Luz no fim do túnel

 Luz no fim do túnel

Analistas acreditam
em recuperação
dos preços do arroz
até a próxima safra.

São positivas as projeções dos analistas de mercado para os preços do arroz pagos ao produtor no Rio Grande do Sul nesta reta final da entressafra – de novembro/2011 a fevereiro/2012. O analista da Consultoria Safras & Mercado, Eduardo Aquiles, destaca que a trajetória de alta que ganhou força a partir de setembro se deve ao período de entressafra, no qual historicamente as cotações ganham fôlego pelo recuo da oferta do grão. Também cita a valorização, em determinado momento, dos preços internacionais, que incentivou o escoamento do excedente do Mercosul para fora do bloco.

Para Eduardo Aquiles, a reação dos preços do arroz em casca no Rio Grande do Sul também se deve em muito ao efeito das ações de apoio à comercialização desenvolvidas pelo governo federal. Entre elas, destaca o mecanismo de Prêmio para Escoamento de Produto (PEP), no qual o governo concede um bônus à agroindústria ou cooperativa que adquire o cereal, pelo preço mínimo, diretamente do produtor rural e o transporta para a região com necessidade de abastecimento, principalmente via exportações para outros continentes. “O PEP deu muito certo nos seis primeiros meses do ano comercial, garantindo um escoamento recorde”, destaca.

O analista considera que os mecanismos oficiais não tiveram sucesso imediato recuperando as cotações do arroz, quando lançados no final da safra, devido ao excesso da oferta de cereal no Brasil e nos países membros do Mercosul. Isso postergou a elevação dos preços. A dificuldade dos produtores, e em alguns casos das empresas, para acessarem os mecanismos, bem como a falta de armazéns credenciados disponíveis para receber produto da nova safra, também atrapalharam uma retomada nos preços.

Para Tiago Sarmento Barata, da Agrotendências Consultoria em Agronegócios, os mecanismos e exportações tiveram efeito heterogêneo no Rio Grande do Sul. Enquanto nas regiões de Pelotas e Camaquã, mais próximas do Porto de Rio Grande, os preços já superaram o preço mínimo, pois houve a maior pressão de compra para exportação, nas demais regiões arrozeiras as cotações demoram mais a reagir, porque não há demanda externa e há grande volume de produto armazenado, que depende do mercado doméstico que tem fluxo lento e previsão de ser pouco demandante para os próximos meses.

FUTURO

Para os meses restantes de 2011, o analista Eduardo Aquiles, da Safras & Mercado, espera que a cotação do arroz no mercado interno se mantenha em recuperação, principalmente se boa parte das 983 mil toneladas em contratos de opção for exercida. “Além disso, há a questão das exportações, que poderão contribuir ainda mais para alavancar a valorização dos preços do arroz brasileiro, podendo superar o preço mínimo no Rio Grande do Sul”, considera Eduardo Aquiles. Contudo, ele não acha que os preços vão muito além do mínimo em razão do “teto” estabelecido pelo mercado internacional.

Tiago Sarmento Barata também considera que uma valorização maior do produto também será barrada pelo preço referencial do mercado internacional. Uma alta mais significativa não só afetará a venda externa como poderá abrir as torneiras de entrada de arroz do Mercosul, que está represada em razão, também, dos preços no mercado nacional.

QUESTÃO BÁSICA

A recuperação dos preços se deve em grande parte às medidas adotadas pelo governo federal para enxugar os estoques de arroz. Ao longo deste ano, o governo gastou R$ 983,6 milhões em medidas de apoio à comercialização de arroz, num volume total de 2,981 milhões de toneladas, que correspondem a 22% da produção recorde de 13,613 milhões de toneladas registrada na safra 2010/11. O arroz absorveu 88% dos R$ 3,387 bilhões gastos pelo governo federal neste ano com a política de apoio à comercialização. Em segundo lugar está o trigo, com R$ 306 mil (9% do total).

Um olho lá fora

Apesar da euforia demonstrada por alguns analistas e segmentos da cadeia produtiva com o recorde de exportações registrado entre março e setembro, os próximos meses serão de cautela e muito esforço por parte das empresas que embarcam arroz para o comércio internacional. O analista da Agrotendências Consultoria em Agronegócios, Tiago Sarmento Barata, destaca que a valorização do arroz na zona exportadora está muito próxima do limite. “Pelos preços do início de novembro, a exportação está inviabilizada”, alerta.

Só terão condições de manter as vendas internacionais aqueles exportadores que ainda têm produto proveniente das operações de PEP. “Isso fará com que os preços sigam firmes, mas a escalada de valorização perca força, limitada pelo referencial de exportação e a paridade de importação. Nas demais regiões, as cotações devem ficar referenciadas pelo preço do arroz em Pelotas, menos o frete”, avisa Tiago Sarmento Barata. Ele entende, no entanto, que as cotações internas podem subir um pouco mais com uma eventual melhora dos preços no mercado internacional. “Nas regiões mais distantes do porto, isso dependerá do fôlego dos produtores e do suporte de mecanismos do governo, como PEP e leilões de recompra e repasse, para corrigir o enxugamento exagerado e abastecer os mercados nas regiões mais demandantes: zona sul e planície costeira interna”, alerta.

Eduardo Aquiles, da Safras & Mercado, considera que o mercado internacional influenciou a recuperação dos preços do arroz em alguns momentos pela valorização do cereal bancada pelos principais exportadores mundiais, puxando a cotação do grão no Mercosul e auxiliando nas exportações. O dólar mais valorizado em relação ao real nos dois últimos meses também favorece o escoamento dos excedentes do bloco para fora do Conesul, reduzindo a pressão sobre os preços no mercado brasileiro.

A preocupação do Brasil, Uruguai e Argentina é com a retração no volume total exportado pelo conjunto destes países para terceiros mercados. Pode ficar em 15% a queda frente ao ano passado, por conta da volta da Índia ao mercado e pelo fortalecimento das vendas do Vietnã, em ação muito competitiva neste segundo semestre. Por outro lado, a política de valorização interna dos preços na Tailândia, o maior exportador mundial, e as limitações de logística da Índia e do Paquistão podem fazer algumas traders voltarem os olhos para o cereal do Mercosul. 

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter