La Niña confirmada em terceira ocorrência consecutiva

 La Niña confirmada em  terceira ocorrência consecutiva

Figura 1. Anomalia da temperatura (°C) da superfície do mar no mês de outubro de 2022. O retângulo central na imagem mostra a região do Niño 3.4, a qual os centros internacionais utilizam para calcular o Índice Niño (índice que define a ocorrência de eventos de El Niño e La Niña). Já o retângulo menor mostra a região Niño 1+2, que modula a qualidade, ou seja, a regularidade de ocorrência de chuvas no RS. Fonte: adaptado de Cptec/Inpe.

Como apontavam as previsões, a safra 2022/23 está ocorrendo sob o efeito da La Niña. É a terceira, de forma consecutiva, depois das safras 2020/21 e 2021/22. Para se ter uma ideia do quanto isso é incomum, nos últimos 72 anos (1950/51-2022/23), essa é apenas a terceira vez com La Niña tripla.

Durante o mês de outubro de 2022, o resfriamento das águas no Oceano Pacífico equatorial se intensificou bastante, principalmente na região Niño 1+2 (Figura 1). A região Niño 1+2 tem relação forte com a frequência das chuvas no Rio Grande do Sul (RS). Quando essa região possui anomalias negativas, caso atual, há tendência de redução das chuvas no estado. Já quando as anomalias ficam positivas, a tendência é de aumento na frequência das chuvas. A região do Niño 3.4 também se encontra com anomalias negativas das águas, dando manutenção à La Niña nos próximos meses.

Segundo as previsões da Noaa (National Oceanic and Atmospheric Administration), a La Niña se manterá ativa até, pelo menos, o trimestre, Jan-Fev-Mar/23, com 60% de probabilidade. Já a fase neutra deverá surgir entre os trimestres Mar-Abr-Mai e Abr-Mai-Jun, com 70% de probabilidade (Figura 2).

Figura 2. Probabilidade (%) oficial no Enos (El Niño-Oscilação sul) para o índice da temperatura da superfície do mar na região Niño 3.4 (5°N-5°S, 120°W-170°W). Gráfico atualizado em 10 de novembro de 2022 pela Noaa (National Oceanic and Atmospheric Administration). Fonte: adaptado de IRI (International Research Institute for Climate Society)(Columbia University).

Com relação à precipitação, devido à La Niña, a maioria dos modelos prevê anomalias negativas, ou seja, déficit de chuvas para o RS. O diferencial está no fato de que alguns modelos indicam maiores volumes de chuva para o mês de janeiro de 2023. Ou seja, preveem que as precipitações poderão ficar entre a média climatológica ou acima da média. Em relação à safra passada, essa é a uma boa notícia para o agricultor gaúcho, que tanto sofreu com o déficit de chuvas, principalmente no mês de janeiro de 2022.

A tendência é de que as temperaturas fiquem mais próximas à média. Dias mais quentes irão acontecer devido à proximidade com o verão, mas dias com temperaturas mais amenas também não podem ser descartados. Com a La Niña atuando, as incursões de ar mais frio chegam mais facilmente ao RS.

Alguns produtores, principalmente os da metade oeste do RS, têm enfrentado algumas dificuldades e preocupação quanto à emergência e ao estabelecimento nas lavouras de arroz. Devido à falta de regularidade nas precipitações, tem faltado umidade no solo para garantir um estabelecimento adequado. Pela Tabela 1, consegue-se visualizar que, realmente, as precipitações ficaram bem abaixo do esperado nos últimos três meses, com exceção de Uruguaiana e Bagé em agosto.

Tabela 1. Déficit (%) de precipitação de cinco locais da metade sul do RS, representativos de cinco regiões orizícolas, nos meses de agosto, setembro e outubro de 2022. Esses locais possuem estação meteorológica e normal climatológica (período de referência é de 1991-2020).

Frente a essa perspectiva de irregularidade e déficit de precipitação para os meses de novembro e dezembro principalmente, os produtores devem manter-se atentos relativamente à manutenção da água nos reservatórios, visando a irrigação das lavouras de arroz e, também, das áreas de soja e milho em sistemas de rotação em terras baixas.

Jossana Ceolin Cera
Doutora em Engenharia Agrícola (UFSM)
Agrometeorologista do Irga

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