Estoque apertado e perdas com estiagem devem sustentar preço do arroz
(Por Patrícia Feiten, CP/RS) Mesmo com a colheita em andamento no Rio Grande do Sul e com o ingresso do arroz importado do Paraguai e do Uruguai nos dois primeiros meses do ano, segundo o consultor Evandro Oliveira, da Safras & Mercado, o ano deve ser de “preços firmes” ao grão. “Em plena entrada de safra, os preços estão com poucas alterações. A oferta é tão apertada que nem a entrada de safra desses países é suficiente para derrubar as cotações”, afirma Oliveira. Atualmente, a saca de 50 quilos está em R$ 85, de acordo com o Indicador Cepea/Irga-RS. “Então, neste ano, temos grande chance de a média dos preços no Rio Grande do Sul ultrapassar R$ 100”, afirma o consultor.
A temporada começa com estoques apertados, estimados entre 800 mil e 900 mil toneladas, explica Oliveira. Ele observa também que houve redução da área plantada com o cereal no Estado e que a estiagem trouxe prejuízo a parte das lavouras, impactando as projeções de safra. De acordo com as estimativas da Safras & Mercado, a produção brasileira de arroz no ciclo 2022/2023 deve ficar em 10,3 milhões de toneladas – a Conab prospecta uma colheita menor, de 9,9 milhões de toneladas. Para as exportações, a consultoria estima 1,55 milhão de toneladas embarcadas.
Oliveira também aposta em uma balança comercial do arroz mais equilibrada em 2023. Apesar de o dólar estar oportuno para o fechamento de negócios no mercado externo – atualmente, a moeda norte-americana é cotada em torno de R$ 5,30 – , a oferta restrita dificulta o embarque de volumes maiores. “No ano passado, tivemos uma produção de 10,9 milhões de toneladas, havia necessidade de escoamento da safra para estabelecer um patamar de preço favorável aos produtores”, explica.
Após exportar um recorde de 2,1 milhões de toneladas de arroz (base casca) em 2022, o Brasil manteve, no primeiro bimestre do ano, o ritmo de embarques de 100 mil toneladas mensais, mas não deve repetir em 2023 o desempenho do ano passado nas vendas externas, segundo o presidente do Sindicato da Indústria do Arroz no Rio Grande do Sul (Sindarroz), Carlos Eduardo Borba Nunes. De acordo com ele, o setor trabalha com a expectativa de equilíbrio na balança comercial do cereal e descarta falta de produto no mercado interno.
Em 2022, o setor arrozeiro teve um superávit comercial de 800 mil toneladas no país. Para 2023, com base nos embarques do primeiro bimestre, o Sindarroz projeta um saldo positivo de no máximo 200 mil toneladas, e um impulso às exportações dependeria de uma reação mais forte da taxa do câmbio. “Frente ao arroz norte-americano, estamos com um preço inferior. Temos um preço interno do arroz em torno de 16 dólares, e o norte-americano, em torno de 18, 19 dólares”, compara Nunes.
Segundo o executivo, o mercado interno reflete uma “acomodação” das cotações do arroz, após um período de alta motivada pelo aumento de consumo durante a pandemia de Covid-19. “O preço do produtor para a indústria é mais ou menos 20% inferior ao preço durante a pandemia. O Brasil deve chegar ao final do ano com um estoque de passagem em torno de 2 milhões de toneladas, que garante três meses de consumo, que é o normal nestes últimos dez anos”, explica.