Hora da consolidação

 Hora da consolidação

Gelson Faccioni, do Irga, avalia o projeto na lavoura de Elcio Moro, em Dom Pedrito

Projeto Soja 6000 busca
consolidação em momento
de dificuldades para o arroz
.

 O Projeto Soja 6000, desenvolvido pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), chega à terceira safra buscando se consolidar em um momento de grandes dificuldades para o setor. Na última temporada, 61 áreas de validação aderiram ao projeto. Isso demonstra que a soja se estabelece como alternativa capaz de colaborar no sentido de melhorar as lavouras de arroz gaúchas.
Rodrigo Schoenfeld, pesquisador do Irga e coordenador do projeto, destaca que nos dois primeiros anos houve grande avanço na consolidação de conceitos que a pesquisa produziu, entre eles a época de semeadura, drenagem, camada de solo compactada e níveis de adubação.

Altos rendimentos têm sido obtidos com plantio entre 20 de outubro e 10 de novembro, mas para a soja ser semeada nesse período há cuidados que devem ser tomados: “A lavoura de arroz precisa estar resolvida, implantada. Não pode ter conflito de manejo entre as culturas”, enfatiza. Como a chance de ocorrência de chuvas de maior volume no final de outubro é grande, deve-se evitar áreas de risco de alagamento.

A drenagem, sem dúvida, é um dos limitantes para o avanço da soja em terras baixas. Para o produtor isso está claro e houve grande melhora no sistema de retirada de água da lavoura. Mas o problema nem sempre é este, e sim o entorno da área. Às vezes não há diferença de nível suficiente entre a lavoura e o dreno principal, eventualmente representado por arroios, rios ou lagoas. É o caso da Região Central gaúcha, onde, por causa do elevado nível de rios como Jacuí e Vacacaí, algumas áreas não conseguem dar vazão ao excesso de água, por melhor que seja a drenagem, diante de grandes volumes de chuva.

COMPACTAÇÃO
A camada compactada de solo existe na grande maioria das áreas de arroz cultivadas com soja e é um limitante para altos rendimentos, segundo o consultor do Irga Paulo Régis Ferreira da Silva, que também é professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Hoje, no estado, 60% das áreas cultivadas com arroz estão em cima de planossolos e gleissolos, que têm como característica de origem a presença de uma camada subsuperficial mais adensada. Além disso, pode haver a formação de uma camada compactada (pé-de-grade) pelo uso contínuo de implementos como grade e plaina, além do tráfego de máquinas. Boa parte da soja é cultivada nestes tipos de solo. “Esta camada tem que ser rompida, não há dúvida. O que estamos discutindo é qual a melhor maneira de fazê-lo, e isso depende muito da profundidade onde ela se encontra”, frisa Rodrigo Schoenfeld.

Entre os equipamentos que podem ser utilizados estão os subsolador, o escarificador, como o Fox, e mecanismos da própria semeadora, como o disco turbo e o sulcador. “Não podemos afirmar qual o melhor, pois isso vai depender muito da situação de cada lavoura, do tipo de solo e do nível tecnológico em que se encontra o produtor”, acrescenta Ferreira.

ADUBAÇÃO
Quando se trata de adubação, não há dúvida de que as quantidades de fertilizantes que eram usadas na soja em terras baixas estavam aquém do exigido para altas produtividades. Mas, segundo Ibanor Anghinoni, consultor do Irga e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), para poder adubar nas doses exigidas é necessário estabelecer bem a cultura, ter um bom estande de plantas. “Esse é um desafio que exige planejamento e manejo correto do solo, da época e da operação de plantio e demais intervenções do agricultor e do clima”, diz.
Com base nos resultados do projeto podem ser contabilizados avanços nas áreas de abertura de lavoura, que entram no primeiro ano de rotação com soja. Em geral, os níveis de fertilidade destas áreas são baixos, requerendo calagem e fósforo. “Nas experiências já realizadas, e mesmo em áreas comerciais, identificamos que o ideal é fazer a correção do solo, incorporando de zero a 20 centímetros de calcário e, principalmente, fósforo. Se isso não for feito serão necessários vários anos de cultivo até que seja corrigida a fertilidade no perfil de solo, o que representa custo e menor produtividade”, acrescenta Anghinoni.

FIQUE DE OLHO
Em relação aos resultados da última safra, o Projeto Soja 6000, do Irga, obteve os três melhores desempenhos com média de 94,6 sacos por hectare, e um deles superando os 100 sacos. Mas o mais importante é a média de suas lavouras comerciais: todas acima de 60 sacos de 60 quilos por hectare. “Se engana quem pensa que o Projeto Soja 6000 tem como objetivo produzir 100 sacos por hectare de soja. O projeto vai além disso, pois busca consolidar de maneira estável, sustentável e produtiva a cultura da oleaginosa em terras baixas, superando os obstáculos e limitações deste tipo de cultivo e viabilizando não apenas a rotação com o arroz e seus benefícios agronômicos, mas também uma alternativa de renda ao agricultor”, destaca.

Enraizamento e produção de nódulos são duas referências na qualidade da lavoura

Resultados do Projeto Soja 6000 em 2016/17
Um grupo de pesquisadores e consultores do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), entre eles os professores Enio Marchesan (UFSM), Ibanor Anghinoni (Ufrgs) e Paulo Regis Ferreira da Silva (Ufrgs), visitou os três produtores que obtiveram os melhores resultados e concluiu que os principais pontos que fazem com que esses agricultores tenham sucesso com a soja em suas áreas são os seguintes:

1 Planejamento e gestão – Datas, metas e acompanhamento
2 Capitalizados – Recursos e maquinário
3 Lavoura de arroz – “Resolvida” na implantação da soja
4 Recursos humanos – Motivados
5 Drenagem – O começo…
6 Camada compactada – Não tinham ou resolveram
7 Adubação e calagem – Quantidade,operacionalidade, “sistema”
8 Época de semeadura – Potencial x riscos
9 Cultivares – Potencial, morte de plantas, arquitetura
10 Plantabilidade – O diferencial, uniformidade
11 Controle fitossanitário – Domínio
12 Integração lavoura-pecuária – “Olhando o sistema”
13 Cada um tem que encontrar o seu jeito e o seu tamanho
Fonte: Irga

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter