Expansão necessária

 Expansão necessária

Apesar das dificuldades com o clima, arrozeiro ampliou área de cultivo

Abastecimento 2024 foi assegurado pelo aumento de área

Uma ampliação de 8,6% na área cultivada com arroz no Brasil na safra 2023/24 foi determinante para garantir o abastecimento nacional ao longo de 2024. A conclusão está no 11º levantamento da safra de grãos, publicado em agosto pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Afetada pelo fenômeno El Niño, que gerou chuvas acima da média no Sul e estiagens no resto do Brasil, a produtividade encolheu 2,8%, mas, pela expansão das lavouras, a colheita foi 5,6% maior que no ano passado.

Concluída em todo o país, foi registrado avanço de 127,9 mil hectares em superfície, de 1,38 milhão para 1,61 milhão de hectares. O cultivo irrigado cresceu 105,8 mil hectares, ou 9% sobre o ciclo anterior. Já o sequeiro, que vinha em queda, recuperou-se, de 303,5 mil para 325,6 mil hectares semeados, ou 7,3%, totalizando 21,9 mil hectares a mais.

Em sequeiro, o avanço foi verificado principalmente no Mato Grosso e no sistema irrigado em Tocantins, Goiás, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. No estado sulista, apesar da situação de calamidade pelas inundações, a cultura estava 85% colhida, e, as lavouras semeadas dentro do período recomendado, alcançaram produtividades relevantes.

A interferência climática gerou atraso na semeadura em parte das áreas e dificuldades para a realização dos tratos culturais. O clima adverso também na colheita determinou a retração dos rendimentos por área em 2,8%, de, em 2022/23, 6.780 quilos por hectare para 6.587 em 2023/24. Foram menos 193 quilos por hectare – ou quase quatro sacas. Em valor médio de mercado, comparativamente, prejuízo de R$ 450,00 por hectare.

Ainda assim, a produção nacional avançou 5,6%, para, em números arredondados, 10,59 milhões de toneladas. Foram 557,3 mil toneladas a mais que um ano antes, quando La Niña ocorria pelo terceiro ano seguido no Sul do Brasil, reduzindo a disponibilidade de água para irrigação, o que causou recuo na área semeada.

A produção no sequeiro aumentou 8,9%, ou 68,9 mil toneladas, quase toda no Mato Grosso, enquanto na área irrigada houve avanço: 488,4 mil toneladas – ou 5,3% mais.
Clima

A Conab avaliou que, apesar da influência do clima na produtividade, a qualidade dos grãos colhidos foi satisfatória, com bons rendimentos também na quantidade de grãos inteiros.

A expectativa de que as chuvas trazidas pelo El Niño reestabelecessem o fluxo das águas e recuperassem o nível das barragens, depois de três anos de seca, assim como o bom momento das cotações do arroz ao longo de 2023, foram fundamentais para o avanço da área.

Ao mesmo tempo, o temor do excesso de umidade fez com que o cultivo alternativo de soja em terras baixas fosse reduzido, com a orizicultura recuperando seu lugar.

Fique de olho
Embora a Conab só divulgue seu primeiro prognóstico da safra 2024/25 em outubro, o setor já fez suas apostas para a próxima temporada. A expectativa é de que a área nacional cultivada com arroz cresça, pelo menos, 3,5%, com ênfase no RS. O país semearia, portanto, cerca de 1,66 milhão de hectares.

Sul representa quase 80% da produção

Descontando os três estados do Sul do Brasil, o restante do país colabora com apenas 20,5% da produção de arroz na temporada 2023/24, embora corresponda a 33,7% da área semeada. Isso porque há grande diferença entre as produtividades obtidas com o uso de alta tecnologia no Sul e o resto do país, bem como entre o arroz irrigado e o sequeiro. Nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste ainda há muitas lavouras de subsistência, de pequenos produtores, com produtividades muito baixas.

Dessa forma, o Sul tem produtividade média 20% superior à nacional e 66,4% da área cultivada, aproveitando a geografia favorável com abundância de água e terras baixas, e, por isso, representa quase 80% da produção total do grão no Brasil.

Fora do Sul, o maior estado produtor de arroz é o Tocantins, cuja área semeada de 131,1 mil hectares na última temporada registrou crescimento de 48,8%. Preços, clima e o avanço das tecnologias, em especial variedades com a qualidade da Embrapa e maior resistência às doenças e variáveis do clima tropical, têm levado o estado a um avanço produtivo.

Chuvas em excesso e em momentos críticos da lavoura, no entanto, levaram os produtores nortistas à redução de 5% em produtividade por hectare na temporada, para 5.740 quilos, menos 304 quilos que na temporada passada. Ainda assim, a produção aumentou 41,3%, 220,1 mil t.

A colheita do arroz irrigado (primeira safra) foi finalizada. A área cultivada de segunda safra teve bom desenvolvimento, sem alta intercorrência de doenças, como brusone, havendo a colheita em plena época de entressafra, onde o produto pôde receber melhores preços no mercado.

Nordeste
No Maranhão, estado com maior diversidade de sistemas de produção (roça de toco, vazantes tradicionais, vazantes melhoradas, irrigado e sequeiro) e quinto maior produtor nacional, o plantio do arroz de terras altas foi realizado entre a primeira quinzena de dezembro de 2023 e o fim de fevereiro de 2024, e a colheita ocorreu de março e junho de 2024.

Nas regiões da Baixada, do Norte e Centro maranhense e no Médio Mearim, o cultivo utiliza cultivares de arroz irrigado melhoradas em áreas planas, onde ocorre inundação natural dos campos por águas das chuvas, sem controle de irrigação. Usa pacote tecnológico moderno e segue boas práticas de manejo. Assim, tem alcançado as maiores produtividades médias do estado. A área cultivada foi menor em 8,4%, caindo 7,9 mil hectares, chegando em 86,7 mil hectares semeados.

A produtividade aumentou 11,5%, para 2.225, mas sempre levando em conta que as médias obtidas são puxadas bem para baixo pelas roças arcaicas. A produção totalizou 192,9 mil toneladas, com avanço de 2,2%.

Familiar
Em todas as regiões do estado, o tradicional cultivo de arroz de sequeiro é realizado em maior parte pela agricultura familiar, em plantios consorciados com milho, feijão-caupi e mandioca, em roça no toco, e é voltada para o consumo próprio, com pequena comercialização, além do cultivo de arroz de sequeiro para abertura de áreas e posterior plantio de soja, por médios e grandes agricultores, sendo um cultivo sazonal.

Terras altas apresentaram evolução em área

Avanço no sequeiro

O Mato Grosso, que no início dos anos 2000 chegou a ser o terceiro maior produtor de arroz do Brasil, segue liderando a oferta no Centro-Oeste, porém, ocupa atualmente a quarta posição nacional, com estimativa de safra neste ciclo de 337,6 mil t, com um avanço de 21,7% sobre a colheita passada, ou 60,2 mil toneladas extras.

Para chegar a esse resultado, houve um avanço de 28% em área (21 mil ha), embora a produtividade tenha decrescido 5%, para 3.520 quilos por hectare.

Foram menos 184 quilos que na temporada passada.

Os bons preços praticados e o incentivo das indústrias locais, que tiveram que importar arroz de outras regiões no ano passado, ajudaram a elevar a superfície semeada.

Períodos de estiagem ao longo da temporada e chuvas intensas em fases críticas da lavoura, como a colheita, foram decisivos para reduzir o rendimento por área.

Questão básica
Na safra 2023/24, segundo dados oficiais da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), os cinco maiores estados produtores de arroz do Brasil, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Tocantins, Mato Grosso e Maranhão, correspondem a 90,5% da produção do cereal.

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