Espaço dividido
Competindo com a
liquidez da soja, o
arroz perde espaço no cerrado do Mato Grosso
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Historicamente, pesquisadores e produtores do Mato Grosso destacavam a necessidade de o arroz inserir-se no sistema de produção do cerrado. Três caminhos foram encontrados para cultivá-lo em sistema de terras altas: a produção na safra de verão, a recuperação de pastagens degradadas e, recentemente, na segunda safra, após a colheita da soja, seguida pela pastagem, adotando a sucessão e integrando lavoura e pecuária. Apesar da evolução das tecnologias, das variedades, da qualidade do arroz cultivado e dos sistemas de produção, uma situação persiste: o arroz disputa área com a soja, e geralmente perde para a liquidez e a garantia de mercado.
Nesta safra a situação se tornou mais evidente por causa do clima, dos preços do milho na época de definir a safrinha e da demanda dos produtores por rentabilidade. O levantamento de safra divulgado no início de maio pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) confirmou o recuo de 16,7% da área plantada de arroz em Mato Grosso, para 156,7 mil hectares. A produção cairá 17,2%, para 507,2 mil toneladas. Com isso o estado perde o posto de terceiro produtor do Brasil para o Tocantins, que deve alcançar 576 mil toneladas em área de 126 mil hectares.
A primeira metade da colheita registrou volume significativo de grão de média e baixa qualidade e alto percentual de quebrados principalmente nas regiões Norte e Médio-Norte devido à estiagem. A média produtiva, segundo a Conab, deve ficar em 3.237 quilos por hectare, 0,6% inferior à safra passada.
A queda da produção e da qualidade pôs em alerta a indústria mato-grossense, que precisa buscar matéria-prima fora para evitar ociosidade. Nos últimos anos, os engenhos mantêm um patamar de preços valorizando o arroz de melhor qualidade.
O Mato Grosso consome anualmente pouco mais de 300 mil toneladas. O restante é dirigido a estados do Pará, Goiás e Mato Grosso do Sul. O presidente do Sindicato da Indústria do Arroz do Mato Grosso (Sindarroz-MT), Lázaro Modesto de Morais, de Rondonópolis, destaca o avanço da cadeia produtiva nos últimos anos, que vem garantindo que 85% do cereal consumido pelos mato-grossenses seja embalado no estado.
REFORÇO DE PESO
Aprovada no início de maio pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) para começar a ser utilizada nas embalagens de arroz pelas primeiras indústrias já em junho, a marca coletiva Arroz de Mato Grosso é um reforço importante na ambição da indústria em ampliar a presença no Centro-Oeste. Dois associados estão credenciados e certificados pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai/MT) para usarem o selo de qualidade. “Arroz de Mato Grosso: sustentabilidade, qualidade e parceria” são os dizeres do selo que será estampado nas embalagens.
A marca coletiva exige, em contrapartida, das indústrias a adoção de alguns princípios de práticas agrícolas, sistemas de produção, beneficiamento e comercialização. O plano passará por trabalho de marketing para identificar e divulgar as qualidades e as diferenças do arroz de terras altas, em especial o comportamento de panela, que interessa muito ao consumidor.