses números são muito improváveis.
Impacto dos sistemas
Os analistas da Embrapa Arroz e Feijão de Goiás, na colaboração que deram ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para as projeções do agronegócios, avaliam que muito provavelmente a área cultivada não irá decrescer na magnitude da projeção, que indica 57,3% de queda. De 1,679 milhão de hectares na temporada passada, deverá chegar a 2031/32 em 717 mil hectares, segundo o modelo de cálculo aplicado.
Os técnicos envolvidos no trabalho, porém, entendem que o modelo traz a memória recente do comportamento da área, quando houve fortes reduções das lavouras de terras altas/sequeiro. A diminuição nesses sistemas continua acontecendo, mas em níveis bem inferiores aos grandes saltos negativos de um passado não muito distante.
Os aumentos recentes no nível de produtividade das lavouras decorrem, em especial, dessa retração no centro-oeste, norte, sudeste e nordeste em terras altas, cujo desempenho é bem inferior ao arroz irrigado, e o aumento dos rendimentos por área dentro de cada sistema de cultivo.
Destaque para novas variedades, que trazem embarcadas tecnologias de tolerância ou resistência a pragas, doenças e herbicidas, a evolução do manejo e a rotação de culturas com soja, milho e pastagens no Rio Grande do Sul, mas, principalmente, em áreas de pousio. O estado gaúcho, na safra 2021/22, produziu 71% do volume nacional do grão. Os outros estados relevantes são Santa Catarina, Tocantins e Mato Grosso.
O potencial do Tocantins
O arroz mudou, definitivamente. Diferentemente do que acontecia até 10 anos atrás, em que o cereal era a única opção para cultivos em várzeas ou terras baixas, a evolução das tecnologias, como o sulco-camalhão desenvolvido e difundido pela Embrapa, deflagrou um processo de transformação nesses ambientes.
Com o ingresso de 500 mil hectares nesse modelo no Rio Grande do Sul, que poderá avançar rapidamente para mais de 650 mil, a menos que os preços do arroz em casca subam, a superfície anual cultivada no sul do Brasil – e no Mercosul – deverá continuar em queda livre.
No Brasil central, em especial nos cerrados, esse fenômeno já aconteceu. A melhor remuneração do milho e da soja acabou criando um modelo de sucesso que domina o agronegócio brasileiro. Para os técnicos da Embrapa, a única expansão possível de acontecer com arroz irrigado por inundação no país seria no Tocantins, que tem projetos que permitiriam passar dos atuais 120 mil hectares para até 300 mil ha. Outro avanço que poderá ocorrer são nos cultivos de irrigação por aspersão, em diferentes regiões do país, com uso de pivôs centrais. O arroz produzido nesse sistema representa uma nova era na orizicultura, unindo o potencial produtivo do irrigado ao menor impacto ambiental, como a queda na emissão de gases de efeito estufa (GEE) na forma de metano pelo fato de o solo não ficar submerso, e a economia de água.
Com um avanço das áreas irrigadas por aspersão, a entrada do arroz pode se tornar uma importante opção de rotação de culturas em alguns sistemas, com uma série de benefícios econômicos. A pesquisa tem disponibilizado novas cultivares que se adaptam muito bem a esse sistema de cultivo.