Lição histórica

 Lição histórica

Expectativa é de retomada das vendas se houver preços compatíveis

Apesar do saldo positivo, país deixou de posicionar-se no mercado externo do arroz

 

De janeiro a dezembro de 2021, a balança comercial brasileira apresentou positivo de 149 mil toneladas de arroz em base casca. O país exportou 1,153 milhão de toneladas e comprou 1.004,1 milhão de toneladas. Segundo a Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz), foram US$ 363,2 milhões em vendas e US$ 316,8 milhões em compras. Saldo: US$ 46,4 milhões.

Em volume, o resultado de 2021 foi inferior a 1,813 milhão de toneladas embarcados em 2020 pela demanda provocada pela pandemia da covid-19 e também foi inferior às vendas de 2019. Em parte porque os arrozeiros não quiseram vender entre US$ 16,00 a US$ 19,00 a saca de 50kg.

“Perdemos oportunidades porque o arrozeiro esperava uma valorização ainda maior do grão, que não se confirmou. Deixamos de exportar pelo menos 500 mil toneladas em 2021, cerca de 20 navios. E isso está fazendo diferença no estoque de passagem e nos preços. Espero, sinceramente, que essa lição tenha sido aprendida pela cadeia produtiva para o futuro e que esse erro não se repita”, comentou Gustavo Trevisan, diretor de assuntos internacionais da Abiarroz, responsável pela coordenação do projeto Brazilian Rice e ações promocionais do arroz brasileiro no exterior.

Problemas logísticos também afetaram a posição do Brasil no mercado externo. O custo do frete marítimo subiu até 700% no caso dos contêineres, afetando a competitividade brasileira, em especial na área do arroz branco. Diante disso, o Brasil passou a usar, de forma pioneira no mercado arrozeiro local, o sistema de breakbulk, ou seja, cargas embaladas em big bags no porão de navios. Em função do volume, no entanto, apenas quatro ou cinco grandes indústrias participam do modelo. Via contêiner, em alguns roteiros, o frete é mais caro do que o produto transportado.

Logística
A Abiarroz acredita que as dificuldades logísticas persistirão no primeiro semestre, mas projetou 2022 como promissor para o cereal no mercado global. “Teremos disponibilidade de matéria-prima, câmbio favorável às exportações”, enfatizou Gustavo Trevisan, da entidade.

Em 2021, o Peru passou a ser o principal destino dos embarques de arroz em 2021, ultrapassando a Venezuela. Outros destinos importantes foram Holanda, Senegal, Gâmbia, Cuba, Costa Rica, EUA, Serra Leoa, Nicarágua e México.

O que esperar do exterior em 2022

A expectativa da cadeia produtiva brasileira para as exportações em 2022 são boas, e o primeiro mês já trouxe um resultado inspirador. O país importou apenas 34,1 mil toneladas de arroz e exportou 142,1 mil, com saldo em janeiro de 108 mil toneladas. A questão, agora, é saber como se comportará o mercado no resto do ano.

“Terminamos 2021 com expectativa de bom desempenho das vendas na primeira metade de 2022 por causa da redução da safra norte-americana, encerrada em outubro, e a elevação dos preços deste país que é concorrente direto do Mercosul”, explicou Percio Greco, diretor da Rice Brazil.

“Se tivermos câmbio favorável, demanda e o produtor disposto a vender, consciente de que as exportações valorizam o arroz no mercado interno, poderemos alcançar um saldo positivo até o final do ano, em especial na janela de vendas do primeiro semestre”, observou.

A estimativa de quebra nas safras do Mercosul tende a valorizar as cotações brasileiras também na região.

“O fato é que somos um exportador de oportunidade, precisamos de preço para concorrer lá fora. Se tivermos preços pelo menos iguais ou pouco superiores aos Estados Unidos, por exemplo, teremos a preferência pela qualidade, mas não podemos deixar de vender quando existe a chance”, reconheceu Gustavo Trevisan.

RUMO AO MÉXICO
Uma das grandes esperanças depositadas pela cadeia produtiva do arroz está no México. O país da América do Norte importa pelo menos 850 mil toneladas de arroz por ano, 80% destas dos Estados Unidos.

Como a safra norte-americana caiu nesta temporada e a qualidade dos grãos ficou abaixo do esperado em termos de rendimento industrial, abriu-se a possibilidade dos mexicanos abrirem uma cota para compra no Brasil de 150 mil toneladas de arroz em casca isentas de taxas e da obrigação de expurgar as cargas com brometo de metila.

O produto é proibido no Brasil, mas o México não aceita fosfina, que as empresas brasileiras usam no controle de pragas.

Só que quando precisa de arroz, o México desconsidera essas regras e cria uma licença especial de compras no Brasil, o que seria o caso. No ano passado, os mexicanos permitiram a aquisição de 75 mil toneladas de arroz em casca do Brasil, mas só 32 mil foram efetivamente embarcadas.

Fique de olho
Há alguns anos, a equipe de política setorial do Irga divulgou um estudo no qual indicava que, na época, para cada 100 mil toneladas que o Brasil exportava de arroz, os preços internos subiam 50 centavos por saca. No caso das 500 mil toneladas terem sido exportadas em 2021, a média de preços teria se mantido, portanto, R$ 2,50 mais alta por saca, ou seja, praticamente meio dólar, somando 10 dólares por tonelada. Na conversão pelo menos, R$ 53,00.

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