La Niña começa a perder força a partir de janeiro
(Por Jossana Ceolin Cera, Agrometeorologista/Irga)
Condições meteorológicas ocorridas em novembro de 2022 no RS
Conforme previsto, novembro foi mês de precipitações com baixo volume no RS. A maior parte da Metade Sul do Estado ficou com chuvas muito baixas, entre 25 e 50 milímetros. A Metade Norte teve acumulados um pouco superiores, de 50 e 100mm (Figura 1A). Assim, todo o RS teve precipitação inferior à Normal Climatológica (NC) no mês (Figura 1B). Foi o quarto mês consecutivo de precipitações inferiores à média na Metade Sul. O impacto foi observado na emergência irregular de algumas lavouras de arroz e o menor desenvolvimento de plantas de soja em lavouras não irrigadas.
Figura 1. Mapa da precipitação acumulada (A) e da anomalia (B) em mm em novembro de 2022 no RS em relação à Normal Climatológica, relativa ao período 1991/20. As cores mostram acumulado (A) e anomalia de precipitação (B). Valores positivos (azul) representam precipitação acima da NC e negativos (laranja) abaixo da NC. (CPTEC/ INMET)
A frequência das chuvas foi baixa em novembro, com praticamente apenas dois episódios (Fig. 2). No início do mês houve a incursão de uma massa de ar polar, deixando as temperaturas baixas para a época.
No decorrer do mês houve aumento gradual na temperatura. A temperatura média ficou acima da NC na maior parte da Metade Sul.
Figura 2. Temperaturas do ar máxima e mínima diária (°C), respectivas Normais Climatológicas (°C) no período 1991-2020 (linhas pontilhadas) e precipitação pluvial diária (mm) referentes ao mês de novembro de 2022, em seis municípios da Metade Sul do RS, representativos das seis regiões arrozeiras do RS. Fonte de dados: INMET
Situação atual do fenômeno ENOS (El Niño – Oscilação Sul) e perspectivas
O resfriamento das águas do Oceano Pacífico Equatorial continuou ativo em novembro. A anomalia da temperatura da superfície do mar na região Niño 3.4 manteve-se em -0,9 °C em novembro e, na região Niño 1+2, em -1,4 °C (Figura 3). A temperatura da água na região Niño 1+2 possui grande correlação com as chuvas no RS. Quando as anomalias de temperatura são negativas, a tendência é de que haja diminuição nas chuvas por aqui, tendo relação com as estiagens entre a primavera e o verão.
De modo geral, em novembro o sistema acoplado oceano-atmosfera permaneceu consistente com a atuação da La Niña. No entanto, nas últimas três semanas, a região Niño 1+2 tem desintensificado as anomalias de temperatura, podendo ser o início do enfraquecimento da La Niña.
O relatório publicado pela NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), em 8 de dezembro de 2022, prevê com 50% de probabilidade, a manutenção da La Niña no trimestre Jan-Fev-Mar/2023 e, também, com 50% de probabilidade, de o período Neutro iniciar. Ou seja, poderá ser o trimestre da transição!
A área de águas no Oceano Atlântico com anomalias de temperatura acima da média aumentou. Águas mais aquecidas próximas à costa do RS durante o verão são um indicativo de que as precipitações possam melhorar a partir de janeiro de 2023.
Figura 3. Anomalia da temperatura (°C) da Superfície do Mar em novembro de 2022. O retângulo central na imagem mostra a região do Niño 3.4, a qual os centros internacionais utilizam para calcular o Índice Niño (índice que define a ocorrência de eventos de El Niño e La Niña). Já o retângulo menor mostra a região Niño 1+2, que modula a qualidade, ou seja, a regularidade de ocorrência de chuvas no RS. (CPTEC/INPE)
Nas águas subsuperficiais do Oceano Pacífico observa-se o grande bolsão de águas com anomalias negativas de temperatura, entre os meses de setembro a dezembro de 2022. A consistência deste resfriamento dará sustentação ao resfriamento em superfície para, ao menos, mais um ou dois meses. Porém, no último gráfico já se observa redução na área de águas com anomalias negativas (Figura 4).
Logo, este também é um indicativo de que a La Niña começará a perder força daqui por diante.
Figura 4. Anomalia da temperatura (°C) subsuperficial das águas na região Equatorial do Oceano Pacífico em relação à profundidade (de 0 a 300 m), entre os meses de setembro a dezembro de 2022. Pêntadas significam média de cinco dias consecutivos. Fonte: Adaptado de CPC/NCEP/NOAA
Previsão de precipitação no trimestre
janeiro, fevereiro e março de 2023 no RS
Para este trimestre, o IRI (International Research Institute for Climate Society) prevê precipitações dentro do normal no RS. O modelo CFSv2 (Climate Forecast System, da NOAA) indica chuvas acima da NC para janeiro, na média em fevereiro (menos Fronteira Oeste e Noroeste, onde ficariam abaixo) e dentro da NC para março. O INMET prevê janeiro e março com precipitações acima da NC no Sul do RS e na média ou abaixo nas demais regiões. Para fevereiro, prevê chuvas abaixo da NC em todo o Estado (Fig. 5).
Em cinco modelos, para janeiro, a maioria prevê precipitações próximas à NC ou acima. Já fevereiro, na maioria dos modelos as chuvas ficarão próximas à média ou abaixo. Para março, indicam precipitações próximas à NC no RS. A situação é de cautela. Não se sabe se as chuvas serão uniformes, temporal e espacialmente. Pode ocorrer, como em outros anos, de se concentrarem em algum período do mês.
Analisando-se a espacialidade da anomalia das precipitações nos últimos 10 meses de janeiro (2013 a 2022) na Metade Sul, observa-se que, em quatro deles, as chuvas ficaram entre e abaixo da NC e em outros seis, a anomalia ficou acima da NC. Isso dá um indicativo e a esperança de que as precipitações aumentem em janeiro de 2023.
Figura 5. Precipitação total (mm) e anomalia de precipitação (mm) previstas para janeiro, fevereiro e março de 2023 no RS. Fonte: adaptado de INMET.
Com relação à temperatura do ar, a previsão do modelo do INMET para o mês de janeiro é de que deverá ficar acima da NC na região da fronteira com o Uruguai e dentro da NC nas demais regiões. Para fevereiro, a previsão é de ocorrência de temperatura abaixo da NC no Sul do RS e dentro da NC nas demais regiões. Já para março, a previsão mostra temperaturas acima da NC para todo o RS.
A semeadura do arroz no RS na safra 2022/23 é considerada concluída pelo Irga, segundo dados divulgados em 15 de dezembro de 2022. A falta de regularidade nas precipitações gera apreensão para a garantia do pleno estabelecimento de algumas lavouras. Além disso, muitas lavouras já iniciaram o processo de entrada e manutenção da lâmina d’água nas áreas, o que demanda água dos reservatórios.
Para a soja, que é a principal cultura de sequeiro cultivada em rotação com arroz irrigado, a época ideal de semeadura foi no mês de novembro, sendo, também, necessária regularidade nas precipitações, para que não haja prejuízos no crescimento e no desenvolvimento das plantas e, por consequência, no potencial produtivo.
Para melhores tomadas de decisão de manejo das lavouras de arroz irrigado e das culturas de sequeiro em rotação, é importante que se faça o acompanhamento da previsão do tempo de sete a 15 dias, visando maior eficiência na execução das atividades programadas.